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Coluna Vitor Vogas

De Bolsonaro para Lula, a mudança na relação com o governo Casagrande

Quantos ministros do governo Lula vieram ao ES até agora? Quantos de Bolsonaro vieram até setembro de 2019? Como Casagrande explica a diferença?

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Bolsonaro, Casagrande e Lula

“Descobriram o Espírito Santo”, resume, sob anonimato, um membro da equipe do governador Renato Casagrande (PSB). O sujeito da frase é indeterminado, mas a fonte se refere ao Governo Federal, em Brasília, representado por uma série de ministros que têm desembarcado no Aeroporto de Vitória.

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A semana passada foi marcada pela visita da ministra da Saúde, Nísia Trindade, para participar do evento de recepção, no Palácio Anchieta, dos 142 novos profissionais que passam a atuar no programa Mais Médicos no Espírito Santo.

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Na semana anterior, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), já viera ao Estado para participar do lançamento Plano de Ação na Segurança (PAS) e do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci 2).

Em agosto, fora a vez do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, para a assinatura do contrato de convênio do Sistema Nacional de Socioeducação (Sinase). São três integrantes proeminentes, praticamente intocáveis, da Esplanada dos Ministérios no governo Lula (PT). E a vinda deles e de vários outros ministros reflete algo bem maior.

Desde o início do terceiro mandato de Lula na Presidência, a relação do Governo Federal com o Governo do Estado mudou da água para o vinho. Com a volta do petista ao Planalto, o canal do governo Casagrande – aliado do PT e eleitor declarado de Lula nas eleições 2022 – melhorou sensivelmente em comparação ao que se viu nos últimos quatro anos, com Jair Bolsonaro (PL) instalado no poder central.

Essa muito melhor relação política tem se traduzido em uma relação administrativa muito mais azeitada. Esta, por sua vez, traduz-se na assiduidade com que ministros de Estado têm vindo ao Espírito Santo para participar de atos solenes e agendas casadas com o Governo Estadual como as citadas acima, não só para firmar parcerias oficiais como para expressar ao público, simbolicamente, a parceria política que agora une os dois governos nas duas esferas administrativas.

A presença frequente de ministros de Lula no noticiário local já reforça, por si, essa impressão de uma maior proximidade, inclusive física. Mas não é mera impressão. Os números provam esse estreitamento dos laços, tomando justamente por critério a frequência da presença de ministros em solo capixaba.

Quantos ministros no ES? A goleada de Lula sobre Bolsonaro

Com ajuda do gabinete do governador, a coluna levantou o número de ministros que já visitaram o Espírito Santo desde o início dos atuais mandatos de Lula e Casagrande, no dia 1º de janeiro. Até agora, foram 13 – média de mais de um por mês. Eis a escalação, na ordem das visitas oficiais:

1. Ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB) – 13 de fevereiro

2. Ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PDT) – 7 de março

3. Ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB) – 24 de março

4. Ministro da Educação, Camilo Santana (PT) – 11 de abril

5. Ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT) – 10 de julho

6. Ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) – 13 de julho

7. Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo (PT) – 13 de julho

8. Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT) – 22 de julho

9. Vice-Presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB) – 27 de julho

10. Ministra da Cultura, Margareth Menezes – 14 de agosto

11. Ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida – 21 de agosto

12. Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB) – 4 de setembro

13. Ministra da Saúde, Nísia Trindade – 11 de setembro

No Palácio Anchieta, a expectativa é que venham outros até o fim do ano.

E vejam bem: só estamos considerando autoridades com status de ministros de Estado. Mas a conta poderia ir além se incluíssemos outras autoridades federais que já se fizeram presentes, como o presidente da Infraero, Rogério Amado Barzellay, e o secretário nacional de Aviação Civil, Juliano Noman, presentes à inauguração do Aeroporto de Linhares, em 14 de abril.

O número solto chama a atenção por si mesmo. Mas, para termos a dimensão exata do que ele representa, nada melhor que compará-lo sob os mesmos critérios. Aí vem a outra ponta do nosso levantamento: quantos ministros de Estado visitaram o Espírito Santo para agendas com o governo Casagrande até este mesmo ponto da administração passada, em meados de setembro de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro?

Resposta: apenas três, além do então vice-presidente Hamilton Mourão (que não chefiava nenhum ministério). Foram eles:

1. Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes Freitas (hoje no Republicanos) – 28 de fevereiro de 2019

2. Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina (PP) – 24 de maio de 2019

3. Ministro da Saúde, Henrique Mandetta (PP) – 16 de setembro de 2019

Goleada: 13 a 3 para o atual governo

Portanto, o placar é de 13 ministros de Lula contra 3 de Bolsonaro nos primeiros nove meses incompletos dos respectivos governos. Arredondando, é praticamente o quádruplo: para cada ministro enviado ao Espírito Santo por Bolsonaro, Lula mandou quatro em igual período.

