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Coluna Vitor Vogas

Contra “retrocesso”, Vidigal afirma estar disposto a buscar aliança com Audifax

Prefeito diz que não voltará atrás na decisão de não ser candidato: “Seria um desrespeito”. Diz, ainda, que não pretende disputar mais eleição alguma

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Sérgio Vidigal cumprimenta Weverson Meireles ao lançar o aliado à sua sucessão (16/03/2024). Foto: Samuel Chahoud

“Doutor Sérgio, o senhor pode ter certeza de que um filho teu não foge à luta”, declarou Weverson Meireles ao prefeito Sérgio Vidigal, ao ser lançado por ele na manhã de ontem (16), em seu lugar, à Prefeitura da Serra.

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Chefe de gabinete de Vidigal (66 anos), Weverson (33 amanhã) até tem idade, mas não é “filho” do prefeito no sentido biológico. É sem dúvida, porém, a nova “cria” política e eleitoral de Vidigal no contexto da Serra e do PDT. Há exatos 20 anos, o papel foi cumprido por Audifax Barcelos, hoje pré-candidato a prefeito pelo PP. A diferença de idade é bem menor. Mas, em 2004, Audifax era secretário na equipe de Vidigal, foi filiado por ele ao PDT e lançado por ele como seu sucessor… exatamente como Weverson em 2024.

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Agora, em vez de ver suas duas “criações políticas”, a do presente e a do passado, brigando entre si pelo cargo de prefeito da Serra, Vidigal afirma estar disposto a trabalhar para que Weverson e Audifax dialoguem e cheguem, quem sabe, a algum tipo de aliança eleitoral visando ao bem maior do município e dos cidadãos serranos.

A meta estratégica – não declarada, mas deduzível por todos os sinais – é promover uma união de forças para fazerem frente ao principal adversário eleitoral em comum: o deputado estadual Pablo Muribeca.

Pré-candidato a prefeito da Serra pelo Republicanos, o deputado foi tratado indiretamente por Weverson e Vidigal como “ameaça de retrocesso”, na convenção municipal do PDT em que este lançou aquela à sua sucessão no município. Para promover essa sonhada reaproximação com Audifax, Vidigal se disse disposto, inclusive, a dar o primeiro passo:

“Acho até que era um bom momento de a gente se unir para fazer a virada de chave no município da Serra. Não é para derrotar o Muribeca, é para que a Serra não retroceda. Quando eu falo em ‘se unir’, é porque acho que o interesse da cidade é maior que o nosso nesta história. […] No momento em que tiver sinalização para a gente conversar, não tenho nenhuma dificuldade. Conversar sobre o futuro, porque o que passou, passou. Se você botar o passado para o futuro, talvez a gente tenha dificuldade. Podemos tomar essa iniciativa [de procurá-lo]”, sublinhou Vidigal.

“Qual é a vantagem do Weverson? Primeiro que ele não tem nenhuma obrigação de fazer o que eu quero e de atender a mim. O Weverson pode neste momento articular com forças políticas que têm problemas comigo, mas que podem conversar com ele”, acrescentou o atual prefeito. Em outras palavras, no entendimento de Vidigal, escalar seu discípulo político em seu lugar na cabeça da chapa do PDT pode facilitar o diálogo eleitoral com adversários dele, sobretudo com Audifax.

Weverson também foi enfático: quer conversar mesmo com Audifax, a quem chegou a elogiar, reconhecendo a boa administração feita pelo ex-prefeito em seus três mandatos na Serra:

“Não podemos permitir retrocesso na cidade. A Serra representa muito para nós, serranos, mas representa muito para o estado do Espírito Santo. Brincar com o futuro da Serra é brincar com o futuro do nosso Estado. […] Por isso, não está descartado dialogar com o Audifax, porque ele fez, sim, uma boa gestão, independentemente dos posicionamentos políticos, até porque o Audifax saiu da mesma escola pela qual estou sendo apresentado agora. Audifax, lá em 2004, foi apresentado por esse mesmo gestor. Então tenho certeza de que ele também adquiriu muita experiência aqui e levou adiante. Então por que não conversar com o Audifax?”

