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Coluna Vitor Vogas

Entrevista (Majeski): “Como cidadão ou candidato a prefeito, participarei da eleição em Vitória”

Prestes a ficar sem mandato após oito anos de atuação destacada na Assembleia, professor de Geografia aponta as maiores lições políticas que aprendeu nesse período, as maiores conquistas do seu mandato, seus erros, acertos, frustrações, arrependimentos e seus planos profissionais e políticos de agora em diante. Leia o bate-papo com a coluna

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Sergio Majeski em sua sala de estar, decorada com muitas imagens de santos dos quais o deputado católico é devoto. Foto: Vitor Vogas

Prestes a ficar sem mandato nem cargo público após dois mandatos seguidos na Assembleia e oito anos intensos de dedicação à vida pública, Sergio Majeski (PSDB) pode ser considerado tranquilamente o deputado com atuação mais destacada no plenário do Legislativo estadual desde que ali chegou, em 2015. 

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De perfil combativo e independente, o professor de Geografia lutou por causas ligadas principalmente à educação pública, questionou e criticou regularmente as práticas da própria Mesa Diretora, de outras instituições (como o Ministério Público Estadual) e, notadamente, do Governo do Estado. 

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Mesmo filiado nesse tempo a partidos da situação (PSDB, PSB e de volta ao PSDB), foi uma bigorna no sapato do governo Paulo Hartung (2015-2018) e uma pedra menor, mas também muito incômoda, no da última administração Casagrande (2019-2022). 

Na manhã deste sábado (28), o deputado me recebeu em seu apartamento, no Centro de Vitória, e concedeu a entrevista publicada abaixo. 

Apontou as maiores lições que colheu nestes oito anos sobre o “sistema de poder” dominante em nosso país, as maiores conquistas do seu mandato, seus erros, acertos, frustrações, arrependimentos e seus planos profissionais e políticos de agora em diante.

Sobre o último ponto, ele avisa que, aos 56 anos, sua trajetória política está longe do fim da linha: quer participar ativamente da eleição municipal de Vitória no ano que vem, quiçá como candidato a prefeito. 

Nestes oito anos de vida pública, quais foram as maiores lições que o professor Majeski aprendeu sobre a Assembleia Legislativa e sobre a política brasileira?

Mais do que sobre a Assembleia e a política propriamente dita, o que eu mais aprendi foi sobre o sistema de poder no Brasil, incluindo todas as instituições: os três Poderes, o Ministério Público, o Tribunal de Contas etc. O que mais aprendi foi como funciona o sistema de poder nos subterrâneos. E isso me decepcionou muito, porque o sistema de poder no Brasil é pior do que eu imaginei.

Quem chega lá cheio de ideais e aspirações, querendo mudar por dentro esse sistema de poder, qual é o destino dessa pessoa? Podemos dizer que ou esse novo político é tragado pelo sistema ou acaba jogando a toalha?

Ou ele é tragado pela política ou ele vira alvo. No meu caso, virei alvo, principalmente pelo Ministério Público Estadual. Se esse político não concorda com esse sistema, se ele ousa criticar esse sistema, se ele ousa questionar esse sistema, ele está fadado a ser perseguido pelo sistema de poder de uma determinada forma. A minha maior lição nestes oito anos foi ter compreendido como o sistema de poder no Brasil é pior do que imaginei e o quanto vai ser duro mudar esse sistema de poder, porque uma grande parte da população, mesmo aquela que é mais esclarecida e acompanha um pouco mais a política, enxerga o sistema de poder na superfície, não consegue enxergá-lo em profundidade. Todo mundo aponta o dedo para os políticos. Isso está correto, porque de fato há muitas falhas. Mas falta ao povo entender o sistema de poder. Como deputado, eu faço coisas até os limites da minha função. A partir dali, eu não tenho mais poder para fazer. Por exemplo, se eu denuncio que uma escola está sendo fechada sem poder ser fechada e levo essa denúncia para o Ministério Público, a partir dali é com o Ministério Público e com o Judiciário.

O senhor acha que o próprio povo não está tão interessado em mudanças reais no sistema de poder? 

Eu creio que… E essa última eleição, sou muito sincero, me decepcionou muito, não só pelo fato de que não fui eleito, mas pela conjuntura. Quando você analisa caso a caso, as pessoas estão votando baseadas em quê? Elas estão votando pelo quê? A questão do radicalismo pesou muito. As pessoas votaram porque você estava com Lula ou com Bolsonaro, e não porque você era o melhor candidato.

