Coluna Vitor Vogas
Candidato de Arnaldinho será presidente da Câmara de Vila Velha
Com o apoio público exibido pelo prefeito, xeque-mate não tardou. Nos dias seguintes ao registro da chapa, ele atraiu os apoios que faltavam
Como lembramos aqui na última quinta-feira (19), Maturano é um sobrenome italiano que vem do latim (adjetivo maturus: maduro; verbo maturare: maturar). Há, ainda, o advérbio de tempo maturo, que significa “no devido tempo”. Na disputa pela presidência da Câmara de Vila Velha, a candidatura de Osvaldo Maturano (PRD), líder do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) na Casa, amadureceu aos poucos. Mas, finalmente, chegou sua hora e vez. Com o apoio explícito de Arnaldinho e à frente de chapa única, ele será eleito presidente, sucedendo Bruno Lorenzutti (MDB), na eleição marcada par as 16 horas do dia 1º de janeiro.
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Na próxima legislatura, a começar no dia 1º, a Câmara de Vila Velha terá 21 vereadores. A esta altura do processo, Maturano já reuniu o apoio seguro de 19 dos 20 futuros colegas. O único que falta, no momento, é Rafael Primo, vereador eleito pelo PT, mas Maturano tem reunião marcada com ele nesta quinta-feira (26). Se o petista aderir, ele alcançará a unanimidade.
De todo modo, a chapa encabeçada por Maturano foi a única registrada no prazo regimental, já expirado, o que lhe proporciona, antecipadamente, a certeza de vitória. Isso por conta de uma peculiaridade da Câmara de Vila Velha.
Em geral, nas Câmaras Municipais, no começo de cada legislatura, as chapas para chegar à Mesa Diretora precisam ser inscritas no dia 1º de janeiro, durante a sessão especial para eleição da Mesa, logo após os vereadores tomarem posse.
No caso da Câmara de Vila Velha, por uma mudança no Regimento Interno introduzida na “Era Ivan Carlini” – a qual tendia a facilitar a sua recondução sucessiva –, as chapas têm de ser protocoladas até oito dias antes da eleição da Mesa.
O texto gera mais de uma interpretação. Para o próprio Maturano, por exemplo, o prazo terminaria às 16 horas do dia 24 (terça-feira), precisamente oito dias antes da sessão do dia 1º. Já para o atual presidente, Bruno Lorenzutti, iria até a meia-noite do dia 23 para o 24 (de segunda para terça-feira). De qualquer forma, o fato é que, até as 16 horas de terça-feira, só a chapa de Maturano foi inscrita. Mesmo que hipoteticamente uma segunda chapa fosse protocolada até a votação do dia 1º, não teria validade legal, por ir contra o Regimento Interno da própria Câmara.
Mas não se trata apenas de uma questão de tempo. Não existe mais espaço político para Maturano deixar de levar essa.
Na última quinta-feira (19), o experiente vereador – indo para o quarto mandato seguido – realizou um movimento decisivo, com a participação pessoal do prefeito. Enquanto um grupo de dez parlamentares eleitos se organizava em movimento paralelo, ele pulou na frente e registrou a sua chapa no sistema de protocolo da Câmara.
Além dos seis candidatos a membros da Mesa Diretora (ele mesmo e cinco colegas), a chapa foi protocolada com a assinatura de outros cinco vereadores eleitos que manifestaram seu “expresso apoio”, totalizando 11 adesões. Maturano, assim, mostrou à concorrência já ter reunido 11 dos 21 votos possíveis, constituindo maioria absoluta para assegurar a sua vitória matemática.
Essa construção teve a colaboração direta do gabinete do prefeito. Em prova inequívoca do lado escolhido por Arnaldinho, ele mesmo fez questão de sair na foto divulgada por Maturano (acima) no ato de inscrição da chapa, ao lado do próprio candidato à presidência e dos outros dez vereadores (todos da sua base). E, na evidência final de que essa é a chapa apoiada pela próxima gestão, o vice-prefeito eleito com Arnaldinho, Cael Linhalis (PSB), também saiu na foto, apesar de ainda nem ter tomado posse.
O gesto valeu como um movimento de xeque nesse jogo de xadrez político, minando a articulação da concorrência. Até aquele momento, os outros dez vereadores eleitos, inicialmente contrários a Maturano, buscavam organizar a própria chapa, realizando reuniões diárias para discutir o tema. Ali estavam reunidos seis vereadores eleitos pela base de Arnaldinho, além dos três eleitos pelo PL e de Rafael Primo, do PT. Entre eles, havia três pré-candidatos à presidência da Câmara (todos, aliados de Arnaldinho): Ivan Carlini (Podemos), Patrícia Crizanto (PSB) e Rogério Cardoso (Podemos). Os dois primeiros chegaram a admitir à coluna interesse na presidência.
Até levarem o “xeque” de Maturano, esse grupo de 10 vereadores buscava atrair mais um colega para alcançar a maioria e convencer Arnaldinho a apoiar um dos seus potenciais candidatos. Ficaram por um. Maturano, com a ajuda política do prefeito, foi mais rápido e bem-sucedido em chegar ao número mágico (11), bater chapa e se provar o candidato da gestão de Arnaldinho.
