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Coluna Vitor Vogas

Eleição em Vitória: Luciano pode ser a carta na manga de Casagrande

Remota até pouco tempo, possibilidade ganha mais consistência a cada dia na visão de aliados palacianos que comungam do objetivo de vencer Pazolini

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Renato Casagrande e Luciano Rezende no gabinete do primeiro no Palácio Anchieta (03/01/2024). Foto: Reprodução Facebook

Renato Casagrande e Luciano Rezende no gabinete do primeiro no Palácio Anchieta (03/01/2024). Foto: Reprodução Facebook

Nos círculos da grande coalizão liderada por Renato Casagrande (PSB), é crescente a avaliação de que o ex-prefeito Luciano Rezende (Cidadania) pode ser a carta guardada, muito bem guardada, na manga do governador para atingir o objetivo maior dele mesmo e do seu grupo político no pleito deste ano: derrotar Lorenzo Pazolini (Republicanos) no jogo eleitoral em Vitória.

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Vista como remota até pouco tempo atrás, essa possibilidade ganha mais consistência a cada dia na visão de aliados palacianos que comungam do objetivo de vencer o atual prefeito. Deixou de ser uma “viagem” para se tornar simplesmente plausível.

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Luciano não precisa ser candidato, não faz questão de ser candidato, não se movimenta para ser candidato e, definitivamente, não será candidato a todo custo… mas topa ser candidato, segundo interlocutores, se houver um “alinhamento dos astros”, isto é, uma conjugação perfeita de fatores que concorram para isso, incluindo o apoio do Palácio Anchieta e de um conjunto de forças aliadas a Casagrande (chegaremos lá).

A premissa nº 1 é esta: para tirar Pazolini da cadeira, o Palácio Anchieta não medirá esforços, o que significa ir à luta com força máxima em todas as frentes de combate. Pelo flanco esquerdo, a coalizão de Casagrande será representada pela candidatura de João Coser (PT). É pouco e, possivelmente, insuficiente para derrotar Pazolini. Casagrande e casagrandistas entendem ser fundamental o lançamento de outra candidatura aliada que lidere uma frente de batalha posicionada ao centro.

Essa “frente aliada de centro” já está em formação há meses, reunindo sete forças políticas integradas ao exército de Casagrande: o PSB, o PSD, o MDB, o União Brasil, o Podemos e a federação composta por PSDB e Cidadania (a sigla de Luciano). De saída, nesse agrupamento de partidos que vão da centro-esquerda à centro-direita, há nada menos que quatro possíveis candidatos à Prefeitura de Vitória: os deputados estaduais Tyago Hoffmann (PSB) e Gandini (PSD), a atual vice-prefeita, Capitã Estéfane (Podemos), e o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB).

Estéfane não tem chance de vingar. Gandini sempre tem o nome lembrado, mas não é pré-candidato para valer, não fez nenhum movimento para isso e, a bem da verdade, jamais confirmou essa condição. Tyago Hoffmann, o mais ligado a Casagrande, até se movimenta um pouco, mas de maneira bem discreta. Do quarteto, quem mais se movimenta para viabilizar candidatura é, disparadamente, Luiz Paulo.

Prefeito por dois mandatos, de 1997 a 2004, o tucano já entregou o cargo que tinha no governo Casagrande, já contratou agência de marketing político, já está preparando material e já lançou sua pré-candidatura, no início deste mês, em evento no plenário da Assembleia, com direito à presença do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

Ele quer ser candidato como nunca desde sua última campanha a prefeito (em 2012, perdendo para o próprio Luciano).

Naturalmente, sob a lógica da união de forças, a estratégia consensual dos líderes dessa “frente de centro” é que todos se unifiquem em torno de uma só candidatura. “Aí tem jogo: o candidato do grupo terá de 3 a 4 minutos por bloco de 10 minutos no horário eleitoral. Terá viabilidade e chance de ir para o 2º turno”, projeta um desses líderes.

Hoje, podemos tranquilamente dizer que o favorito ao posto de candidato dessa frente é Luiz Paulo.

É aí que entra Luciano, ou melhor, a hipótese de lançamento de Luciano, no lugar de Luiz Paulo, como o capitão dessa tropa.

Os pontos a favor de Luciano

Veladamente, integrantes de partidos aliados ao PSDB nessa frente de centro hoje nutrem certa desconfiança em relação a Luiz Paulo. Para ser mais preciso, pairam dúvidas em relação à competitividade do ex-prefeito.

