Coluna Vitor Vogas
Marcelo Santos, o TikToker, a dois “passinhos” do PSD
Presidente da Ales abre o jogo sobre a vontade de trocar o Podemos pelo PSD. Mas, para isso, precisa convencer Gilson Daniel a liberá-lo. Como o fará?
![](https://es360.com.br/wp-content/uploads/2023/09/Marcelo-Santos-4.jpeg)
Marcelo Santos quer ir para o PSD. Crédito: Assessoria do deputado
“Tá bem encaminhado, tá legal”, afirma o deputado Marcelo Santos (Podemos). Segundo o presidente da Assembleia, “as conversas estão muito avançadas”. O tema das conversas, no caso, é a construção da ida dele para o Partido Social Democrático (PSD), e o principal interlocutor é o presidente da sigla no Espírito Santo, o ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
“Tem evoluído. Tenho visitado as bases, os líderes do PSD com quem tenho relação. Estamos muito próximos, e o que está sendo discutido agora é como vai ficar a composição do PSD nos municípios do Espírito Santo”, diz o presidente do Legislativo Estadual.
Como ele mesmo já não esconde de ninguém, Marcelo quer expandir ainda mais sua influência política no Estado e se eleger deputado federal em 2026. Um passo importante nesse projeto, como ele também já não disfarça, é migrar para um partido no qual possa exercer uma influência maior do que exerce atualmente no Podemos, presidido no Espírito Santo pelo deputado federal Gilson Daniel. De preferência, um partido que ele possa ajudar a construir por dentro, se possível desde já, neste período preparatório para as próximas eleições municipais.
A ideia de Marcelo é levar com ele seu exército de aliados distribuídos por cidades da Grande Vitória e do interior do Estado, ajudando a eleger, por essa nova sigla, o maior número possível de prefeitos e vereadores, com vistas à própria campanha para federal dois anos depois. “Eu tenho interesse em ajudar a compor o partido nos municípios. Tenho uma base grande e aliados históricos.”
A estratégia se reverterá em seu próprio benefício em 2026, pois assim ele terá, nesse futuro partido, uma rede de prefeitos e vereadores comprometidos a trabalhar por ele, em prol de sua eleição para a Câmara Federal.
Hoje, o PSD é o partido de médio porte que oferece a Marcelo essa oportunidade, encaixando-se perfeitamente ao seu perfil e ao seu projeto. Renzo já lhe abriu as portas, inclusive em entrevista a este espaço publicada em agosto. Os dois estão se entendendo bem. Marcelo jura que não faz questão alguma de chegar ao PSD em posição de ascendência – afastando de pronto a hipótese de querer “tomar” o partido de Renzo. O que ele quer, de verdade, é espaço e autonomia para organizar sua própria base no PSD, transformando-o em seu bunker político.
“Na minha conversa com Renzo, não foi discutido cargo de comando no PSD. Recebi do próprio Renzo o convite para ir para o partido. Eu disse a ele que vejo com bons olhos, até porque respeito muito o PSD e o partido me representa, pois é um partido do diálogo e tem a minha posição ideológica, que é de centro-direita equilibrada.”
(Vamos descontar nesta análise a “posição ideológica” agora arrogada por Marcelo, pois, em mais de 20 anos de Assembleia distribuídos por seis mandatos seguidos, o deputado de Cariacica nunca teve nem se preocupou em ter de fato uma posição ideológica demarcada. Marcelo, aliás, não confirma ter votado nem em Lula nem em Bolsonaro para presidente no ano passado.)
Os dois “passinhos” que precisa dar o TikToker
Aparentemente, então, como afirmado no título da coluna, Marcelo se encontra “a dois passinhos do PSD”. Quais passos são esses, exatamente?
O primeiro é ir a Gilberto Kassab beijar-lhe a mão e receber a bênção da eminência nacional do PSD. Isso pode ocorrer brevemente, destaca o próprio Marcelo: “Possivelmente estaremos juntos em breve. Você tem que ter uma costura interna aqui para levar o bolo só para ir ao forno”, formula o costureiro/confeiteiro instalado na presidência da Assembleia. “Se ajustar em cima e não resolver embaixo, não adianta nada. Você precisa primeiro fazer o ajuste nas bases.”