Com o gesto de Maturano e, principalmente, com o endosso público dado pelo prefeito, foi uma questão de tempo para o candidato da situação prevalecer. O xeque-mate foi dado nos dias seguintes. De quinta-feira em diante, o “grupo dos 10” desmoronou. Em inelutável efeito manada, vereadores até então reunidos no movimento concorrente capitularam e gradualmente se incorporaram ao movimento de Maturano.
No caso dos cinco vereadores da base de Arnaldinho, a adesão era mais que esperada. Os próprios Ivan Carlini e Rogério Cardoso são do partido do prefeito (o Podemos). Para os aliados de Arnaldinho, peitá-lo e persistir no lançamento de outra chapa seria o suicídio político, comprometendo os próprios mandatos ainda nem iniciados. Mas, segundo Maturano, até os vereadores do PL foram atraídos e absorvidos em sua composição. Se o do PT também aderir, será feita a unanimidade – mas, independentemente desse detalhe, a vitória já é certa na eleição da Mesa.
Desde o registro da chapa, a participação direta de Arnaldinho na costura ficou ainda mais explícita: algumas das reuniões com os últimos aderentes foram realizadas nos domínios do prefeito.
A virtual eleição de Maturano será também uma vitória política de Arnaldinho. Ainda que não fosse o melhor dos mundos para ele no início do processo, Maturano foi o cavalo no qual a equipe do prefeito acabou apostando no fim – até para evitar o risco de crescimento e vitória de um movimento paralelo que não agradava ao Executivo.
Por que Maturano?
Do ponto de vista de Arnaldinho e de seu núcleo duro político, o movimento alternativo ao de Maturano não convinha nada. Basta analisar a composição daquele grupo de 10 e se colocar no lugar do prefeito: embora o grupo afirmasse não ter caráter de oposição, é fato que ali se abrigavam os quatro potenciais oposicionistas do prefeito no próximo mandato, além de vereadores mais ligados ao atual presidente da Câmara, Bruno Lorenzutti (MDB), convertido em desafeto do prefeito.
Maturano foi quem conseguiu se viabilizar junto ao maior número de vereadores eleitos, como ele, pela base de Arnaldinho.
Na escolha do prefeito, o pragmatismo falou mais alto. Mas só mesmo a gestão de Maturano, uma vez sentado na cadeira de presidente, é que dirá se o triunfo de Arnaldinho terá sido total ou parcial. Neste ponto, é preciso registrar algumas ressalvas e preocupações que surgiram em nossas apurações durante a disputa interna pela Mesa, manifestadas, sob anonimato, inclusive por vereadores que acabaram apoiando Maturano – até porque não lhes restou saída política.
Uma delas, levantada por alguns, é que o próximo presidente estaria longe de encarnar a ideia de “renovação política” que o próprio Arnaldinho busca a todo instante transmitir em sua ascendente trajetória – cuja próxima escala, como se sabe, pode ser uma candidatura ao Governo do Estado em 2026.
A segunda diz respeito à profunda ligação política do próximo presidente da Câmara com o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil). Maturano apoiou Marcelo para deputado estadual em 2022 e, em troca, foi por ele apoiado na campanha à reeleição este ano. Além disso, filiou-se ao PRD, pequeno partido controlado por Marcelo no Espírito Santo.
O temor de alguns aliados do prefeito é que a chegada Maturano à presidência do Legislativo Municipal represente o controle indireto de Marcelo sobre a Câmara e um aumento da influência do deputado em território canela-verde, tendo em vista, inclusive, a próxima eleição para deputado federal.
Sob sigilo, ainda, há quem coloque em dúvida se Maturano será mesmo capaz de “controlar a oposição” em plenário, enquanto alguns duvidam de sua confiabilidade e de sua capacidade de dar estabilidade política para o prefeito governar sem problemas com o Parlamento.
As respostas caberão a Maturano.
A composição da chapa única
Presidente: Osvaldo Maturano (PRD)
1º secretário: Léo Pindoba (Podemos)
2ª secretário: Carol Caldeira (DC)
Vice-presidente: Hércules Silveira (PP)
2º vice-presidente: Alex Recepute (PRD)
3º secretário: Ademir Pontini (MDB)
Além deles, assinaram o documento, declarando “expresso apoio à chapa”:
7. Anadelso Pereira (Podemos)
8. Devanir Ferreira (Republicanos)
9. Joel Rangel (Podemos)
10. Thiagão Henker (Podemos)
11. Jonimar Oliveira (PP)
Chegaram depois (de quinta-feira para cá):
12. Ivan Carlini (Podemos)
13. Rogério Cardoso (Podemos)
14. Patrícia Crizanto (PSB)
15. Welber da Segurança (União)
16. Renzo Mendes (PP)
17. Flavio Pires (Agir)
18. Devacir Rabello (PL)
19. Patrick da Guarda (PL)
20. Pastor Fabiano Oliveira (PL)
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