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Coluna Vitor Vogas

“Pega a visão”… e a presidência da Câmara de Vitória

O provável futuro presidente da Câmara Municipal de Vitória e o acordo de bastidores que levou a essa definição passando por Pazolini, Republicanos e PP

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Plenário da Câmara de Vitória. Foto: CMV

Plenário da Câmara de Vitória. Foto: CMV

Reza uma máxima política que, em qualquer disputa eleitoral, quem “queima a largada”, ou sai correndo muito à frente dos demais, dificilmente vencerá a prova. No meio do páreo, o corredor precipitado sofre com o inevitável desgaste. É o chamado “cavalo paraguaio”. Incapaz de manter até o fim o ritmo intenso do início, não consegue terminar a prova à frente. Em geral, acaba ultrapassado por um ou mais adversários que souberam se preservar, guardando o fôlego para arrancar na hora certa: a linha de chegada.

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Como toda regra, essa tem as suas exceções. E, ao que tudo indica, estamos diante de uma delas, quando se trata da definição da próxima Mesa Diretora da Câmara Municipal de Vitória (CMV). A eleição será realizada somente no dia 1º de janeiro. A esta altura, porém, com mais de dois meses de antecedência, o páreo já está definido. Reeleito para o segundo mandato, o vereador Anderson Goggi (PP) largou com rara antecipação – para muitos colegas, precipitando esse processo. Mas dessa vez, pelo jeito, vai dar mesmo o cavalo paraguaio.

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A menos que ocorra um fato muito incomum e surpreendente – algo como uma “explosão no hipódromo” –, o próximo presidente será mesmo Anderson Goggi. O vereador da Grande Maruípe e da Grande São Pedro, cujo bordão é “Pega a visão” – no plenário e em suas redes sociais –, vai pegar, a partir de janeiro, a vista privilegiada para a Baía de Vitória do oitavo andar do anexo da sede da CMV. É onde fica o gabinete da presidência.

Assim dizem vários vereadores eleitos ouvidos nesta nossa apuração. De calouros a veteranos, de representantes da esquerda à direita, quase todos confirmam o mesmo: o próximo presidente da Câmara será Goggi. A exceção é Davi Esmael (Republicanos), único a divergir da voz corrente, em conversa com a coluna, na última quinta-feira (24).

Ouvimos 14 dos 21 vereadores eleitos sobre o tema “sucessão da Mesa Diretora”, presidida, desde janeiro de 2023, por Leandro Piquet (PP). O delegado licenciado da Polícia Civil não disputou nenhum cargo nesta eleição municipal, logo encerra o mandato no fim do ano. Como não continuará na Câmara, não pode, por evidente, concorrer à reeleição. Isso abriu vácuo de poder e brecha para movimentações de interessados. Goggi foi bem rápido nas suas.

Tão logo foram totalizados os votos e proclamados os vereadores eleitos na noite de 6 de outubro, o parlamentar do Progressistas (PP) acelerou suas articulações, contatando e abordando os 20 futuros colegas de plenário sobre a eleição da próxima Mesa. Imediatamente passou a se apresentar como pré-candidato aos outros vereadores eleitos. Para se fortalecer nos bastidores, foi pessoalmente ao encontro de um por um, com uma “lista de apoio” em mãos, pedindo a cada um a assinatura como forma de endosso.

A esta altura, a lista de apoio a Goggi já foi assinada por quase todos os 21. À exceção de Davi, os 14 ouvidos por nós confirmaram já tê-la assinado, a pedido do vereador do PP. São vereadores dos mais variados matizes ideológicos, incluindo opositores e apoiadores do futuro governo de Lorenzo Pazolini (Republicanos), na próxima legislatura (2025-2028). Todos reconhecem que hoje Goggi está imbatível.

“Está desenhado para que seja o Goggi”, afirma André Brandino (Podemos). “Davi e Goggi se colocaram. Mas Davi já foi testado. É hora de dar oportunidade para outro E Goggi tem o meu apoio”, expressa Dalto Neves (Solidariedade). “A tendência, bem evoluída, é para que seja mesmo o Goggi. Todos assinaram a lista dele”, ratifica Luiz Paulo Amorim (PV). “É isso mesmo”, corrobora Maurício Leite (PRD). São todos vereadores veteranos.

A lista em si tem valor muito mais simbólico que qualquer outra coisa… Serve a Goggi como um calço político, pois o que vale mesmo é o registro da(s) chapa(s) para ocupar a Mesa, no dia 1º de janeiro, bem como a votação em plenário. Uma lista com as firmas dos colegas não é à prova de traição, mas ele pode usá-la justamente como “prova de infidelidade” caso um ou mais colegas mudem de ideia até a votação. Mas isso, repita-se, é muito improvável. A seguir explicamos por quê.