Na eleição a deputado federal no ano passado, o seu nome era sempre citado no mercado político capixaba como um dos potenciais campeões de votos no Espírito Santo, mas o resultado ficou muito aquém das expectativas gerais: com pouco mais de 40 mil votos, o senhor não se elegeu. A que atribui esse resultado?

Não existe uma causa para explicar isso, mas várias. Uma das principais é o radicalismo das últimas eleições. Em 2018, parte das pessoas de esquerda que ainda estavam decepcionadas com a esquerda e parte das pessoas de direita que ainda não eram bolsonaristas radicais votaram em mim e até pediram votos para mim [para deputado estadual]. Com o recrudescimento do radicalismo e o retorno do Lula ao cenário, parte daquelas pessoas que votaram em mim em 2018 passaram a votar em candidatos lulopetistas ou bolsonaristas. E eu tive muito isso. Gente da esquerda dizendo “Olha, é um excelente deputado, mas o PSDB no fundo apoia Bolsonaro”. E gente da direita dizendo o contrário: “Olha, é um ótimo deputado, mas o PSDB no fundo está mais próximo do Lula”. Essa é uma questão.

O senhor ficou espremido no meio dessa radicalização entre os extremos ideológicos? 

Acho que ficou claro que o espaço ficou reduzido para quem está disposto a discutir política independentemente de radicalismos, distante das ideologias tanto de esquerda como de direita. Ao mesmo tempo, sobretudo no caso dos candidatos a deputado federal, tivemos uma grande quantidade de deputados eleitos que puderam usar a máquina ou de uma prefeitura, ou do Governo do Estado, ou das duas coisas ao mesmo tempo. E eu fiquei fora de tudo isso. Se você olhar os dez deputados federais eleitos no Espírito Santo, não estou dizendo que foram eleitos só por isso, mas em grande parte ou foram eleitos dentro dessa polarização ou foram eleitos usando máquina. Se sou um candidato apoiado por uma prefeitura grande, vou ter no mínimo 5 mil cabos eleitorais trabalhando para mim. Outra coisa curiosa: o cara que é radical de direita ou de esquerda normalmente é um eleitor militante: pede votos para seu candidato. Já o cara do “voto consciente”, do chamado “voto de opinião”, não é um eleitor militante: vota em você, mas não pede votos para você. Essa é uma questão também. E nós também falhamos um pouco em nossa campanha.

Nos seus oito anos de mandato na Assembleia, qual foi a sua maior conquista?

Minha maior conquista foi ter ficado oito anos na Assembleia sem abrir mão dos meus valores e da minha coerência, sem entrar naquele “toma lá, dá cá”, nos conchavos etc. Ter provado o equívoco da ideia de que todos que entram na política ficam iguais, acabam cedendo etc. Agora, se pensarmos em questões práticas, acho que nossa maior conquista foi a luta para garantir que o Governo do Estado realmente invista 25% da receita na educação, sem incluir nessa conta o pagamento de pensões e aposentadorias. Fui desqualificado por conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, fui desqualificado por gente do governo. E no final conseguimos provar que estávamos certos. Foi curioso, pois já tínhamos tentado isso aqui no Estado muitas vezes, junto ao MPES. Aí, em 2017, procuramos e provocamos a Procuradoria Geral da República, em Brasília. E na PGR foi tudo muito rápido. A partir da nossa provocação, a PGR ingressou com uma ação no STF. No final de 2020, saiu a decisão do STF, obrigando o Governo do Estado a aplicar os 25% na educação sem incluir no cálculo o pagamento de aposentados e pensionistas do magistério. Mesmo assim, até a decisão, R$ 6 bilhões que deveriam ter ido para a educação foram utilizados indevidamente. Foi por isso que em 2021 o governo Casagrande deu aquele aumento muito acima da média para o magistério, é por isso que agora está dando esses abonos: porque esse dinheiro voltou para a educação.

E a sua maior frustração? 

Como eu te falei, foi entender como o sistema de poder funciona e como é muito pior do que eu imaginava.

E qual foi o seu maior erro político nestes últimos oito anos?

Acho que foi ter ido para o PSB em 2018.

Por quê?

Porque acho que, se eu não tivesse ido para o PSB, é bem provável que hoje eu fosse senador da República ou prefeito de Vitória.

Respectivamente nas eleições de 2018 e 2020, certo?

É.

Na eleição da nova Mesa Diretora da Assembleia, é possível que tenhamos disputa entre duas chapas pela primeira vez em 20 anos. O senhor já não será deputado, portanto desta vez não vai votar, mas conhece bem Vandinho e Marcelo Santos. Que análise o senhor faz do processo? E, se pudesse votar, em qual dos dois votaria?

