Coluna Vitor Vogas
Eleição no ES neste domingo será vitória maiúscula da direita moderada
Saiba quem deve vencer, ou tem chances reais de vencer, nas dez maiores cidades capixabas, na Grande Vitória e no interior. Ideologia passou longe…
A eleição municipal deste domingo (6) no Espírito Santo reserva uma vitória maiúscula da direita… mas não da direita bolsonarista – acampada hoje no Partido Liberal (PL). Será um grande triunfo da direita moderada: conservadora nos costumes, liberal na economia e avessa a radicalismos.
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Se tomarmos os 10 maiores municípios do Espírito Santo, sete verão, já neste domingo, a eleição de candidatos conservadores, por partidos de centro-direita ou de direita. Em comum, nenhum deles fez campanha pendurado em Jair Bolsonaro (PL), tentou “nacionalizar” o debate municipal, muito menos levou a disputa para a arena ideológica do “combate à esquerda” etc., como tentou, sem o menor sucesso, grande parte dos candidatos do PL no Estado. Nesses dez maiores municípios, o PL não elegerá ninguém.
Abaixo, considerando esse recorte das 10 cidades capixabas mais populosas, listamos os candidatos de direita que seguramente vencerão a eleição para prefeito nos respectivos municípios, ou os dois candidatos de direita que disputam a vitória nos seus – a julgar pelos números das pesquisas Quaest, Ipec e Futura publicadas na reta final da campanha pela Rede Gazeta e pela Rede Vitória, além de levantamentos da AtlasIntel e da Paraná Pesquisas:
. Vila Velha: Arnaldinho Borgo (Podemos)
. Cariacica: Euclério Sampaio (MDB)
. Cachoeiro de Itapemirim: Theodorico Ferraço (PP)
. Aracruz: Doutor Coutinho (PP)
. Linhares: Lucas Scaramussa (Podemos) ou Bruno Marianelli (Republicanos)
. Guarapari: Rodrigo Borges (Republicanos) ou Zé Preto (PP)
. São Mateus: Marcos da Cozivip (Podemos) ou Carlinhos Lyrio (Republicanos)
Vou repetir: todos os candidatos acima, “já eleitos” ou com chances reais de ganhar, são políticos de centro-direita ou direita. Muitos deles (se não todos) votaram em Bolsonaro, contra Lula (PT), em 2022. Nenhum deles fez campanha se declarando de “direita”, criticando a “esquerda”, enfim, fazendo esse tipo de debate nos respectivos municípios.
Há, ainda, três cidades que merecem considerações à parte, pois podem configurar exceções, dependendo dos resultados deste domingo.
Colatina
O município não tem 2º turno. A disputa está muito acirrada entre o atual prefeito, Guerino Balestrassi (MDB), e o ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos (PSD). Renzo está mais para centro-direita. Guerino é um político de centro, assim como o MDB, e tem raízes na centro-esquerda (PSB).
É importante destacar: nenhum dos dois fez campanha em Colatina falando de “direita”, “esquerda”, “centro” ou algo desse tipo. Assim como os demais, focaram-se nos temas da cidade.
Serra
Uma das quatro cidades capixabas passíveis de ter segundo turno, no dia 27 de outubro (ao lado de Vitória, Vila Velha e Cariacica), a Serra é a única em que podemos dizer que isso é uma certeza. Uma das vagas deve ficar com o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP). A segunda é disputada a foice por Weverson Meireles (PDT), candidato do prefeito Sergio Vidigal (PDT), e pelo deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos).
Muribeca se diz de direita. Discípulo de Vidigal e ex-presidente estadual do PDT, Weverson pode ser considerado, do ponto de vista partidário, um jovem político de centro-esquerda. Audifax, depois de perder a eleição para governador pela Rede em 2022, migrou para o PP e fez uma inflexão para a direita. Batista, declara-se conservador nos costumes, mas com valores também ligados à esquerda como homem público. Sempre militou por partidos no campo da esquerda (PT, PDT, PSB e Rede).
