Coluna Vitor Vogas
Assumção parte para cima de Pazolini na Assembleia: “Moleque!”
Pano de fundo foi um post eleitoral atribuído por Assumção à militância de Pazolini para minar a candidatura do deputado à Prefeitura de Vitória
O deputado Capitão Assumção (PL) usar a tribuna da Assembleia Legislativa para atacar adversários sem medir palavras não é propriamente um fato novo. A novidade dessa vez foi o alvo escolhido por ele. Não foi Renato Casagrande (PSB). Não foi o Lula (PT), nem o “Lule”, como ele costuma se referir pejorativamente ao presidente da República. Foi ninguém menos que Lorenzo Pazolini (Republicanos). Chamando-o reiteradamente de “moleque”, o deputado do PL partiu para cima do prefeito de Vitória, seu concorrente direto na eleição deste ano na Capital.
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O motivo do esbravejo de Assumção foi uma postagem em circulação nas redes sociais que, basicamente, sugere que o deputado do PL não deveria ser candidato a prefeito contra Pazolini, pois isso divide a “direita”, enquanto a “esquerda” se beneficia e até “já fez a pipoca” para se deleitar com essa briga entre candidatos do campo ideológico oposto. O post também sugere que Assumção deveria permanecer na Assembleia por ser “o único representante” da direita de Vitória no Legislativo Estadual.
Com uma foto do capitão da reserva da PMES e a hashtag “FicaAssumção”, o post diz literalmente: “Enquanto a esquerda de Vitória está nadando de braçada na Assembleia Legislativa do ES, a Direita Vitória está prestes a abrir mão do seu único representante pra tentar tirar a gestão da cidade da própria direita. A esquerda já fez a pipoca e sentou para ver o filme ‘Gladiadores’, produzido pelos Conservadores”.
Assumção atribuiu a Pazolini – ou melhor, à “militância paga com dinheiro do contribuinte” – a publicação feita com o nítido intuito de minar sua candidatura à prefeitura pelo PL.
“Esse é um exemplo da má política”, discursou o deputado, exibindo o referido post no painel do plenário da Assembleia, no fim da sessão da última quarta-feira (21), com um plenário já vazio. É o momento que Assumção costuma reservar para fazer os discursos mais na linha “ao ataque”, não raro com um plenário deserto, falando exclusivamente para as câmeras da TV Assembleia e para sua assessoria em busca daquele “corte”.
“Para mim, [Pazolini] é um moleque! Um cidadão que faz um negócio desses é um moleque, um desqualificado. O prefeito de Vitória quer impedir que um deputado estadual do PL possa participar do pleito eleitoral de 2024, coloca a sua militância sórdida e muito bem paga pra ficar fazendo essas postagens tentando dizer que eu devo permanecer no meu mandato. É uma tentativa sórdida! […] Vai ter um pleito municipal e as pessoas que quiserem participar que participem, e não fiquem inventando coisas!”, explodiu Assumção.
No arremate, o deputado advertiu diretamente ao prefeito: “[Está] usando os puxa-sacos bem pagos com o dinheiro do contribuinte para tentar tirar a candidatura bolsonarista em Vitória! Você falhou e vou continuar denunciando as suas hipocrisias!”
O deputado bolsonarista acusou o prefeito de estar “tentando surfar na onda conservadora para tentar ter mais um mandato”. “Nunca participou de um movimento conservador e nunca levantou a bandeira bolsonarista”, criticou.
Assumção ainda recordou que, na eleição municipal passada, em 2020, ele apoiou Pazolini contra João Coser (PT): “Optamos pela única opção, que era o ‘isentão’ Lorenzo Pazolini”. De fato, no 2º turno daquele pleito – mas beeeeem no finzinho do 2º turno, véspera da votação –, Assumção declarou publicamente apoio a Pazolini, após ter sido mal votado e derrotado no 1º turno.
No discurso feito da tribuna, Assumção ainda afirmou que, na eleição de 2018 (a mesma em que os dois chegaram à Assembleia), Pazolini precisou dos votos do PCdoB para se eleger.
Com efeito, naquela eleição estadual – a última em que ainda valeram coligações partidárias para o cargo de deputado –, o já extinto Partido Republicano Progressista (PRP), pelo qual Pazolini concorreu, formou coligação com o PCdoB. Pazolini, é preciso dizer, foi muito bem votado nominalmente. Mas é fato que seu então partido se coligou com os comunistas no primeiro passo de sua carreira política.
Recordar esse fato (confesso que nem eu me lembrava) foi uma forma de Assumção dizer que o prefeito teria “teto de vidro”: não poderia acusar ninguém, nem mesmo ele, de ter tido “ligações com a esquerda” no passado.