Como não voto, prefiro não responder isso. Se eu votasse, provavelmente responderia. Acho que se criou uma situação que não se via há muito tempo na Assembleia. E o governo vai ter que trabalhar de uma forma muito diplomática para apaziguar os ânimos. Passada essa eleição, o governo vai ter que trabalhar muito para unificar. No grau de fervura a que isso chegou, com essas declarações enfáticas de deputados como Ferraço e Hudson Leal, o governo depois vai ter um trabalho muito significativo e vai precisar de muita diplomacia para não ter problema daí em diante, porque senão pode ter problemas sérios com essa possível divisão da Assembleia.

E o seu futuro profissional? Agora sem mandato, o que está em seu horizonte?

Penso em várias coisas. Um dos meus propósitos é retomar minha vida acadêmica e fazer um doutorado, de preferência em Educação. E gostaria muito de voltar a trabalhar na área da educação.

Como professor?

Como professor ou de outra forma.

O senhor já tem algum convite?

O fato de eu ter sido deputado acaba atrapalhando. O Espírito Santo é uma província. Se eu estivesse em um estado maior, como São Paulo ou Minas, pelo conhecimento que tenho, pela minha capacidade, pela lisura do meu mandato e como discuti os problemas principalmente da educação, muito provavelmente eu já teria recebido muitos convites de ONGs, para ser conselheiro, para fazer o acompanhamento de políticas públicas ou algo nesse sentido. O problema é que, aqui no Espírito Santo, como é um estado muito pequeno, parece que a minha conduta não é interessante para muita gente. Mas tenho duas propostas que não necessariamente são na área da educação. Só não gostaria de divulgá-las.

O senhor gostaria de voltar a trabalhar em sala de aula, no ensino básico mesmo? 

Gostaria sim, no ensino médio. Ou no ensino superior. 

O senhor não tem mais vínculo com a rede municipal de Vitória? 

Não tenho, pedi exoneração há alguns anos. Eu ia me inscrever agora para ser DT [professor por designação temporária] do Estado, mas perdi a data. 

Então, por enquanto, seu futuro profissional está em aberto?

Está em aberto. Se souber de algum emprego, pode falar (risos).

E na política? Está nos seus planos se manter na vida pública?

Está.

O que exatamente?

Temos que tirar muitas lições dessa última eleição e deste momento político. Vem aí a eleição municipal [de 2024] e pretendo participar ativamente das eleições aqui em Vitória.

O senhor pretende ser candidato a prefeito de Vitória dessa vez?

Há essa possibilidade também. Seja como candidato a prefeito, seja como cidadão e eleitor, vou participar ativamente. E já tenho sido sondado por alguns partidos nesse sentido.

Para ser candidato a prefeito?

É.

O senhor vai sair do PSDB?

Não tenho essa intenção. O PSDB é um partido que precisa urgentemente se reestruturar. Sua bancada em nível federal se reduziu muito. Mas o partido teve três grandes vitórias nas eleições de 2022, ao eleger a Raquel Lyra em Pernambuco, o Eduardo Leite no Rio Grande do Sul e o Eduardo Riedel no Mato Grosso do Sul. Então o PSDB está num momento de dar uma revigorada, uma reformulada, sobretudo com a projeção do Eduardo Leite..

E aqui no Espírito Santo? O partido precisa se reestruturar? 

O Eduardo Leite só assume [a presidência nacional do partido] em fevereiro. Parece que, a partir daí, os estados e municípios vão acompanhar essa reestruturação. Precisamos entender o que o PSDB vai fazer. E eu gostaria de participar muito disso.

Da reestruturação partidária?

Da reestruturação partidária, da formulação de propostas… Acho que estamos carecendo disso. 

E o senhor acha que, ficando no PSDB, terá legenda para ser candidato a prefeito de Vitória?

É muito difícil eu falar que sim ou não porque nunca conversamos sobre isso. Imagino que agora, a partir deste momento em que acaba eleição da Mesa Diretora e começam os mandatos e tal, essas coisas passarão a ser discutidas. Mas não tenho garantia nenhuma de que o PSDB tenha essa intenção ou que fará isso.

De 0 a 10, que nota o professor Majeski daria para si mesmo como deputado nestes oito anos?

Ééééé… Nossa, isso é muito chato, você mesmo se dar nota (risos).

Vamos mudar a pergunta, então. O que é mais difícil? Encarar uma sala de aula ou o plenário da Assembleia Legislativa?

Não é o plenário. É muito mais difícil você encarar o sistema de poder. Perante o que é o sistema de poder, uma escola e uma sala de aula são praticamente uma sobremesa.