fbpx

Coluna Vitor Vogas

Análise: por que Arnaldinho Borgo não deve trocar de partido?

Mantendo-nos sempre abertos a surpresas, explicamos aqui por que não faz o menor sentido Arnaldinho sair do Podemos nesta altura do processo eleitoral

Publicado

em

Arnaldinho Borgo com Casagrande durante desfile cívico de 23 de maio em Vila Velha (2023). Crédito: Adessandro Reis/Secom PMVV

A dois dias do fim do prazo para que todos os pré-candidatos estejam filiados aos partidos pelos quais vão concorrer, o prefeito Arnaldinho Borgo tem uma decisão a tomar: ficar no Podemos ou sair do partido pelo qual se elegeu em 2020 e disputar a reeleição por outra sigla? Dos cinco prefeitos da Grande Vitória habilitados a buscar a reeleição, ele é o único que ainda tem alguma chance de mudar de legenda.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Dois partidos, ambos posicionados na centro-direita, estendem tapete vermelho para filiar Arnaldinho. Um deles é o União Brasil, presidido no Espírito Santo pelo secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, que ontem (3) confirmou publicamente apoio à reeleição do prefeito de Vila Velha. A assessoria de Arnaldinho usou literalmente essa expressão: “Rigoni estendeu tapete para Arnaldinho ingressar no União Brasil até sábado, prazo final para a troca partidária. O prefeito agradeceu e disse que vai avaliar o convite feito pelo presidente estadual”.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Praticando um assédio ainda mais forte, o outro partido é o Progressistas (PP), presidido no Estado pelo deputado federal e líder da bancada do Espírito Santo no Congresso, Josias da Vitória. É o único para o qual Arnaldinho realmente poderia ir. Ele e Da Vitória chegaram a manter conversas sobre o tema e, em entrevista publicada aqui no último dia 21 de março, o líder estadual do PP passou uma cantada pública no prefeito, enumerando as vantagens que ele encontraria em disputar a reeleição pelo partido (efetivamente em ascensão no cenário capixaba).

Nem União Brasil, nem Progressistas.

Arnaldinho, é claro, está valorizando os convites, que o ajudam a se valorizar. E a política nos ensina a nos mantermos sempre abertos a reviravoltas… mas, de fato, seria uma grande surpresa se ele decidisse sair do Podemos para qualquer outro partido a esta altura, num momento tão delicado do processo eleitoral, à beira do encerramento do prazo para filiações e montagem de chapas de candidatos a vereador, chamado pelos estrategistas de “fase 1” da pré-campanha.

Seria um movimento brusco demais, arriscado demais, desnecessário demais…

Além do Podemos, Arnaldinho tem cerca de dez partidos já integrando ou propensos a integrar a sua coligação eleitoral em Vila Velha, que vão da centro-esquerda (o PSB do governador Renato Casagrande) à direita conservadora (o Republicanos do ex-presidente da Assembleia Legislativa Erick Musso).

Como centro desse microcosmo, o prefeito precisa pisar em ovos; deve agir como um ponto de equilíbrio entre os seus mais diversos aliados que também são concorrentes entre si e cujos interesses não raro se atravessam. Como um equilibrista de pratos, ele precisa manter todos girando (em sua direção) ao mesmo tempo, tomando o máximo cuidado para não melindrar o aliado A ao fazer determinado movimento em direção ao aliado B.

Pois bem, todo o jogo da reeleição em Vila Velha foi construído por Arnaldinho e em torno dele partindo-se da premissa de que o prefeito será candidato à reeleição pelo Podemos. Esse “jogo” inclui a montagem das chapas de vereadores dos vários partidos que vão se coligar ao Podemos para apoiar sua recondução. São muitas as chapas de vereadores que o prefeito ajudou pessoalmente a montar. Esse terreno cultivado com esmero e aplainado por Arnaldinho está muito bem assentado.

Ora, se o prefeito subitamente vira para outro lado, dá um pé no Podemos e vai para o PP, em vez de centro do equilíbrio, ele se torna de repente o epicentro de um terremoto político em sua própria frente aliada. Mexe com todas as placas tectônicas, desarranja-as, desarruma-as… Cria arestas para si, descontenta e contraria aliados, desestabiliza todo um terreno que já estava estabilizado. E tudo sem a menor necessidade.

