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Coluna Vitor Vogas

Aliado de Lorenzutti passa pro time Ramalho e tem cunhada exonerada

Procurador-geral da Câmara de Vila Velha, Renato Cintra declarou apoio a Ramalho falando em “deslealdade” de Arnaldinho com Lorenzutti, o presidente da Casa, na escolha do vice. Três dias depois, prefeito exonerou cunhada do “desertor” de cargo comissionado na PMVV

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À esquerda, Renato Contra em homenagem à esposa dele na CMVV, entre Bruno Lorenzutti e Arnaldinho Borgo; à direita, Cintra declara apoio a Ramalho. Fotos: Reprodução do Instagram

À esquerda, Renato Contra em homenagem à esposa dele na CMVV, entre Bruno Lorenzutti e Arnaldinho Borgo; à direita, Cintra declara apoio a Ramalho. Fotos: Reprodução do Instagram

Na política canela-verde, o advogado Renato Cintra não é dos personagens mais importantes. Um gesto recente dele, sim, é de elevada importância, pelo simbolismo que carrega.

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Cintra tornou-se procurador-geral da Câmara Municipal de Vila Velha, cargo comissionado ocupado por ele até hoje, no dia 2 de janeiro de 2021, segundo seu próprio relato. Um dia antes, o primeiro da atual legislatura, o vereador Bruno Lorenzutti (então no Podemos) foi eleito presidente da Casa. Os dois fatos estão intimamente ligados.

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Cintra pode ser considerado, tranquilamente, um dos maiores e mais próximos aliados políticos do presidente da Câmara de Vila Velha. Lorenzutti, por sua vez, pode ser considerado um dos maiores e mais próximos aliados políticos do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos). Ou, ao menos, podia ser considerado, até o último dia 2.

Por seu histórico de parceria, por ter ajudado Arnaldinho a montar chapas de vereadores de partidos aliados, por ter até mudado de partido (trocou o Podemos pelo MDB, em março) para ampliar o leque de alianças do prefeito, Lorenzutti era considerado por quase todo mundo favoritíssimo para ser o companheiro de chapa de Arnaldinho.

No dia 2 de agosto, contudo, contrariando as expectativas, o prefeito escolheu seu ex-secretário municipal de Planejamento, Cael Linhalis (PSB), como candidato a vice-prefeito.

“Sangrando pelo fogo amigo” (como diria o presidente estadual de seu partido, Ricardo Ferraço), Lorenzutti decidiu recolher-se: não fará campanha para Arnaldinho, embora reconheça que sua reeleição será positiva para Vila Velha. Nem cogita subir em outro palanque. Em entrevista à coluna, acusou “falta de transparência” por parte do prefeito. Asseverou que, diversas vezes, Arnaldinho lhe garantiu que ele seria seu vice.

Voltando a Renato Cintra, o procurador-geral da Câmara e braço direito de Lorenzutti foi muito além. Na última sexta-feira (16), primeiro dia de campanha oficialmente liberada, compareceu a evento do Coronel Ramalho e declarou apoio ao candidato a prefeito do PL. Chegou a gravar vídeo de apoio ao lado do adversário de Arnaldinho, postado no Instagram por ambos.

O desdobramento não tardou. Em uma possível relação de causa e efeito, ação e reação, o Diário Oficial de Vila Velha trouxe nesta segunda-feira (19) o ato de exoneração da servidora Michelle Silva de Almeida Cintra. Ela ocupava o cargo comissionado de assessora adjunta da Secretaria Municipal de Saúde. A portaria, assinada pelo próprio Arnaldinho, é datada da última sexta-feira (16), mesmo dia do apoio de Renato Cintra (notem o sobrenome) a Ramalho.

A exoneração teria passado despercebida não fosse o grau de parentesco dos dois personagens: a servidora exonerada é cunhada de Renato Cintra. Falando à coluna, ele confirmou que ela é casada com seu irmão, há cerca de 18 anos. Relatou que os dois estão em processo de separação, mas que ainda são casados no civil.

