Coluna Vitor Vogas
Análise: como foi o aguardado debate entre Weverson e Muribeca
Destrinchamos aqui para os leitores as estratégias postas em prática pelos dois candidatos no importante debate A Gazeta/CBN, o qual expôs mais as fragilidades do que propriamente as virtudes de cada um. Saiba como Weverson procurou desconstruir Muribeca, e vice-versa

Pablo Muribeca e Weverson Meireles no debate A Gazeta/CBN (21/10/2024)
Promovido na manhã desta segunda-feira (21) pelo site A Gazeta e pela rádio CBN, o primeiro e muito aguardado debate do 2º turno entre os candidatos a prefeito da Serra, Weverson Meireles (PDT) e Pablo Muribeca (Republicanos), foi marcado, antes de tudo, por nervosismo, provocações e ataques mútuos – confirmando em grande medida o que já se esperava, dada a escalada de tensão entre as duas campanhas nas redes sociais e nas ruas dos municípios. Quanto ao conteúdo, serviu muito mais para expor fragilidades e limitações dos dois candidatos do que para realçar as respectivas qualidades.
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No geral, foi muito ruim. Ambos tiveram desempenho tecnicamente fraco e bem pouco propositivo. Para se ter uma ideia, um tema vital como a segurança pública mal foi mencionado.
O debate teve quatro blocos e, pelas regras da contenda, cada candidato teve 30 minutos para falar, sem contar respostas a perguntas de jornalistas e considerações finais. O tempo pareceu uma eternidade e, não fossem as regras preestabelecidas, poderia até ter sido encurtado sem prejuízo para ninguém. Em meados do segundo bloco, a interlocução entre eles já soava monótona.
Tanto Weverson como Muribeca mostraram enorme dificuldade em desenvolver algum raciocínio mais elaborado e ir além das estratégias com que chegaram ao estúdio da Rede Gazeta, predeterminadas pelos respectivos marqueteiros.
Muribeca abusou do direito de sair pela tangente e se esquivar de perguntas. Apresentou pouquíssimo em termos de propostas objetivas para a cidade. Mostrou grande limitação sempre que chamado a debater de maneira mais técnica e a exibir conhecimentos específicos sobre os temas abordados e sobre a administração pública municipal.
Weverson, por sua vez, apresentou mais propostas objetivas, mas não muito mais que o oponente e de maneira em geral bastante vaga (quase tudo colocado, genericamente, em termos de “conquistas” e “desafios”). Também abusou da repetição dos tópicos e das palavras-chave de seu discurso de campanha, preparado por sua equipe de marketing eleitoral, repetindo bordões como um disco arranhado.
Ao longo do debate, somente que eu tenha contado, o candidato de Sergio Vidigal (PDT) usou 27 vezes a palavra “conquista(s)”, falando a todo instante em “novas conquistas”, ou “manter as conquistas e avançar muito mais”. Falou pelo menos 14 vezes em “equilíbrio emocional” e “conhecimento/capacidade de gestão”, seja atribuindo a si mesmo tais predicados, seja, por oposição, afirmando que eles faltam ao adversário. Também repetiu diversas vezes que é ele quem representa a “mudança segura”, ou a “renovação segura” para a Serra. E não foi muito além disso.
Ironicamente, à parte o chapelão de Muribeca, os dois se apresentaram ao duelo vestidos de maneira praticamente idêntica, com direito ao mesmo modelo de sapatênis, mas as semelhanças pararam aí.

Pablo Muribeca e Weverson Meireles no debate A Gazeta/CBN (21/10/2024)
Ambos se concentraram muito mais em sublinhar as diferenças entre eles, buscando desqualificar o adversário. De que maneira? Vejamos a seguir.
A ESTRATÉGIA DE WEVERSON
Associar Muribeca a “desequilíbrio”, “despreparo” e “desconhecimento de gestão”
A principal estratégia de Weverson no trabalho de desconstrução de Muribeca foi apresentar o adversário como alguém desequilibrado e tecnicamente despreparado: “Estou preocupado com o futuro da Serra se cair em mãos desequilibradas, em mãos que não têm conhecimento de gestão”.
Ele usou contra Muribeca as supostas “fiscalizações” praticadas pelo deputado, desde os tempos de vereador, em unidades de saúde da Serra, e publicadas em suas redes sociais: “Aqui não tem candidato que invade Unidade de Pronto Atendimento. Aqui tem candidato que, ao lado do prefeito Sergio Vidigal, propusemos e solucionamos desafios para a Serra”.
Weverson também apontou o tempo todo as limitações técnicas de Muribeca: “Não formula uma proposta”.