Importante frisar: nenhum dos três fez campanha focada nesse tipo de discussão na Serra.
Vitória
Na capital do Espírito Santo, três cenários podem se concretizar neste domingo, com base, sempre, no conjunto de pesquisas publicadas sobre a corrida eleitoral em Vitória. De qualquer maneira, o atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), será seguramente o mais votado.
a) Pazolini é reeleito no 1º turno, com mais de 50% dos votos válidos;
b) Pazolini não atinge 50% dos válidos a vai para o 2º turno contra João Coser (PT), o segundo colocado;
c) Pazolini não atinge 50% dos válidos a vai para o 2º turno contra Luiz Paulo (PSDB), o segundo colocado.
Pazolini é um político declaradamente de direita, representante do conservadorismo nos costumes (vide sua proximidade pregressa com Damares Alves) e do liberalismo econômico (vide a influência de Aridelmo Teixeira, do Novo, em seu governo). Mas jamais se declarou bolsonarista, nem declarou voto em Bolsonaro em 2022. Seja como prefeito, seja como candidato a prefeito (tanto em 2020 como em 2024), o delegado licenciado passou bem longe desse tipo de discussão ideológica.
Luiz Paulo já foi chamado por mim, em coluna anterior, num gracejo, de o “último dos moi-tucanos” no Espírito Santo. É um exemplar raro, de uma espécie em extinção: um autêntico social-democrata, genuíno representante do “PSDB raiz”: defende o desenvolvimento social e o combate a desigualdades, com abertura à economia de mercado.
A questão então, para posicionar Luiz Paulo, é: o que se tornou o PSDB no Brasil? Fundado em 1988 como uma dissidência do MDB, o partido começou lá na centro-esquerda… Hoje em dia, em crise identitária, foi parar na centro-direita. Na falta de definição melhor, vamos lá: Luiz Paulo é um candidato do centro, progressista e democrático.
Quanto a João Coser, seus 44 anos de PT, partido que ajudou a fundar no Espírito Santo, não dão lugar a dúvida. O petista é, histórica e genuinamente, um político de esquerda. Não escondeu isso de modo algum na campanha. Aliás, exibiu orgulhosamente sua amizade com Lula e gravações do presidente pedindo votos para ele.
Mas, para quem acha que só existe uma “esquerda”, ou mesmo que só existe um PT, cabe uma ponderação: dentro das várias correntes internas que compõem esse complexo partido, João Coser representa uma ala que está mais próxima do centro (vide sua proximidade histórica com Paulo Hartung e Renato Casagrande).
João é, pessoalmente, um político muito mais de centro-esquerda, quase um político de centro, muito longe de poder ser tachado como “socialista”, muito menos “comunista” e bobagens afins. Há até quem ache que Luiz Paulo, embora no PSDB, tem visão mais “progressista” que João.
De todo modo, o que mais vale frisar aqui é o seguinte: nenhum deles, absolutamente nenhum deles, nem Pazolini nem João nem Luiz Paulo, trouxe para a campanha municipal essa estéril discussão de “direita versus esquerda”. Os temas predominantes também foram, essencialmente, aqueles concernentes à cidade que desejam governar.
Conclusão
Se Guerino se reeleger em Colatina, Weverson for ao 2º turno na Serra e Coser ou Luiz Paulo for ao 2º turno em Vitória, poderemos até ter políticos do centro para a esquerda à frente de alguma das dez maiores cidades capixabas.
Do contrário, a direita moderada terá elegido dez de dez prefeitos possíveis nas dez maiores cidades capixabas. Será um verdadeiro strike.
Sete de dez, pelo menos, essa direita mais moderada elegerá neste domingo. Já é, como dissemos no início, uma vitória maiúscula no Espírito Santo.
Porém, é preciso considerar o seguinte: “vitória da direita moderada” pressupõe uma ação coordenada de um grupo ou campo político coeso, o que definitivamente não é o caso. Prova disso é o próprio fato, devidamente realçado acima, de nenhum dos potenciais prefeitos ter feito campanha focada nessa dicotomia “direita x esquerda”.