Com uma decisão como essa, o primeiro parceiro com quem ele teria problemas seria justamente o seu atual partido.

Arnaldinho montou a dedo a chapa do Podemos – que terá, entre outros, o ex-presidente da Câmara Ivan Carlini. A chapa será anunciada nesta sexta-feira (5). Por acaso faria algum sentido ele anunciar a chapa do Podemos para logo em seguida dizer “até logo, estou indo ali, disputar a reeleição pelo PP”, fortalecendo com a sua presença uma chapa de vereadores de outro partido, a qual ele não ajudou a montar?

O primeiro que teria motivos para reclamar – e muito – seria o próprio Podemos, dos seus candidatos a vereador às direções estadual e nacional, que com toda a razão se sentiriam passadas para trás.

Nascido e criado na política como é, Arnaldinho é um político experiente e pragmático, que sabe bem calcular os riscos de seus movimentos e, sempre que possível, evitá-los.

“O deputado federal do Arnaldinho”, Victor Linhalis, está no Podemos. Sua relação é muito boa com a presidente nacional do partido, Renata Abreu. Ele tem lá seus desentendimentos com o presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel? Como é público e notório, tem. Discorda politicamente do modo como o deputado federal conduz a sigla no Estado. Isso é uma coisa. Outra coisa é dar um cavalo de pau que pode prejudicar a si mesmo.

Comodidade no Podemos

Por maiores que sejam as desavenças entre Arnaldinho e Gilson Daniel, a verdade é que o prefeito encontra hoje no Podemos uma situação muito confortável para postular a reeleição, garantida pela direção nacional e pelo próprio Gilson, inclusive em termos de financiamento de campanha.

Divergências à parte, Gilson sempre declarou que a reeleição de Arnaldinho é tratada por ele e pelo Podemos como prioridade total. A expectativa de reserva de um bom volume de recursos para a campanha de Arnaldinho, dada a dimensão do município (Vila Velha está entre os 50 mais populosos do Brasil), fica ainda mais certa com a guinada de Alexandre Ramalho, trocando o Podemos pelo PL, precisamente para desafiar Arnaldinho no território do prefeito.

Ramalho era cotado pelo Podemos (incluindo Gilson Daniel e Renata Abreu) para disputar a Prefeitura de Vitória, a joia da coroa, o que implicaria uma redivisão dos recursos para mais bocas – possivelmente diminuindo o quinhão de Arnaldinho. Com a saída de Ramalho, o status de importância do prefeito de Vila Velha cresce ainda mais no partido e sua situação fica ainda mais cômoda. Candidato à reeleição em Colatina, Guerino Balestrassi foi para o MDB, em vez de ficar no Podemos.

O Podemos pode ter candidato a prefeito em mais de 30 cidades capixabas. Mas agora, entre as maiores, o partido, além de Vila Velha (467 mil habitantes), só terá candidato a prefeito em Viana (73 mil habitantes), com o atual ocupante do cargo, Wanderson Bueno; em Linhares (166 mil habitantes), com o deputado estadual Lucas Scaramussa; e, talvez, em Guarapari (124 mil habitantes), com o ex-vereador Gedson Merízio. Ninguém tem a menor dúvida de que, inclusive financeiramente, a reeleição de Arnaldinho será prioridade para os dirigentes estaduais e nacionais do Podemos.

Até porque, de novo, por maiores que sejam as diferenças entre Arnaldinho, está em jogo agora também uma questão de brios políticos: por acaso Gilson Daniel há de querer perder o comando da segunda maior cidade do Espírito Santo para Alexandre Ramalho, um desertor do partido? Fortalecer a campanha de Arnaldinho, para derrotar Ramalho em Vila Velha, virou para o Podemos até uma questão de honra.

E mais: se Arnaldinho for para o PP, ele pode desagradar ninguém menos que o seu maior parceiro político no Espírito Santo: o governador Renato Casagrande, que tanto tem dado respaldo administrativo para a sua gestão.

Afinal, entrando no partido de Da Vitória, ele entraria da noite para o dia no partido de alguém que, notoriamente, está se desvencilhando de Casagrande, visando fortalecer um movimento próprio para se lançar a alguma candidatura majoritária (governador ou senador) em 2026.