Nesse sentido, o candidato do PDT aproveitou uma oportunidade regalada pelo próprio Muribeca. Num vacilo, o adversário fez ao vivo a proposta, realmente grandiosa e seguramente bem custosa, de construir, se eleito, quatro novas creches por ano na Serra. Seriam 16 creches em quatro anos de governo. Pegando a deixa, Weverson lhe perguntou, insistentemente, quanto custa construir uma creche. Muribeca deixou a pergunta sem resposta, respondendo sempre com outra pergunta.
Também para rotular Muribeca como “despreparado” e “desequilibrado”, Weverson reiteradamente questionou Muribeca sobre suas propostas concretas para combater a violência contra a mulher (tema delicado para o deputado), “já que não consta nada sobre isso no seu plano de governo”. Também ficou sem resposta.
Sugerir (apenas sugerir) problemas de Muribeca com a Justiça
Weverson tachou Muribeca como “campeão de fake news”, expressão pela qual se referiu algumas vezes ao adversário. Disse que, só na atual campanha. Muribeca já “coleciona” 15 processos por difusão de informações falsas sobre ele, sua família e sua campanha.
Marotamente, em dois momentos, o candidato da situação insinuou que o oponente enfrenta problemas bem maiores na Justiça.
“Não vou citar nenhum processo, não vou citar a ficha corrida de ninguém, não vou citar nenhum processo que corre em segredo de Justiça”, afirmou Weverson, já trazendo o tema à tona, ao negar que o faria.
Em outro momento, o candidato do PDT folheou, apenas folheou, uma pilha de papéis que estavam sobre o seu púlpito. “Essa aqui é sua ficha corrida, tá? Processos no Ministério Público e na Polícia Civil…”
As regras do debate não permitiam a exibição de documentos, e Weverson chegou a ser advertido pela mediadora, Fernanda Queiroz, mas ele não chegou a fazê-lo. Aliás, aqueles poderiam ser quaisquer papéis, não é possível saber… Ele só buscava mesmo o efeito produzido pela insinuação, objetivo que foi alcançado.
Vincular-se a Casagrande e a Vidigal
Por fim, como não poderia deixar de ser, Weverson frisou o tempo inteiro seu vínculo político com o governador Renato Casagrande (PSB) e, destacadamente, com o prefeito Sergio Vidigal (PDT), citado inúmeras vezes por ele. “Estou desde os 12 anos de idade ao lado do Vidigal.”

Pablo Muribeca e Weverson Meireles no debate A Gazeta/CBN (21/10/2024)
A ESTRATÉGIA DE MURIBECA
Tratar Weverson como forasteiro
Apresentado em sua própria propaganda eleitoral como “o filho da Serra”, Muribeca de fato nasceu e criou-se no distrito rural que ele leva no nome de urna, ao passo que Weverson cresceu na Grande Maruípe, em Vitória, e, como dirigente do PDT, já foi vice-presidente do partido em Vitória e pré-candidato a prefeito da Capital em 2020 (uma pré-candidatura que rapidamente “gorou”).
Apostando no bairrismo do eleitorado serrano, Muribeca levou ao debate a estratégia, exercitada desde o 1º turno, de pintar Weverson como um forasteiro. O deputado chamou o adversário várias vezes de “cidadão de Vitória”, “moldado para essa eleição na Serra.” “O senhor não é nem morador da cidade.”
Também buscou rotular Weverson como alguém que não conhece de fato a Serra: “É uma pessoa despreparada, que não conhece a cidade, que nunca foi morador da cidade. O candidato não conhece a Serra e não sabe o que o cidadão está precisando”; “O candidato devia estar em outra cidade. Devia estar em Tabuazeiro ou Maruípe, menos na Serra.”
Em tom provocativo, Muribeca chegou a perguntar ao concorrente: “Você teve a candidatura em Vitória na última eleição. Você agora tem a candidatura na Serra. Eu virando prefeito, na próxima candidatura, você vai ser candidato em Cariacica?”. Também bombardeou Weverson com perguntas como “onde você estava nos últimos quatro anos?”, “onde estava durante todo esse tempo?”.
Muribeca ainda contestou as “conquistas” tão destacadas pelo oponente: “A ‘conquista’ é deixar as pessoas na fila de espera como o senhor deixou por quatro anos? O senhor não apareceu porque o senhor estava em Vitória sendo secretário, depois o senhor voltou pra Serra, mas a Serra nunca tinha visto o senhor antes do processo eleitoral”.