No ato de lançamento de Weverson, ficou evidente a preocupação do grupo de Vidigal com o potencial de crescimento de Muribeca. De igual modo, restaram translúcidas as linhas gerais da estratégia em construção a fim de neutralizá-lo, a qual já começou a ser posta em prática no evento: associá-lo incansavelmente à ideia de retrocesso. “A sociedade vai avaliar o que é retrocesso e o que é capacidade de gestão”, resumiu Weverson, sem citar o adversário em nenhum momento.

A estratégia também passa por vincular Muribeca, reiteradamente, a uma “renovação” que seria perigosa e enganosa, enquanto Weverson representaria uma “renovação com sabedoria”, uma “renovação segura”, uma “renovação experiente”. As expressões realmente foram usadas no discurso de Weverson, por mais paradoxais que soem.

A figura de linguagem é o oximoro, quando se combinam numa expressão palavras de sentidos opostos que parecem excluir-se mutuamente. A combinação, no caso, resultaria da união indissolúvel entre Weverson e Vidigal: a “renovação” viria do primeiro, enquanto a “sabedoria”, a “segurança” e a “experiência” viriam do segundo.

Não é de hoje que Vidigal vem expressando profundo desconforto com o novo estilo de fazer política, bem representado por Muribeca, que dá muito retorno eleitoral hoje em dia, baseado em farto uso das redes sociais, onde a atividade do deputado notoriamente é intensa. Vidigal não usou estas palavras, mas, para ele, há nessa arena barulho demais para conteúdo de menos.

Na convenção do PDT da Serra, fazendo uma grande prestação de contas do mandato e falando em tom de despedida antecipada, Vidigal justificou sua decisão de não buscar um quinto mandato de prefeito pelo desejo e a necessidade de passar mais tempo com a família a partir de 2025.

Desde que se elegeu vereador em 1988, ele emenda um mandato atrás do outro. Foram um de deputado estadual e dois de federal, além de quatro na Prefeitura da Serra. Essa vida de dedicação ao município sacrificou a sua presença como pai, privando-o de maior participação no crescimento dos filhos, como ele mesmo admitiu em seu discurso.

Agora, Vidigal quer passar mais tempo com os netos e participar mais da sua criação. Quer ser um avô e um marido mais presente, até porque sua mulher, Sueli Vidigal, está passando pelo tratamento de um câncer, como marido e mulher revelaram ao público presente.

Até então, o tema era comentado nos bastidores por agentes políticos da Serra, mas tratado sob extrema discrição, dada a delicadeza da situação.

A seguir, compartilhamos as principais declarações de Vidigal à imprensa, ao lado de Weverson, logo após o lançar em seu lugar neste pleito que promete:

Decisão irreversível: “[Voltar atrás] seria um desrespeito”

O prefeito garantiu que não voltará atrás em sua decisão de não ser candidato:

“Sempre fui um homem previsível. E seria até um desrespeito eu fazer um evento desses, com vários companheiros e amigos, para amanhã ter uma outra ideia. Minha decisão não é nem por causa da política, porque eu gosto. O cenário é positivo para a Serra. Mas neste momento eu vou dar uma pausa na minha vida política para cuidar da minha esposa e da minha família. […] Vou cumprir meu compromisso até 31 de dezembro deste ano, ainda mais acelerado. Preciso estar liberado em 2025 para cuidar da pessoa mais importante da minha vida.”

Sérgio e Sueli Vidigal se emocionaram durante o evento do PDT (16/03/2024). Foto: Samuel Chahoud

Sueli Vidigal: “Preciso estar do lado dela”

“Sueli fez duas intervenções cirúrgicas, fez a quimioterapia e está em acompanhamento. Essa foi uma reflexão que fiz, pois esse período foi muito duro para mim. Preciso estar ao lado de quem sempre esteve do meu lado. Eu sei que a política é importante. Já dei a minha contribuição e vou continuar dando até o final do nosso mandato. Mas, neste momento, é uma opção pela minha família, por alguém que cuidou de mim uma vida inteira. É um sentimento de coração: eu preciso cuidar de quem cuidou de mim, até porque tenho meu pai também com Alzheimer e já cuido dele. Hoje somos só eu e Sueli. Meus filhos estão casados. Gestão de prefeitura é diferente de um deputado, que tem mais tempo… Então não tenho condições de continuar sendo, nos próximos quatro anos, aquele gestor que fui. A pior coisa no mundo é amanhã você ter a consciência pesada de que você viu as coisas acontecerem e não participou ativamente.”