Em Vitória, para ficar em um exemplo, o PP, pelas mãos de Da Vitória, vai apoiar a reeleição de Pazolini, possivelmente indicando o vice do prefeito que é adversário de Casagrande e que o Palácio Anchieta quer derrotar a todo custo. Aí Arnaldinho, o “grande aliado de Casagrande”, de repente entra no partido de Evair de Melo, que vive atacando o governo, e de Da Vitória, que cria asas para alçar voos próprios? É nada menos que a dupla que levou o PP para os braços de Pazolini. Não faz muito sentido.

O fator ideológico

Por fim, entre os argumentos de Da Vitória para seduzir Arnaldinho, o presidente estadual do PP mencionou o fator ideológico: como político de centro-direita, o prefeito ficaria mais à vontade no PP, partido com o mesmo perfil, do que no Podemos.

Arnaldinho de fato é um político de centro-direita. Posicionando-se em um partido como o PP, o prefeito, em teoria, teria mais um argumento para bloquear as investidas que Ramalho já começa a ensaiar contra ele na arena ideológica: o coronel buscará rotular Arnaldinho como “candidato da esquerda” etc.

Mas isso é muito relativo, e me parece que, nesse caso, ficar no Podemos ou ir para o PP fará muito pouca diferença para Arnaldinho. Os dois no fundo estão no Centrão, não têm lá um contorno ideológico tão bem definido, tanto é que o PP, sempre pronto a negociar com o governo da vez, agora adentra o governo Lula. Também aos olhos do eleitor, não creio que faria diferença…

Além disso, o que é mais importante, Arnaldinho não parece muito preocupado com essas questiúnculas ideológicas nem interessado em levar o debate eleitoral para esse campo. Ao contrário, indica que seu plano é fazer tudo para evitar o debate estéril “direita versus esquerda”, trocando-o por uma campanha concentrada nos temas da cidade. “Ele tenta se equilibrar muito nessa polarização”, afirma um auxiliar do prefeito.

Ao mesmo tempo, se ele for para o PP e começar a figurar ao lado de um radical bolsonarista como Evair de Melo, adversário do governo Lula e do governo Casagrande, isso pode até azedar sua relação com ambos… E Arnaldinho não quer se dar ao luxo de parecer adversário nem do Governo do Estado muito menos do Governo Federal, que acaba de incluir oito projetos estruturantes de Vila Velha no PAC-3.

Arnaldinho pode até ter votado em Bolsonaro, mas nunca aceitou a pecha de “bolsonarista” e, a bem da verdade, nunca se declarou assim publicamente. Segundo um colaborador, nem publicamente nem para a sua equipe.

Ele tem posições conservadoras de direita que convergem com as de bolsonaristas – é católico, defende o direito ao porte de armas para civis que preencham os requisitos legais –, mas está longe de apoiar incondicionalmente o ex-presidente e de concordar com todas as loucuras ditas por ele, Magno Malta etc. Segundo um colaborador, Arnaldinho criticou internamente, por exemplo, a fala de Michelle Bolsonaro na Avenida Paulista, no dia 25 de fevereiro, na qual a ex-primeira-dama negou o preceito constitucional do Estado laico.

“Não tenho o direito de brigar nem com o governador nem com o presidente”, costuma dizer Arnaldinho.

Também por isso, é mais provável que ele fique onde está. Se conquistar a reeleição, a discussão passa a ser outra. Ele poderá trocar de partido, mas para ser candidato a governador em 2026.

Partidos já vão para ele

O prefeito não precisa ir para o União Brasil para tê-lo em sua coligação. O partido já está com ele. Também não precisa ir para o PP para tê-lo com ele. Dirigentes do partido dão sinais de que podem ficar com Arnaldinho mesmo que ele não entre na sigla. Nesse caso, vão pleitear a indicação do candidato a vice-prefeito, posto cujo favorito é o presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti, recém-filiado ao MDB

A coligação de Arnaldinho

Além do Podemos, os partidos sob a asa do prefeito, com os respectivos presidentes estaduais, são:

  • Agir
    MDB (Ricardo Ferraço)
    União Brasil (Felipe Rigoni)
    PRD (Marcelo Santos, por intermédio de Joelma Costalonga)
    Republicanos (Erick Musso)
    Novo (Iuri Aguiar)
    PSB

É possível que outros partidos, como o PDT e o PP, também ingressem na aliança capitaneada por Arnaldinho.