Coluna Vitor Vogas
Depois do intervalo, Ted Conti quer ser prefeito de Guarapari
Ex-deputado federal e aliado de Renato Casagrande, jornalista revela o próximo passo que planeja dar na vida pública. Ele explica as suas motivações

Ted Conti. Crédito: Danielli Saquetto
Após um começo promissor na política em 2018, pouco mais de três anos de mandato como deputado federal e um resultado eleitoral decepcionante em 2022, o jornalista Ted Conti já definiu seu próximo passo: vai buscar se viabilizar para disputar no ano que vem o cargo de prefeito de Guarapari, cidade onde mora há mais de 20 anos.
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“Estou colocando meu nome à disposição da cidade e do partido para participar, sim, da disputa municipal a prefeito de Guarapari”, confirma Ted, filiado ao PSB e aliado de Renato Casagrande. Autor do convite para Ted concorrer a seu primeiro mandato em 2018, o governador é tido por ele como principal referência e mentor político. Os dois já conversaram sobre as próximas eleições municipais e, no momento, Casagrande incentiva Ted a trabalhar para buscar se viabilizar.
Logo após não conseguir se eleger deputado federal em outubro do ano passado, Ted foi nomeado por Casagrande para um cargo comissionado de assessor na Casa Civil. Desde 1º de fevereiro deste ano, ele é subsecretário de Estado de Articulação de Políticas Intersetoriais, na Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades). Agora, aos 58 anos, afirma sentir-se em condições de concorrer à Prefeitura da cidade da Grande Vitória.
“Saí da Rede Gazeta no final de 2015. Demorei a tomar a decisão de entrar na política, mas em 2017, a convite do governador, resolvi entrar. Com o êxito que tive na minha primeira candidatura, meus três anos e meio como deputado federal e agora essa experiência no Executivo, me sinto qualificado para disputar o pleito municipal. E não posso deixar de mencionar a minha experiência de 30 anos como jornalista, buscando nas nossas redações a solução dos problemas por meio das cobranças que fazemos aos gestores.”
Ted destaca que, proporcionalmente ao número de habitantes, Guarapari foi um dos municípios que mais receberam emendas do mandato dele na Câmara, exercido entre 2019 e 2022, e conta que já está se articulando para viabilizar a candidatura: “Tenho conversado com lideranças empresariais e políticas de todo o Estado para a gente buscar um espaço dentro das necessidades do município”.
Ele aponta a “falta de representatividade política” de Guarapari como principal estímulo para entrar nesse pleito.
“Se Guarapari já tivesse uma estrutura montada e não precisasse de ajuda, eu não colocaria meu nome. Estou colocando por entender que hoje Guarapari não tem uma representatividade em nível estadual e nacional. E, com o conhecimento que tenho agora em Brasília e dentro do governo Casagrande, acredito que posso ajudar bastante.”
Sem citar o prefeito Edson Magalhães, o ex-deputado critica o “isolamento político” a que a atual administração, em sua visão, tem relegado a cidade.
“Hoje Guarapari é uma ilha. A atual administração não dialoga com outras esferas com o foco no desenvolvimento social, econômico e estrutural do município. Vive num isolamento político e uma proteção política que atrapalha outros atores que têm condições de trazer recursos. No meu entendimento, há um espaço hoje em Guarapari para uma pessoa que entre lá dialogando com todos os atores sociais e políticos.”
Tendo no atual governador não só um grande incentivador como um guia de seus passos na política, Ted afirma que, no que depender dele, segue firme no PSB, partido presidido no Estado por Alberto Gavini. Mas – até por estar sem mandato – mantém-se totalmente aberto à possibilidade de migrar para outra sigla aliada se isso facilitar algum tipo de composição eleitoral em Guarapari, ou seja, se esse movimento se mostrar necessário dentro da estratégia eleitoral do grupo liderado pelo governador, do qual Ted é soldado disciplinado.
“Sou do PSB, estou no PSB e sigo firme numa coordenação do Gavini e do governador. Mas não posso dizer 100% que seguirei no PSB, pois essa diretriz quem vai determinar é o governador e a direção do partido. Eu só me moveria do partido a partir de uma orientação do governador e do Gavini em função de alguma movimentação estratégica que objetive fortalecer o PSB. Fora isso, não farei. Mas estou à disposição do governador e do presidente do partido.”
Ted expressa respeito pelas etapas do processo e pelas instâncias decisórias do PSB, mas demonstra confiança de que terá o nome endossado em convenção daqui a pouco mais de um ano.
“Hoje, com certeza o Gavini me apoia para ser candidato. Isso não significa que eu serei candidato. Significa que ele me apoia para me viabilizar e, a partir de pesquisas e de uma convenção, vamos ver qual é o nome mais viável e competitivo, numa construção democrática.”
Nessa “construção democrática”, completa Ted, ele está aberto inclusive a concorrer a vice-prefeito de Guarapari, se os acordos convergirem para isso.
“Por que não? Não tem nada fora de questão. A partir do momento que você coloca o nome para poder auxiliar no desenvolvimento de um município, você está disposto a tudo. Então quero ser candidato a prefeito, mas numa conversa aberta. Se eu perceber que posso compor um grupo que vai contribuir para o crescimento e o desenvolvimento do município, também estou aberto a trabalhar nesse sentido.”
Possíveis concorrentes
Neste ponto, é indispensável mencionar os dois outros possíveis candidatos a prefeito de Guarapari que também buscam se viabilizar dentro do grupo de Casagrande. O primeiro tem uma identificação com o PSB ainda mais orgânica e antiga do que Ted. O segundo é um caso contrário (e sui generis).