Todos trabalharão até o período das convenções partidárias (de 20 de julho a 5 de agosto) com um olho no pulso das ruas e o outro em pesquisas eleitorais. Se Luiz Paulo não deslanchar nas sondagens e Luciano se provar mais viável, há quem aposte que o governador pode mesmo lançar mão dessa carta guardada para ser usada em caso de necessidade.

O que é “caso de necessidade”? É o Palácio Anchieta chegar em meados de julho e se descobrir de repente sem nenhum candidato de centro verdadeiramente capaz de fazer frente a Pazolini: nem Gandini, nem Hoffmann, nem Luiz Paulo…

Na percepção de alguns soldados vinculados a essa tropa – ouvidos sob condição de anonimato –, Luciano é o candidato mais competitivo que esse rol de partidos tem hoje a oferecer ao eleitorado; o que tem mais condições de enfrentar e derrotar Pazolini. Isso embora seja, paradoxalmente, o que está mais sumidão, caladão e paradão nos últimos tempos. Mas também isso pode contar a seu favor: com o longo mergulho que deu, sua imagem ficou preservada.

Se não foi um fenômeno de aprovação e popularidade, Luciano tampouco saiu mal avaliado da prefeitura, após oito anos de governo (2013-2020). Tirou um ano sabático que se prolongou por um quase quadriênio. Afora encontros periódicos no Palácio Anchieta com aquele que segue sendo seu maior aliado, manteve-se inerte esse tempo todo em termos políticos.

Dedicou-se a atividades acadêmicas e ligadas à sua área de especialização: a medicina esportiva. Campeão de remo na juventude, de vez em quando ainda vai remar de madrugada com os mais jovens na Baía de Vitória, para não perder o jeito. Continua exercitando atividades partidárias. É membro titular do Diretório Nacional do Cidadania e presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira, o órgão de formação política do partido.

Luciano possui recall político. Aliás, possivelmente, tem recall maior que o de Luiz Paulo. Sua administração está bem mais fresca na “memória coletiva da cidade” que a do tucano. Luciano deixou a prefeitura há menos de quatro anos; Luiz Paulo, há 20. Pessoas com menos de 40 anos não têm viva na lembrança a passagem do tucano pelo cargo.

O líder do Cidadania deixou muita coisa para ser concluída. Como é o antecessor imediato de Pazolini, uma campanha sua contra o atual prefeito poderia virar uma comparação de governos, até porque a gestão Pazolini, na visão de críticos, não criou muita coisa: foi uma gestão praticamente de continuidade ao que Luciano havia iniciado.

Luciano é bom de debate e, como Pazolini, cresce no embate, no enfrentamento direto. É talhado, portanto, para enfrentar um oponente com o estilo do atual prefeito.

Há, ainda, um cálculo de fundo ideológico:

Se Luciano for para o 2º turno contra Pazolini, ele conserva os votos de centro e automaticamente suga os votos da esquerda dados para João Coser no 1º turno. Potencialmente, acumula os votos da extrema-esquerda ao centro. Para derrotar Pazolini, os eleitores de Coser não hesitarão em seguir com Luciano (nem o PT, aliás).

Já num 2º turno entre Coser e Pazolini, o teto do petista pode ser mais baixo. Os votos da esquerda serão naturalmente retidos por ele, mas não é tão seguro que ele consiga atrair os votos dos eleitores de centro; estes podem se dividir, indo em parte para Pazolini, numa repetição do 2º turno da eleição passada – o que, diga-se de passagem, seria o melhor dos mundos para o atual prefeito.

Esses são os prós. Vamos aos contras

Os mesmos atores que reputam Luciano como o nome mais competitivo do grupo também avaliam que ele é, simultaneamente, o que menos agrega na política. “Ele está muito isolado, não faz o dever de casa, não conversa com ninguém… Quer dizer, conversa com o Renato [Casagrande]. Ele até tem desejo de ser candidato, mas se o Renato resolver tudo pra ele. Se todo mundo topar carregar o Luciano, ele topa ir… e hoje é muito difícil isso”, afirma um deles.

Outro ponto é que o Cidadania está, desde 2022, na federação com o PSDB, na qual esse último, por ter bem maior porte, também tem maior poder de decisão. Para Luciano vir a ser candidato a prefeito, o primeiro ponto é que Luiz Paulo terá de topar abrir mão de sua pré-candidatura em benefício dele… e, ao menos hoje, é muito difícil que isso ocorra – para não dizer impossível.