“Ligações passadas”
Sendo minimamente razoável, é preciso reconhecer que “evidência bem maior de ligações com a esquerda no passado” é ter sido deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) de Renato Casagrande, como de fato foi Assumção, de 2009 a 2010.
Também sendo minimamente razoável, em qualquer balança politicamente calibrada pelo próprio bolsonarismo, ter exercido mandato em Brasília por um partido “socialista” é muito mais “pesado” do que ter sido eleito por uma sigla nanica coligada, apenas coligada, com o PCdoB dez anos depois. Qual é o critério de “contaminação” nesse caso?
Essa é uma das reflexões suscitadas pelo discurso de Assumção contra Pazolini, mas não a única.
Vamos a elas!
O “bolsonarismo”
Por suas posições radicais, abertamente violentas, autoritárias e preconceituosas em uma série de questões fundamentais para o povo brasileiro, Jair Bolsonaro tornou-se a representação mais bem-acabada da extrema direita no país.
Foi para ele, reconhecendo-se nele, que os partidários da extrema direita, até então “escondidos” no país (mas não apenas eles), canalizaram suas esperanças e sua mobilização política. Esse é o Capitão Assumção, que está numa extrema direita ainda mais extrema que a de Jair Bolsonaro (imaginem o deputado na Presidência da República).
E quanto a Lorenzo Pazolini? Quem é o atual prefeito, do ponto de vista ideológico? Se dividirmos todo o espectro ideológico, simplificadamente, em apenas dois grandes campos, na dicotomia “direita versus esquerda”, bem, não cabe a menor dúvida de que Pazolini é um adversário de Assumção que habita o mesmo campo de “direita”. São os expoentes da “direita Vitória”.
Agora, se descermos às nuances, Pazolini está perfilado à esquerda de Assumção – até porque ninguém pode estar à direita de um político de extremíssima direita.
O que quero dizer é que Pazolini é inequivocamente um político de direita conservadora, mas não é um radical de direita como o deputado do PL.
Quanto a ser ou não “bolsonarista”, no sentido de apoiar expressamente Jair Bolsonaro e concordar com ele sempre, incondicionalmente, Pazolini de fato não é esse personagem político.
Ninguém tem a menor dúvida de quem recebeu o voto (não declarado) do prefeito na eleição presidencial de 2022. Mas é fato que Pazolini nunca declarou apoio a Bolsonaro e jamais se classificou como um “bolsonarista”, nem na eleição presidencial de 2022, nem (o que é mais importante) na condição de candidato a prefeito de Vitória em 2020.
Naquela eleição municipal, decidida em 2º turno contra João Coser (PT), Pazolini fugiu de todas as armadilhas e cascas de banana em entrevistas e debates, fazendo de tudo para não associar sua campanha à imagem e às ideias professadas pelo então presidente Bolsonaro.
Na humilde opinião deste escriba, foi uma estratégia inteligente: por que se reduzir a um “candidato bolsonarista”, limitando o seu alcance eleitoral, se isso poderia aumentar sua rejeição entre eleitores que sentem ojeriza por Jair Bolsonaro e se, num embate direto com um candidato petista, todos os votos bolsonaristas já iriam por osmose para ele?
Como prefeito, também é preciso registrar, Pazolini jamais definiu-se ou declarou-se um “político bolsonarista”, ainda que, em alguns aspectos, possa flertar bastante com o bolsonarismo.
O “conservadorismo”
Não vou entrar em considerações sobre o que de fato significa, conceitualmente, ser um “conservador” na política. Mas fica o registro de que Assumção, obviamente, trata o conceito como sinônimo de… “bolsonarismo”. Por essa “lógica”, quem não diz amém a tudo o que fala, faz e representa Jair Bolsonaro não pode ser considerado “conservador”, o que evidentemente é uma distorção grosseira do conceito.
Único “representante da direita”
Na bancada de Vitória na Assembleia, podemos citar tranquilamente os deputados Mazinho dos Anjos (PSDB) e Denninho Silva (União Brasil), este último aliado de Pazolini, como deputados de direita. A menos que de fato se queira tomar “paixão por Bolsonaro”, ou “fetiche por Bolsonaro”, como sinônimo de “ser de direita”.
Não custa nada perguntar…
Esse tipo de “treta aberta” entre candidatos de direita não é na verdade o que leva a esquerda a “fazer pipoca” para assistir e dar risada?!? Com quem eles estarão no 2º turno? Por acaso não unirão forças?!?
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