Aposentado de eleições: “Não pretendo mais disputar”

“Eu não vou pendurar as chuteiras porque vou continuar trabalhando como médico. Como político, não está no meu script. Não vou dizer que não vou ajudar a construir o partido. Mas não pretendo mais disputar cargos eletivos.”

Weverson pode ceder: “Quem quer aliados precisa sinalizar”

“Quem quer aliados precisa sinalizar para os aliados. Então a nossa sinalização é que, se tiver um projeto que defenda o que nós defendemos e que seja mais viável que o nosso, podemos retroceder. Essa é uma realidade. Então o objetivo não é simplesmente crescer o partido. É garantir o crescimento do município.”

Por que Weverson? “Não era a minha primeira opção”

“Não era a minha primeira opção. O Weverson estava no Governo do Estado. Conversamos internamente com os companheiros aqui. Tinha outros companheiros que chegaram até antes do Weverson. E seria até uma injustiça minha não conversar primeiro com esses companheiros, porque também são qualificados para isso. E aí foi de consenso de todos que, neste momento, ele é quem teria as melhores condições, não só de disputa eleitoral. Tem que ter disposição, capacidade de conversar, capacidade de se articular. Entendemos que o Weverson reúne essas condições dentro do PDT.”

Casagrande: “Queria que eu fosse candidato”

“Durante todo o tempo, o Renato Casagrande queria que eu fosse candidato. Mas ele nos falou que pactua com o meu posicionamento. E vamos continuar esse trabalho. E se, dentro desse grupo aliado, tiver alguém com melhores condições, não teremos aqui nenhuma vaidade. Agora, seria muito bom para nós que fosse alguém com conhecimento da máquina pública. O Weverson hoje tem condições de debater qualquer pauta na gestão pública da Serra. Ele tem conhecimento e participa do planejamento estratégico da cidade. Neste momento, eu poderia buscar alguém que tenha mais votos. Mas seria uma irresponsabilidade buscar alguém que tenha mais votos, mas que não tenha conhecimento e qualificação para isso.”

Confiança: “Ele está pronto para ser prefeito”

“Para ser prefeito da Serra, ele está pronto. Só precisamos fazer uma conversa com a sociedade, para ver se a sociedade entende que ele de fato é o melhor caminho.”

Temor de debandada? “Aliados de verdade vão ficar”

“No dia 6 de abril, vence o prazo de filiação para quem quiser ser candidato. E queremos dar liberdade para que possa buscar outro caminho quem está do nosso lado e achar que não é o melhor projeto. Não temo ‘perder’ aliados, porque você tem dois tipos de aliados: tem o aliado de toda hora e tem o aliado de ocasião. O de ocasião, de conveniência, se você perder você não perdeu, porque já não tinha, não é verdade? Agora, os aliados de fato tenho convicção de que estão no projeto.”

Audifax Barcelos: “Era um bom momento de a gente se unir”

“Se vocês observarem, eu já recebi pedradas, mas nunca dei pedradas. O que significa isso? Sou um homem de porta aberta. Então quero conversar com todo mundo. Acho até que era um bom momento de a gente se unir para fazer a virada de chave no município da Serra. Não é para derrotar o Muribeca, é para que a Serra não retroceda. Quando eu falo em ‘se unir’, é porque acho que o interesse da cidade é maior que o nosso nesta história. Não conversei com o Audifax, até porque ele desde o início se coloca como pré-candidato, e temos que respeitar isso. Mas, no momento em que tiver sinalização para a gente conversar, não tenho nenhuma dificuldade. Conversar sobre o futuro, porque o que passou, passou. Se você botar o passado para o futuro, talvez a gente tenha dificuldade. Podemos tomar essa iniciativa.”

Política de narrativas”: “Me envergonho de alguns parlamentares”

“No Brasil, entrou a moda da política de narrativas. E eu tenho muito medo de que a política de narrativas supere a política de conteúdo. Há vários parlamentares no Brasil que tiveram uma votação expressiva, mas me envergonho de falar que, no Congresso, representam a mim e a população brasileira.”