Weverson respondeu que a Justiça já proibiu Muribeca de afirmar que ele não mora na Serra. Quanto a ter sido pré-candidato há quatro anos em Vitória, ele admitiu o fato e se explicou assim:
“Sou um homem partidário. Sim, meu partido me pediu para que eu propusesse o debate na capital do estado do Espírito Santo, pelo conhecimento que eu tenho. Não fui candidato em Vitória. Mas propus o debate, fomentei um debate equilibrado (…). Mas agora é que estou cumprindo a maior missão da minha vida, que é ser candidato na minha cidade da Serra.”
Apresentar-se como mais do povo, mais autêntico e mais empático
Muribeca também procurou arrogar-se maior autenticidade, arvorando-se em genuíno representante político da população da Serra. Apresentou-se como um candidato mais popular, no sentido literal, de fazer parte do povo, de ser mais “gente como a gente”, conhecer de perto os problemas da cidade, sentir no dia a dia o sofrimento da população e, portanto, ter muito maior empatia com a dor do povo humilde.
“Minha parceria é com o povo da Serra”, disse o candidato do Republicanos. “Todos se uniram contra o Pablo Muribeca, porque é o candidato do povo, o candidato que se tornou vereador com o voto do povo, que se tornou o deputado estadual mais votado da história da cidade, com o voto popular.”
Weverson, em contrapartida, foi rotulado por ele como “arrogante” e artificial (como um produto de marketing eleitoral). “Ele é todo montadinho”, disse Muribeca, afirmando ainda que o adversário está “vestido de cordeirinho”. “Ele é despreparado a ponto de não conhecer a sua dor. Nunca foi nem vereador. Não conhece a dor do povo.”
O candidato de Vidigal rebateu que Muribeca, como deputado estadual, quase não destinou para a Serra as emendas parlamentares a que tem direito no orçamento estadual.
Para reforçar a própria humildade, em contraponto à “arrogância” atribuída a Weverson, Muribeca tirou o chapéu e o pôs sobre o coração nas considerações finais. “Só tiro o chapéu na igreja e para o povo.”
Acusar o revezamento no poder e a “falsa mudança”
Como em sua propaganda eleitoral, cujo slogan é “a mudança de verdade”, Muribeca argumentou que Weverson representa a continuidade do grupo político que governa a Serra há quase 30 anos. Desde 1997, o município só teve dois prefeitos, que de fato se alternam no poder: Sergio Vidigal e Audifax Barcelos (PP), inicialmente aliados, mas rompidos desde 2008.
Como o patrono da candidatura de Weverson é o próprio Vidigal, a “mudança segura” prometida pelo candidato do PDT seria na verdade, segundo Muribeca, a “continuidade do que não foi feito”.
“Esse grupo político está há 30 anos no poder na Serra. E o senhor está há 30 anos junto com esse grupo político”, afirmou Muribeca. “Está aí com o prefeito há 20 anos e não resolveu nada. Até quando o senhor vai ficar se escorando no prefeito Sergio Vidigal?”
Segundo o candidato do Republicanos, os apoiadores de Vidigal estão desesperados para se manterem no poder. “É [sic] 30 anos de pessoas que estão desesperadas porque não querem perder o poder. Esse é o meio de vida dessa gente.”
Muribeca ainda acusou Weverson de ter recebido R$ 10 mil mensais, além do salário, enquanto foi chefe de gabinete de Vidigal, a título de jetom, “para defender as benesses do prefeito”. Weverson respondeu que ele recebia esse adicional por participação em um conselho aprovado pelo Tribunal de Contas do Estado.
Sem citar Audifax, o candidato do PDT lembrou que Muribeca se elegeu vereador, em 2020, para seu primeiro mandato, pela coligação de Audifax e pelo grupo do então prefeito da Serra.

Pablo Muribeca e Weverson Meireles no debate A Gazeta/CBN (21/10/2024)
OS ALIADOS
Pazolini vira coadjuvante incidental em debate da Serra… e não só ele
Numa declaração meio difícil de entender, Muribeca, em dada altura, trouxe indiretamente para o debate o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini: “Por que investir milhões em asfalto sobre asfalto e deixar de cuidar da saúde de quem mais precisa? Isso não entra na minha cabeça!”
Reeleito no 1º turno no dia 6 de outubro, o prefeito de Vitória é aliado e correligionário de Muribeca no Republicanos, além de apoiar a sua eleição na Serra. Na última sexta-feira (18), os dois fizeram fotos e vídeo juntos no Viaduto de Carapina. No fim de semana, Pazolini foi personagem de uma polêmica com a campanha de Weverson.
