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Coluna Vitor Vogas

Casagrande x Da Vitória: bastidores da crise com o presidente do PP

Governador aponta falta de diálogo. Marcelo e outros bombeiros entram em ação. Ricardo responde se fica no PSDB. Bastidores do almoço na Assembleia

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Josias da Vitória e Renato Casagrande estão afastados

Em política tudo pode mudar da noite para o dia, mas hoje parece uma questão de tempo o rompimento definitivo do Progressistas (PP), sob a condução de Josias da Vitória, com o governo de Renato Casagrande (PSB).

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Sob nova direção desde 1º de abril, quando o deputado federal assumiu a presidência estadual do partido, o PP está cada vez mais afastado e, em nível partidário, não tem mais nenhum diálogo com o governo, como expõe o próprio Casagrande. Pessoalmente, Da Vitória está rompido com Casagrande, de quem era um antigo aliado, e hoje lidera um forte movimento de bastidores, já dissecado pela coluna, para formar uma ampla frente de direita no Espírito Santo com vistas às próximas eleições municipais e estaduais.

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Presidido por Marcus Vicente desde 2014, até ele perder o posto para Vitória há cerca de dois meses, o PP apoiou as eleições de Casagrande a governador em 2014, 2018 e 2022. Faz parte do governo, com direito a assento no 1º escalão – o próprio Vicente é secretário estadual de Desenvolvimento Urbano desde 2019 –, além de outros cargos comissionados. O secretário-geral do PP-ES, Marquinhos Delmaestro, e o ex-deputado estadual Sandro Locutor (PP), são assessores na Casa Civil.

Segundo Casagrande, o maior problema no relacionamento nem é a aproximação do PP com a administração de Lorenzo Pazolini (Republicanos) em Vitória, sob a batuta de Da Vitória, mas a absoluta falta de diálogo do partido com o governo desde que Da Vitória assumiu o comando.

“A diferença não é aproximação com A ou com B, mas a ausência de diálogo do partido e o afastamento no dia a dia do governo. Se o partido vai se aliar a A, B ou C, isso para mim não é problema. O problema é o afastamento, a distância na relação política. Desde que Da Vitória assumiu a presidência do partido, afastou o partido da relação com o governo. O PP está no governo, mas não faz mais avaliação de governo com a gente, discussão de política estadual e nacional”, relata Casagrande.

Há fortes controvérsias de que a iminente aliança do PP com Pazolini, desafeto de Casagrande, tenha tido peso tão pequeno para o governador – minha apuração diz o contrário: ele ficou bem contrariado com o convite do prefeito para o vereador Anderson Goggi (PP) assumir a Secretaria de Cultura de Vitória, levando o PP para dentro de sua gestão. O vereador acabou recusando o convite, o que não impede a direção estadual (leia-se Da Vitória) de indicar outro nome.

De todo modo, segundo Casagrande, a recusa de Goggi é tão irrelevante quanto teria sido seu eventual aceite. A questão vai muito além. “Soube [da recusa] pela imprensa. Nosso problema de relação com o PP não é participar de um ou de outro governo. Nosso problema de relação é a ausência de diálogo. A ausência de diálogo é o que causa o afastamento, na política ou em qualquer outro local.”

Apesar de tudo, Casagrande diz querer a manutenção da aliança: “Não quero que o PP saia do governo”, afirma. “Quem é aliado é aliado, vai ter que conversar em algum momento.”

Mas há, no discurso de Casagrande, uma ambiguidade que só reforça a sensação de inevitável rompimento: ao mesmo tempo em que aponta o afastamento e a falta de diálogo do PP com seu governo, ele afirma, categoricamente, não ter procurado Da Vitória nem ter a menor intenção de procurá-lo para dialogar. Aliás, nas mesmas aspas, Casagrande diz que está aberto ao diálogo, mas que não há procura de nenhuma das partes:

“Não tem nenhuma procura da minha parte nem da parte do PP, mas estamos abertos ao diálogo.”

Enfim, quando um não quer, dois não são aliados – e, neste caso, parece evidente que Da Vitória já não quer ser aliado de Casagrande. E, quando dois não mostram o menor empenho nem parecem fazer tanta questão de segurar uma aliança, aí é que esta se desmancha mesmo.

Motivos do rompimento

O rompimento do deputado com o governador é o resultado de uma somatória de fatores que remontam à fase inicial do processo eleitoral do ano passado. É um caldo que começou a ferver no tacho ainda na pré-campanha, quando Casagrande preferiu apoiar Rose de Freitas (MDB) em detrimento de Da Vitória para o Senado, e que entornou durante a transição, quando Da Vitória teve pleitos negados por Casagrande – entre eles, emplacar o próprio nome ou garantir influência na Secretaria Estadual de Agricultura, que acabou de volta com Ênio Bergoli.

Esses são alguns dos motivos aventados, mas não os únicos.

Bombeiros entram em ação

Alguns bombeiros têm entrado em ação para tentar preservar a aliança de Da Vitória com Casagrande e seu governo. Um deles é o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos). Muito amigo de Da Vitória, Marcelo o recebeu em seu gabinete na Assembleia na noite desta segunda-feira (29) – o mesmo onde, na hora do almoço, recebera Casagrande.