O acordo de Pazolini e do Republicanos com o PP

O que conta muito a favor de Goggi neste caso não é lista alguma, muito menos o fato de ele ter largado muito à frente dos demais (fator que, como dito no início, poderia até voltar-se contra ele). Negativo.

O que realmente pesa a seu favor é uma construção político-partidária realizada no andar superior, acima da cabeça dele ou de qualquer vereador, entre os caciques municipais do Republicanos e do PP, os dois alicerces da coligação que levou Pazolini à reeleição em 1º turno no último dia 6.

Mais precisamente, uma construção realizada dentro do gabinete de Pazolini, contando com a participação do prefeito, de Erick Musso (presidente estadual do Republicanos), de Cris Samorini (vice-prefeita eleita, pelo PP), de Josias da Vitória (presidente estadual do PP) e de Marcos Delmaestro (presidente municipal do PP).

A construção em questão foi feita diretamente no gabinete do prefeito, com vistas à sua permanência ali.

Tendo ingressado na base de apoio a Pazolini em 2023, o PP foi o parceiro eleitoral mais vital para fortalecer a coligação do prefeito e ajudá-lo a garantir a vitória no 1º turno, fornecendo-lhe muito mais recursos de campanha e tempo de propaganda de rádio e TV. A entrada do PP na base e na coligação de Pazolini, ninguém duvida, foi condição sine qua non para seu sucesso. Ele poderia ter vencido de qualquer modo, mas sem dúvida o apoio do PP facilitou esse triunfo…

Quando amarraram esse acordo lá atrás, em meados do ano passado, as duas partes sabiam disso. O Republicanos sabia da importância do PP, que por sua vez sabia do valor do seu passe na negociação. Por isso, em troca do apoio a Pazolini, o PP pediu caminho livre para ficar com a presidência da Câmara (ou mantê-la, como passou a ser o caso, já que Leandro Piquet migrou para o mesmo PP nos primeiros meses deste ano). Mais até que participação no secretariado de Pazolini em seu segundo mandato, essa foi a principal contrapartida pedida pelo PP ao Republicanos.

O prefeito e seu partido toparam. O acordo foi fechado nesses termos. Agora a fatura está sendo apresentada. E a conta política precisa ser paga. A presidência da Câmara no próximo biênio não é, precipuamente, de Goggi. É do PP. Mas, além do interesse pessoal, ele é quem melhor se adéqua à função neste momento entre os três vereadores eleitos pelo partido, até porque os outros dois, Camillo Neves e Mara Maroca, estão chegando agora para o primeiro mandato, enquanto Goggi está indo para o segundo.

Tanto o acordo foi feito como relatado acima que a própria bancada do Republicanos teve suas asinhas podadas, pelo próprio Pazolini, logo no primeiro impulso, tão logo os vereadores da sigla passaram a se movimentar.

Há 20 dias, logo após o anúncio do resultado oficial pelo TSE, Goggi deflagrou o processo sucessório, nos bastidores. Reagindo a esse primeiro movimento de Goggi, vereadores do Republicanos também manifestaram interesse em ocupar a presidência.

Assim como o PP, o partido de Pazolini elegeu três edis: os veteranos Luiz Emanuel e Davi Esmael (ambos na Casa desde 2013 e seguindo para o quarto mandato sucessivo) e o advogado Aylton Dadalto (novato eleito com uma votação expressiva). Os três, aliás, tiveram excelente desempenho eleitoral: Luiz foi o 7º mais votado (3.114), Davi o 3º (5.200) e Dadalto surpreendeu, atingindo a incrível marca de segundo mais votado (5.218) logo em sua primeira eleição.

Ao lado do PP, do PSB e da Federação Brasil da Esperança (PT/PV/PCdoB), o Republicanos terá a maior bancada na Casa a partir de janeiro. Munidos desses dois bons argumentos (o tamanho da bancada e a votação nominal de cada um), além obviamente do fato de se tratar do partido do prefeito, os três reagiram ao ato inaugural de Goggi, declarando, aos colegas e de público, que também queriam discutir a presidência. Luiz Emanuel chegou a dizer que o Republicanos tinha o direito de reivindicar o comando da próxima Mesa, pelos motivos expostos.

Foi aí que entrou em cena ninguém menos que o próprio Pazolini jogando um balde de água fria no ímpeto da própria bancada. Segundo relato de um dos players diretamente envolvidos, no último dia 17, o prefeito chamou ao seu gabinete os três eleitos pelo Republicanos, pondo um freio de arrumação no processo de sucessão da Mesa. Da conversa também participaram Erick Musso e Cris Samorini. A ordem de Pazolini, em outros termos, teria sido a seguinte:

“Amigos, deem uma segurada aí, porque isso aqui já tá combinado assim e assado, já tem este acordo assim e assado que precisa ser honrado, então agora essa questão será resolvida assim e assado”.