Muito mais que tentar apontar aqui o virtual sucesso de um “movimento político-ideológico”, o que estamos querendo destacar é uma “inclinação ideológica”, quiçá até na dimensão do “inconsciente coletivo”: certa tendência do eleitorado capixaba em preferir políticos desse matiz.
A eleição de um grande número de políticos da direita moderada é uma constatação focada nos resultados, mas, de maneira alguma, um projeto consciente e coordenado.
“Empreendedorismo político”
Quem elabora essa análise com muito mais propriedade é o cientista político Fernando Pignaton, colaborador da coluna:
“O que definiu essa eleição não foi a polarização política, no Espírito Santo como um todo, e sim o ancoramento que cada candidato tinha na história, o que prestou de serviços e compromisso pessoal, ou seja, a força da política local, a força da autonomia histórica que os municípios têm neste país”, explica o professor.
“Imaginava-se, no início deste ano, que haveria uma polarização que ia orientar as eleições municipais. Isso não aconteceu. O eleitor capixaba votará de maneira pragmática, e a maioria dos prefeitos terá um viés mais conservador de centro-direita”, constata Pignaton.
Segundo o professor, a extrema-direita (incubada no PL) e o PT ficaram isolados no processo eleitoral no Espírito Santo. Na disputa por prefeituras dos 78 municípios capixabas, tanto o partido de Bolsonaro como o de Lula tendem a acumular resultados muito ruins nas urnas amanhã.
Todavia, segundo Pignaton, é necessário separar os dois casos: no PT, esse resultado já estava mais ou menos precificado, enquanto no PL será uma grande decepção, em função das estratégias traçadas em nível nacional, com vistas às eleições presidenciais de 2026.
“O bolsonarismo apostou fundamentalmente no enraizamento do movimento de direita nas eleições municipais, o que não aconteceu. O PT não apostou nesse enraizamento, ao contrário. O PT, país afora – prova disso são Rio e São Paulo –, teve uma estratégia de conviver com os aliados, priorizando a próxima eleição nacional e a reeleição do Lula em 2026. Ou seja, o PT não priorizou a vitória em governos municipais, então transigiu nos municípios mais importantes, para já mostrar aos aliados que quer uma frente ampla em 2026. Portanto, a formulação do PT é diferente da formulação do PL. O PT já entrou nestas eleições municipais preparando uma aliança para as próximas eleições presidenciais. Nas próximas eleições, o PT vai apoiar no país um monte de senadores de centro-direita, que sejam a favor da democracia. Então, a meu ver, estas eleições municipais não contabilizam uma grande derrota para o PT”, formula Pignaton.
“Os dois polos não conseguiram, de maneira alguma, impor a polarização nos municípios. Mas há uma diferença importante: o PT não estava tão interessado nisso. Já o PL estava interessado. A aposta do PL foi em enraizar o partido em municípios do Brasil inteiro, inclusive aqui. A do PT, não. O PT pensou: ‘Vamos nos preparar para perder isto aqui e começar a construir nossas alianças para a próxima eleição para presidente’”, explica o cientista político.
Sobre o virtual triunfo de muitos prefeitos da direita conservadora no Espírito Santo, o professor destaca que isso diz muito mais sobre o pragmatismo dos vencedores do que, propriamente, sobre um projeto político-ideológico coeso:
“Muitos desses eleitos da direita conservadora são mais ou menos como o Centrão no Congresso. O que orienta as movimentações da maioria desses eleitos é o pragmatismo, ou aquilo que costumo chamar de ‘empreendedorismo político’, tanto que muitos deles, mesmo sendo de centro-direita, fizeram nas suas cidades alianças com a esquerda, representada pelo PSB do governador Renato Casagrande. Então, o político está preocupado com a carreira dele, se adapta e articula uma candidatura viável em sua cidade, juntando com o carisma dele e o que ele já fez de serviços prestados pela cidade”, conclui Pignaton.
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