A convite de Marcelo, Da Vitória participou e discursou na sessão solene em comemoração aos 30 anos de recriação da Alfândega, promovida pelo próprio presidente da Assembleia.

Mais cedo, ao lado do governador, Marcelo afirmou:

“Pela relação de amizade que tenho com o governador e com o líder da bancada [Da Vitória], farei tudo para que possamos estar juntos, até porque somos amigos e parceiros históricos.”

Marcelo disse que vai trabalhar “absolutamente” para que o PP permaneça na base. Ele de fato é aliado tanto de Casagrande como de Da Vitória.

A deputada estadual Janete de Sá (PSB), 2ª secretária da Mesa Diretora da Assembleia, também se reuniu com Da Vitória para tratar do tema. “É um esforço da Mesa.”

Estabilidade e harmonia

No almoço promovido por Marcelo Santos para Casagrande, com 29 dos 30 deputados, na sede da Assembleia, Marcelo Santos deu nova prova de que – diferentemente de Da Vitória – mantém atualizadíssima sua aliança com o governo do socialista. Em sua fala diante da imprensa antes do almoço, ele destacou que trabalha para manter a estabilidade política do Estado e a harmonia do Legislativo com o Executivo Estadual.

“Independentemente da posição de cada um, a gente tem uma relação respeitosa com o governo. A gente trabalha na independência e, ao lado dela, na harmonia para o bem da sociedade capixaba, que é o que permite a estabilidade política que nós temos. E vamos mantê-la”, disse Marcelo a Casagrande.

O governador reconheceu e agradeceu a estabilidade política entre os Poderes e afirmou que atendeu ao convite de Marcelo “para estreitar ainda mais a relação política, pessoal e de trabalho”.

Essa reunião foi marcada por algumas pilhérias e gafes entre os participantes.

Não pode escancarar assim, deputado…

O deputado José Esmeraldo (PDT) foi, desde o início do processo, um dos principais apoiadores da eleição de Marcelo Santos para a presidência da Assembleia. Mas o principal cabo eleitoral de Marcelo foi Casagrande. O governador não chegou a “colocar” o aliado na cadeira. Mas não ficou muito longe disso. E Esmeraldo, na empolgação, quase deixou escapar o que não devia.

Elogiando Casagrande, afirmou: “Você também acertou em cheio quando você colocou ele… quer dizer, você apoiou ele para ser o presidente da Assembleia Legislativa”.

O veterano deputado ainda aproveitou para antecipar o lançamento de Marcelo à reeleição, no início de 2025: “Não tenho dúvida alguma de que, na próxima eleição, ele vai ganhar novamente”.

Veteranos 1

Por falar em veteranos, quando foi resumir o currículo político do vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB), também presente à reunião, Esmeraldo teve um lapso de memória: “É a primeira ou segunda vez que você é vice-governador?”

Ricardo aproveitou o caco: “Neste século, é a primeira”.

Realmente faz tempo, mas não tanto assim. Ele foi vice-governador no segundo governo de Paulo Hartung, de 2007 a 2010.

Veteranos 2

Ainda na sessão “nostalgia” dos muitos veteranos políticos reunidos à mesa, Casagrande lembrou que ele, Ricardo e João Coser (PT) – 1º secretário da Mesa Diretora – foram deputados estaduais juntos, na legislatura de 1991 a 1994. A sede da Assembleia ainda ficava na Cidade Alta.

Ricardo não perdoou e brincou com Coser: “Só você que era veterano”. É que, quando ele e Casagrande chegaram à Casa, em 1991, o petista já tinha um mandato: chegou na legislatura anterior.

Casagrande: “Tá parecendo candidato”

Ricardo chegou um pouco atrasado à reunião e, antes mesmo de se sentar, ouviu de Casagrande: “Tá parecendo candidato”. O vice-governador é sempre cotado para a sucessão em 2026.

Ricardo fica no PSDB?

A propósito, Ricardo tem falado bem pouco de política desde que reassumiu o mandato de vice-governador, acumulado com a chefia da Secretaria de Estado de Desenvolvimento. Mas, questionado pela coluna, deu uma certeza: permanecerá no PSDB.

Marcelo, o Mão Aberta

Muitos dos presentes à reunião destacaram o ineditismo da iniciativa de Marcelo, promovendo um almoço para o governador na sede da Assembleia, quando em regra ocorre o contrário: é o governador quem convida e recebe os deputados no Palácio Anchieta.

“Também, nunca teve um presidente mão aberta para pagar um almoço pra gente”, gozou Casagrande.

“Sou eu que estou pagando mesmo”, rebateu Marcelo.

Segundo a assessoria da Assembleia, foi mesmo.

Davi Diniz, o “japonês folgado”

Quem também participou da reunião foi o sempre discreto Davi Diniz, que mal abriu a boca. Chamado por Esmeraldo de “Japonês”, o chefe da Casa Civil responde pela articulação política do governo com os deputados.

“Acho que damos trabalho de menos pra ele. Podíamos dar um pouco mais de trabalho, porque ele está muito folgado”, zoou Coser, em referência a Davi.

“Ouviu, Davi? Não sou eu que estou falando!”, riu-se o chefe, Casagrande.


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