O acordo é a presidência para o PP. Ninguém da base aliada, muito menos do Republicanos, pode interferir nisso. Luiz Emanuel e Dadalto tiraram o time de campo. “A tendência muito grande é que seja, sim, o Goggi. Assinei a lista dele”, afirma o segundo. Luiz Emanuel também assinou.

Goggi, então, ficou com o caminho aberto. Se não houver explosão no hipódromo, vai pegar não só a visão, mas também o troféu de vencedor do grande prêmio.

Davi Esmael: “Não confirmo”

A única voz dissonante quanto à convergência em favor de Goggi é, hoje, a de Davi Esmael, presidente da Câmara no biênio passado (2021-2022). Segundo ele, o tema eleição da Mesa só será propriamente discutido entre vereadores e dirigentes partidários após o resultado do 2º turno da eleição para a Prefeitura da Serra, na noite deste domingo (27).

O Republicanos disputa o pleito, representado pelo deputado estadual Pablo Muribeca. Davi o apoia pessoalmente.

“Não confirmo [predefinição a favor de Goggi]. O Republicanos está 100% voltado para a eleição de Muribeca na Serra. Acreditamos na virada e estamos empenhados nisso. Comunicamos ao PP que só conversaremos sobre eleição da Mesa Diretora depois da eleição na Serra.”

Mas, além de uma questão de calendário, qual seria a interligação, ou a relação de interdependência, entre o desfecho da eleição à Prefeitura da Serra e a disputa interna pela presidência da Câmara de Vitória?

Sob anonimato, outro vereador canta a pedra. Se Muribeca perder para Weverson Meireles (PDT), Erick Musso se tornará secretário de Governo na próxima administração de Pazolini. Atuando diretamente em Vitória, será o fiador do acordo em prol do PP de Goggi na CMV, e de outros mais.

Mas, se der Muribeca na Serra, é possível que Erick acabe por se tornar membro do secretariado do prefeito do Republicanos na cidade vizinha, onde sua ajuda e atuação direta se façam talvez até mais necessárias… Aí não haverá um Erick para garantir pessoalmente, no dia a dia, a observância dos acordos políticos previamente selados em Vitória…

O que diz o próprio Goggi

Anderson Goggi confirma a pré-candidatura à presidência da CMV, mas nega que seja o candidato do governo Pazolini e que tenha participado de acordo algum com a prefeitura.

“Meu nome está à disposição, não a qualquer custo, para avaliação do colegiado. Não sou o candidato do prefeito Pazolini. Me considero o candidato da Casa. Se teve acordo, não participei dessa conversa, mesmo sendo vice-presidente do PP. O que existe é uma conversa buscando um ponto de equilíbrio, porque eu tenho um perfil de equilíbrio, mais de centro. A gente conversa com os que pensam diferente. Quando você tem um presidente que vai mais para um lado, você acaba travando algumas brigas, como vimos em outras legislaturas.”

Goggi não confirma ter passado aos colegas a mesma lista que muitos deles confirmam ter assinado. “O que existe é uma conversa com todos. Não considero nem como lista…”

Fica combinado, então: é uma “relação de nomes com as respectivas assinaturas”.

Como que se precavendo, o próprio Goggi verbaliza o receio de que se confirme o risco citado no primeiro parágrafo deste texto:

“De repente pode surgir algum nome que ainda não tenha surgido. Nem sempre quem larga na frente chega na frente. É mais fácil você se manter na liderança o campeonato todo ou chegar ao fim do campeonato na liderança?”, compara ele, citando como exemplo o Botafogo no Campeonato Brasileiro de futebol.

“Iniciaram essa conversa sobre Mesa Diretora muito cedo…”, admite o vereador, usando um sujeito indeterminado.

Darcio Bracarense: “Acabou antes de começar”

Um dos dez vereadores eleitos para o primeiro mandato em Vitória, Darcio Bracarense (PL) dá declarações bem diretas sobre o que de fato ocorreu: o acordo de bastidores relatado acima.

“Essa discussão está encerrada antes de ser iniciada. O que está ocorrendo agora não passa de jogo de cena, dissimulação e conversa fiada. O acordo feito antes da eleição está se confirmando. A cidade inteira sabe que o Republicanos fez uma aliança com o PP, que faz parte do governo Casagrande. A aliança do Casagrande com o Pazolini passa pelo PP. Dentro das construções feitas antes da eleição municipal, foi feito esse desenho de que o PP continuaria na presidência da Câmara”.

Bracarense confirma ter assinado a lista de Goggi. “Só pedi a ele para respeitar minha independência.”


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