O segundo “passinho” na verdade não cabe no diminutivo. É de longe o mais complicado e é dele que depende o êxito de toda a caminhada até ali. Se esse último e decisivo passo não for dado, nada feito. Marcelo precisa ser oficialmente liberado pela Justiça Eleitoral para trocar de partido sem perder o mandato na Assembleia.
Para isso, precisa antes convencer Gilson Daniel, de alguma maneira, a liberá-lo para sair sem mágoa, dando-lhe a carta de anuência/alforria para ele poder apresentar ao TRE-ES. Isso, é claro, se Marcelo quiser resolver tudo amigavelmente.
Se não chegar a um entendimento com Gilson, ele sempre terá a alternativa de entrar com ação de desfiliação por justa causa, alegando algum dos motivos acolhidos pela legislação eleitoral… mas qual? Marcelo acaso é perseguido e discriminado no Podemos? O partido porventura se desviou do seu programa? Nem mesmo a ideia de fusão com a Federação PSDB/Cidadania foi à frente…
Em outras palavras, se Gilson não liberar expressamente Marcelo, o plano deste pode ser interditado, ao menos no curto prazo. Restar-lhe-á esperar a próxima janela para deputados trocarem de sigla sem óbice legal, mas esta só se abrirá em março de 2026. E aí já era, foi-se embora o timing político. Com essa espera forçada, será frustrada a intenção de Marcelo de começar a montar sua própria base em seu próprio partido desde já, com o foco nas eleições municipais daqui a um ano.
Sem ser específico nem muito objetivo (pode estar ocultando a estratégia), Marcelo indica querer chegar a uma solução amigável com o presidente estadual do Podemos. “Meu diálogo com Gilson é o melhor possível. Não estou falando em deixar o partido agora. Me elegi lá. Se a ida para o PSD se concretizar, lá na frente posso sair tendo autorização, seja dentro do prazo legal ou não.”
Mas que jeito, então? Qual é o caminho? A resposta do chefe da Assembleia é no estilo “Jurassic Park” (“a natureza encontra um meio”): “Podemos encontrar o caminho. A política nos dá essa condição de conversar para encontrar um caminho”. É só trocar “natureza” por “política”.
“Primeiro preciso discutir a possibilidade de estar numa legenda ou não. Depois de exaurida essa discussão, posso bater esse papo com o Gilson”, emenda Marcelo, desconversando sobre uma possível ação na Justiça Eleitoral: “Não me passou pela cabeça”.
Será um pequeno passo para um TikToker, mas um grande passo para um deputado estadual que almeja eleger-se federal.
Enivaldo no PSD?!? Dá um F5!
Dentre os líderes estaduais do PSD visitados recentemente por Marcelo, ele cita Enivaldo dos Anjos, seu ex-colega na Assembleia. De fato, os dois estiveram juntos em Barra de São Francisco na semana passada, e o presidente do Poder Legislativo até fez o prefeito arriscar ao lado dele um passinho de TikToker (aquele mesmo: “desenrola, bate, joga de ladinho”), devidamente filmado e postado por Marcelo em suas redes na sexta à noite, cumprindo a própria tradição sexteira.
Acontece que Marcelo se equivocou quanto ao partido de Enivaldo. Desde o início da campanha eleitoral do ano passado, o prefeito já não está no PSD. Saiu por lealdade a Renato Casagrande (PSB), já que a agremiação lançou o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon ao Palácio Anchieta, em oposição ao governador.
Portanto, Marcelo pode até ter “modernizado” e “atualizado” Enivaldo em matéria de “passinhos” e de redes sociais… quanto ao CEP partidário do aliado, foi ele mesmo quem mostrou precisar se atualizar. Enivaldo continua sem partido, e o PSD em Barra de São Francisco está sem órgão diretivo no momento.
![](https://es360.com.br/wp-content/uploads/2019/06/logo-es360.png)