São números que falam por si.

Alguém pode atalhar, é claro, que Lula tem muito mais ministros do que tinha Bolsonaro. De fato, o atual presidente iniciou seu governo com 37, enquanto o antecessor começou o seu com 22, em 2019. Mas isso fica longe de explicar, mesmo matematicamente, a desproporção do “13 a 3” observado até agora.

De cada 3 ministros do início do governo Lula, um já veio ao Espírito Santo até setembro de 2023.

De cada 7 ministros do início do governo Bolsonaro, um tinha vindo ao Estado até setembro de 2019.

A proximidade política e partidária

Os 13 ministros de Lula que visitaram o Espírito Santo até o momento incluem os três que são da cota do PSB, o partido de Casagrande: o vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e Márcio França (o primeiro de todos a vir, como ministro de Portos e Aeroportos, mas agora ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte).

A lista inclui ainda quatro ministros filiados ao PT, dois ao MDB e um ao PDT. Os outros três não têm filiação partidária.

PSB, PT, MDB e PDT são partidos que fizeram parte da coligação de Casagrande ao Governo do Estado nas eleições do ano passado. Ou seja, todos os dez ministros que já vieram ao Espírito Santo neste ano e que têm filiação partidária pertencem a partidos que apoiaram a reeleição de Casagrande.

Da mesma forma, além de contar com o PT em sua coligação, Casagrande apoiou a volta de Lula à Presidência. É bem verdade que, por estratégia, foi bem discreto nesse apoio e não chegou a pedir votos para Lula em sua propaganda e em atos da campanha a governador, num estado onde o bolsonarismo estava muito forte.

Mas, antes mesmo do início oficial da campanha, declarou voto em Lula, até por lealdade e disciplina partidária: em aliança reproduzida no Estado, o PSB coligou-se com o PT na disputa presidencial e emplacou Alckmin como companheiro de chapa de Lula.

Já nos anos de governo Bolsonaro, Casagrande nunca chegou perto de ser aliado do então presidente. Não que eles batessem de frente o tempo todo. Até por seu estilo diplomático e pragmático, o governador buscou cultivar, na medida do possível, uma boa relação institucional com o governo do ex-deputado. Mas a falta de sintonia e as diferenças de visão, manifestadas em algumas críticas pontuais de Casagrande, eram evidentes em áreas como educação, mudanças climáticas, armamento civil e gestão da pandemia.

O que diz o próprio Casagrande

Questionado pela coluna, o próprio governador minimiza o peso da aliança política com Lula e o PT, ao explicar o porquê dessa presença maciça de ministros. Prefere atribuí-la a um comportamento inerente ao próprio governo Lula e que vale para todos os estados, incentivando os representantes do governo a se fazerem mais presentes e buscarem ouvir e atender aos pleitos dos governadores.

“Essa presença maior de ministros aqui, mas também em outros estados, é por orientação dada pelo presidente Lula e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, de ter uma relação federativa aberta, uma relação próxima, de encontros, de reuniões, de retomada de programas, como o Mais Médicos, o Pronasci, o Minha Casa Minha Vida, programas importantes que o Governo Federal está retomando e cuja execução é dos estados e municípios. Então isso promove uma agenda permanente, ou da minha presença e dos meus secretários em Brasília ou dos ministros aqui no Espírito Santo.”

Mas a melhor relação política também não ajuda a estreitar a relação administrativa?

“Ajuda na aproximação, mas não é essa a questão mais importante”, pondera Casagrande. “O mais importante é a orientação dada por nós e pelo Governo Federal para a gente colar programas locais com programas nacionais, e vice-versa. Isso facilita a presença dos ministros.”

Errata

O texto desta coluna precisou ser corrigido após a publicação, pois o levantamento estava incompleto. A informação publicada inicialmente era a de que 11 ministros de Lula já teriam visitado o Espírito Santo em 2023, mas na verdade foram 13. Nossa lista inicial não tinha incluído o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), e a ministra da Cultura, Margareth Menezes, acrescentados posteriormente.

Macêdo esteve em Vitória no dia 13 de julho, ao lado de Simone Tebet, para a plenária estadual do PPA Participativo 2024-2027 do governo Casagrande, realizada no Espaço Patrick Ribeiro, no Aeroporto de Vitória.

Já Menezes participou da abertura do I Encontro Nacional de Gestores de Cultura, no Teatro da Ufes, em 14 de agosto. Realizado pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria de Estado da Cultura, o evento foi apoiado pela Ufes e também celebrou o lançamento do calendário da Conferência Estadual de Cultura.


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