Durante toda a campanha eleitoral em Vitória, foi Pazolini, não Vidigal, quem foi acusado por adversários de “investir milhões em asfalto sobre asfalto” (por conta do recapeamento de ruas da Capital, realizado nos últimos meses pela Prefeitura de Vitória). Por isso o comentário de Muribeca soou tão esquisito.
Weverson não perdeu a deixa:
“Acho que ele está aqui confundindo o aliado dele com o meu aliado. Quando ele fala ‘asfalto sobre asfalto’, ele deve estar falando do prefeito da Capital, que é o apoio que ele tem. Ele está agora andando a cidade ao lado do prefeito da capital do Estado. Eu quero ainda entender como é que o prefeito da Capital vai ajudar a nossa cidade da Serra”, ironizou o candidato de Vidigal, emendando uma crítica já veiculada na sua propaganda de rádio:
“Aliás, o prefeito da Capital muito ajudaria se pudesse atender os seus 10 mil pacientes que ele deixa ir pra nossa cidade, se atendesse na UPA de Vitória. Aliás, não tem UPA em Vitória…”
Não tem mesmo e, durante a campanha em Vitória, Pazolini anunciou o início da construção da primeira.
“Ele [Pazolini] vai limitar o crescimento de Vitória para que a Serra possa crescer? Se ele cuidasse da saúde de Vitória já nos ajudaria muito, desafogando nossa UPA”, voltou a ironizar Weverson. E aproveitou para reiterar: “O aliado dele é Lorenzo Pazolini. O meu aliado é Renato Casagrande e Sergio Vidigal”.
Mais para o fim do debate, Muribeca literalmente inverteu o número dado antes por Weverson, levando o pedetista a dar uma gargalhada de deboche.
“Se não é o prefeito Pazolini para acolher 10 mil moradores da Serra em acolhimento e consultas, o morador da Serra ia estar sofrendo mais ainda”, disse Muribeca.
Após gargalhar, Weverson retrucou: “Ele inverte. Ele é tão campeão nas fake news que ele inverte os dados”.
Muribeca rebateu com outa provocação: “Tá com ciúmes da minha amizade e da minha parceria com o prefeito de Vitória?”
O deputado reclamou ainda de que apoiadores de Weverson estão hostilizando ele e os seus apoiadores nas ruas e nas redes sociais. Citou o deputado estadual Alexandre Xambinho (Podemos), um dos principais aliados do pedetista. “É uma milícia digital, criando ameaças para tentar me inibir.”
Muribeca disse já ter sido até ameaçado de morte.
Tarcísio de Freitas e Damares
Mas não foi só Pazolini quem acabou “comparecendo” ao debate.
Muribeca ainda citou a ex-ministra dos Direitos Humanos e senadora pelo Distrito Federal Damares Alves, como sua amiga, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como seu aliado. Ambos são do Republicanos. “Eu tenho o governador Tarcísio, para que a gente possa fazer ambiência de negócios.”

Pablo Muribeca e Weverson Meireles no debate A Gazeta/CBN (21/10/2024)
Weverson, uma vez mais, soltou uma gargalhada.
“Vocês viram agora quem vai ser o parceiro dele? O governador Tarcísio! O governador de São Paulo e o prefeito da Capital! É inacreditável!”
CENAS CURIOSAS
Em sua propaganda eleitoral, desde o 1º turno, Muribeca faz o gesto do “M da Mudança”, com os dedos indicador, médio e anelar apontados juntos para baixo, formando as três pernas do M. O gesto é o mesmo utilizado pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB) na campanha dele a prefeito de São Paulo. Além de “mudança”, a inicial remete a Muribeca.
No debate de A Gazeta e CBN, Muribeca também citou o versículo repetido à saciedade pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
Assim como Weverson, ele é evangélico.
“Fica com medo não, vem cá pertinho…”
As regras do debate permitiam aos candidatos circular livremente pelo tablado, sem precisarem ficar presos atrás dos respectivos púlpitos, como no modelo tradicional e mais engessado.
No primeiro bloco, Muribeca fez uma fala inicial e ocupou o centro do tablado. Na vez de Weverson falar, este saiu devagar detrás do próprio púlpito. Muribeca se aproximou do adversário, deu-lhe um toquezinho nas costas e lhe disse bem baixinho: “Fica com medo não, vem cá pertinho…”. “Não tô com medo, não…”, respondeu Weverson, sem graça.
Muribeca foi advertido pela mediadora. Weverson usou a deixa para desferir a primeira alfinetada: “Regras! Tem gente que não sabe representar as regras…”