Gedson Merízio foi vereador de Guarapari pelo PSB, militou no partido por mais de uma década e, no ano passado, só saiu da sigla num exemplo concreto daquilo que o próprio Ted admite que pode ser instado a fazer no ano que vem: por orientação de Casagrande, Gedson filiou-se ao Podemos em abril de 2022, somente para reforçar a chapa do partido aliado à Câmara dos Deputados.
Enquanto isso, o deputado estadual Zé Preto é um caso muito atípico: mesmo filiado ao PL e fazendo parte da bancada do partido de direita bolsonarista na Assembleia Legislativa, o ex-vereador de Guarapari e criador de cavalos se posiciona desde o início do mandato como um aliado do governo Casagrande, quase sempre vota com o Palácio Anchieta e, para concorrer a prefeito, conta com o incentivo de ninguém menos que Tyago Hoffmann (PSB), considerado um dos deputados estaduais mais próximos do governador.
Ted, por sua vez, acredita que será possível a produção de um consenso entre eles.
“O mais importante é que temos nomes que querem disputar a eleição para ajudar o município. É muito importante que tenhamos uma quantidade de nomes, e de nomes com qualificação. Não vou me furtar em nenhum momento a dialogar com todos eles, seja o Gedson, seja o Zé Preto, para que possamos trabalhar juntos na construção de um consenso e para que aquele que tenha melhor condição de dialogar com os governos federal e estadual, aquele que tenha mais experiência federal, aquele que possa trazer mais qualidade para a administração municipal, seja abraçado pelos outros.”
Se o leitor achou que Ted está no fundo falando de si mesmo, achou certo.
Ele enfatiza que trabalhará pessoalmente em prol dessa convergência e que, neste momento, é legítimo que todos os interessados procurem se viabilizar, exatamente como ele está fazendo.
“Sou um cara do diálogo. Nunca vou mudar minha forma de ser. Se queremos o bem para as pessoas, temos que trabalhar pela convergência. Agora cabem os três. É claro que haverá desistências e não vai caber todo mundo lá na frente, a partir de um afunilamento no início do ano que vem. Mas, neste momento, todo mundo deve mesmo tentar se viabilizar.”
Com base no Censo de 2022, Guarapari tem cerca de 124 mil habitantes. Com essa população, a eleição para prefeito é definida em turno único.
Ted: “Sou de centro”
Ted Conti define-se como um político de centro e avesso a conflitos ideológicos:
“Sou mais de centro. Sou aquele que gosta de dialogar com todo mundo. Na Câmara, em nenhum momento subi à tribuna para atacar político A, B ou C”, afirma o ex-apresentador de telejornais da TV Gazeta.
“Meu nome é leve, não sofre rejeição, apesar da questão ideológica, da polarização e de pessoas às vezes extremistas. O eleitor tem que entender que precisamos criar em Guarapari um grupo que pense na cidade. Essa briga para presidente tem que ficar para outro momento.”
Votação muito ruim em 2022
A invasão do “conflito ideológico”, na autoavaliação de Ted, é justamente o principal fator que explica o seu desempenho ruim nas urnas em outubro passado. Contrariando as expectativas do PSB e dele mesmo, Ted só obteve 11.289 votos e ficou muito distante de conseguir uma vaga para a Câmara – apesar de ter exercido o mandato quase completo naquela legislatura.
Tendo ficado na 1ª suplência do PSB em 2018, ele assumiu o mandato logo no início de 2019 no lugar de Paulo Foletto, quando este assumiu o cargo de secretário estadual de Agricultura. Só saiu de Brasília em abril do ano passado, quando Foletto precisou deixar a secretaria e retomar o mandato para poder disputar a reeleição.
“Pelo sentimento de rua, na época da campanha, eu fiz prestação de contas, a receptividade que eu tinha nos municípios, pelo que eu via nos pequenos municípios conversando com os políticos, meu nome estava sempre em alta. Muitos falam: ‘Não vi o mandato dele’. O que aconteceu, na minha opinião, é que não entrei na disputa ideológica. Fiz um trabalho voltado para entregas, para trazer recursos. Eu estava muito envolvido nisso”, justifica Ted.
“Tivemos uma discussão de extremos, e a disputa presidencial ganhou espaço em nível estadual na disputa para deputado federal. Eu não esperava que esse voto fosse fugir para as pontas. Aqueles que compraram as brigas dos presidentes e foram às tribunas brigar pelos votos dos presidentes trouxeram votos para eles indiretamente.”
Bandeiras
Na Câmara dos Deputados, Ted Conti chegou a presidir a Comissão de Fiscalização da BR-101. Participou da Comissão do Idoso e da Comissão da Pessoa com Deficiência, apresentou projetos relacionados à adoção de crianças e para garantir direitos sociais a pessoas com fibromialgia. “Peguei uma bagagem em cima disso. Peguei muito essa bandeira da assistência social.”
Agora, como subsecretário de Articulação de Políticas Intersetoriais, ele coordena, segundo suas contas, 13 projetos ligados principalmente aos cuidados com a primeira infância.
História pessoal e ligação com a cidade
Natural de Muqui, João Batista Conti iniciou a carreira como balconista na cidade natal. Logo tornou-se radialista em Cachoeiro de Itapemirim. Em 1987, começou a trabalhar como radialista e locutor na Rede Gazeta. No ano seguinte, começou a apresentar telejornais da casa.
Ted Conti é casado desde 1998 com uma mineira de Cataguases, criada em Guarapari, para onde os pais dela se mudaram quando ela era criança. Em 2002, quando Ted e a esposa tinham quatro anos de casados, os dois decidiram se mudar de Vitória para Guarapari em função do trabalho dela, que é médica e passou a atender no município. Para apresentar os telejornais da TV Gazeta, ele ia e voltava de carro todos os dias pela Rodovia do Sol.