Ao contrário de Luciano, que está jogando parado, Luiz Paulo tem feito movimentos intensos e explícitos, trabalha desde o ano passado na construção da sua candidatura.

O tucano já abdicou uma vez em favor de Luciano. Após perder para o próprio em uma renhida disputa em 2012, Luiz Paulo renunciou à pré-candidatura a prefeito perto do começo oficial da campanha e declarou apoio a Luciano em 2016 (em movimento decisivo para a reeleição do então prefeito).

Depois, em 2020, após obter na Justiça uma liminar que o habilitou a disputar o pleito, Luiz Paulo não conseguiu legenda do próprio PSDB, que concorreu à prefeitura com a então vereadora Neuzinha de Oliveira. Agora, o tucano dá a entender que entende ser chegada novamente a sua vez.

Desde 2016, a relação política entre ele e Luciano é boa. Luiz Paulo até teve uma breve passagem pelo Cidadania, pelo qual foi candidato a deputado federal em 2018. Os dois apoiaram Casagrande em 2018 e 2022.

Um timoneiro e todos remando juntos

Luciano não vai para essa disputa se for uma prova individual. Tem que ser uma bateria com oito remadores, tendo ele como timoneiro e todo mundo propulsionando o barco: o Palácio Anchieta, o PSB, o MDB, o PSD, o União, o Podemos, o PSDB e o Cidadania. Embarcará nessa disputa se (e apenas se) for o candidato desse grupo, com apoio integral do Governo do Estado e dos partidos alinhados.

Por ora ele está na dele, só observando o desenrolar do cenário, principalmente dentro dessa frente. Como Romário no auge, está “fingindo-se de morto” dentro da grande área, para enganar os marcadores e finalizar na hora certa. Não tem por que se lançar agora. Não seria muito inteligente, até porque tem gente na sua frente na fila, e ele não pode acotovelar parceiros.

Luciano pode estar esperando apenas o momento certo para (re)aparecer, mas só vai mesmo voltar à cena política se isso se provar necessário e se a conjuntura lhe estiver perfeitamente favorável… senão ele segue a vida.

Importante para o Cidadania

Desde 2022, o Cidadania (antigo PPS) faz parte de uma federação com o PSDB, sigla bem maior e, portanto, muito mais influente nas decisões internas. Aos poucos, o Cidadania tem virado um satélite do PSDB e a tendência é que a federação seja o passo preliminar para uma futura fusão.

No Espírito Santo, o Cidadania está se desmanchando a olhos vistos desde o fim dos mandatos de Luciano em Vitória e de Juninho em Cariacica, em 2020. Um a um, perdeu todos os seus principais líderes e mandatários no Estado. Restou Luciano.

Também por isso, ele naturalmente será incentivado pela direção nacional a assumir candidatura em Vitória. Para o Cidadania, isso seria muito importante, até por uma questão de sobrevivência política no Estado. Se ele não for candidato, o partido já pode pensar em fechar as portas no Espírito Santo, e “o último a sair apague a luz”.

Palavras de um interlocutor de Luciano (sob anonimato)

Luciano sabe que não precisa vir. Ele é aquele jogador que encerrou a carreira em time grande, não foi jogar em time pequeno. Ele não tem por que manchar a boa imagem que deixou, de um político vitorioso, entrando numa campanha só por entrar, porque “o grupo não tem candidato”. Não. Ele não vai para uma guerra se ele não tiver boas chances de vencer.

Além disso, uma campanha contra a máquina é sempre muito difícil, e é preciso lembrar que Vitória historicamente nunca deixou de eleger um prefeito. É o oposto de Vila Velha nesse aspecto.

Por outro lado, também é fato: até o momento, não estamos percebendo nessa frente ampla alguém realmente competitivo. Vejo Luiz Paulo se movimentando muito, mas remando numa maré contrária: rema muito, mas avança pouco.

Luciano virá se houver um clamor, um incentivo, se pedirem a ele para vir. Tem de haver uma conjuntura muito favorável a ele. Essa “conjuntura favorável” seria esse bloco topar fazer uma aliança com ele para que ele seja o candidato de todas essas forças e, acima de tudo, do governo Casagrande. Ele não virá candidato a qualquer custo. Virá se ele for realmente a cabeça desse conjunto de forças, empurrado por todo mundo.


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