O procurador-geral da Câmara, agora no palanque de Ramalho, não tem dúvidas em classificar a demissão da cunhada como uma resposta a seu posicionamento. A campanha de Ramalho também não hesita em associar os dois fatos. A assessoria do coronel falou em “clara retaliação política” por parte do atual prefeito.

“A minha cunhada, Michelle, era assessora-adjunta da Secretaria de Saúde pela competência dela. Foi analista de sistemas da Unimed por mais de 10 anos e era competente ao extremo. A exoneração me pegou de surpresa, porque o próprio prefeito fala que a gestão dele é técnica, não é política. Ora, se ele a exonerou só porque eu declarei apoio a Ramalho, está admitindo que a nomeou politicamente, e não por questão técnica. Por outro lado, se ela tem capacidade técnica, por que a exonerou? Por vaidade?”, questiona Renato Cintra.

Cintra agora está contra

O advogado e procurador-geral da Câmara conta que sua relação com Lorenzutti é de irmãos e remonta à infância.

“Apesar de eu ocupar um cargo técnico na Câmara, eu sou aliado político do Bruno Lorenzutti. Sou amigo de infância dele e o conheço há 36 anos. Crescemos em bairros vizinhos, ele em Araçás e eu em Guaranhuns. No primeiro mandato do Bruno na Câmara, de 2017 a 2020, eu já trabalhava como assessor de gabinete dele, dando a ele assessoria jurídica. Quando ele chegou à presidência, me nomeou para procurador-geral da Casa. Quando ele era do Podemos, eu também era. Em março, migrei com ele para o MDB, no mesmo movimento.”

Segundo Cintra, ele nunca foi propriamente aliado de Arnaldinho, mas sim de Lorenzutti. Como tal, seguia as orientações políticas do presidente da Câmara. Como Lorenzutti fazia parte do grupo político de Arnaldinho, ele também apoiava o prefeito:

“Eu seguia as orientações políticas do Bruno. Ele caminhou junto com o prefeito, então caminhei junto com ele, acompanhando o grupo. Nunca fui da base ou do grupo do atual prefeito. Sempre fui do grupo do Bruno. Importante lembrar que foi o Bruno quem convidou o Arnaldinho para entrar no Podemos em 2020”, rememora. Na ocasião, Lorenzutti era o presidente do Podemos em Vila Velha e, sem espaço no MDB, Arnaldinho estava em busca de legenda para ser candidato a prefeito.

Sobre a escolha do vice de Arnaldinho, em desfavor de Bruno Lorenzutti, Cintra avalia que faltou lealdade por parte do prefeito:

“Fico até sem palavras, sem poder descrever e avaliar, porque pegou todo mundo de surpresa. Não tinha como a gente nem imaginar oura hipótese a não ser o Bruno como vice. Ele confiou tanto que seria o vice que até liberou uns quatro nomes que fazem parte do grupo dele para serem candidatos a vereador, já que ele mesmo não seria. Para mim, não teve lealdade nem fidelidade, mas quem pode falar melhor é o próprio prefeito. O que machucou bastante, para mim, não foi nem só a escolha, mas como foi o processo de escolha, porque lá em fevereiro o prefeito fez um sinal de que seria o Bruno, chamando ele para ajudar a construir as suas chapas de candidatos a vereador.”

Sobre seu apoio pessoal a Ramalho, o aliado de Bruno Lorenzutti diz que foi “um gesto espontâneo, sem comunicar ao Bruno”.

Bolsonarista, Cintra afirma que, em seu íntimo, já preferia apoiar Ramalho, mas que, por lealdade total a Lorenzutti, manteria seu apoio a Arnaldinho sem pensar duas vezes, caso o presidente da Câmara fosse seu candidato a vice-prefeito. Como não é…

“Sou leal à amizade. A amizade que tenho por Bruno é uma amizade de irmãos. Sou mais próximo dele do que sou dos meus irmãos. Então, por lealdade e princípios, estaria com o prefeito com certeza, para atender a um pedido do Bruno Lorenzutti.”

Na foto abaixo, Renato Cintra e Bruno Lorenzutti posam ao lado das respectivas esposas com o adesivo do número de urna de Arnaldinho, no dia 20 de julho (há exatamente um mês), durante a convenção do Podemos em Vila Velha, na qual a candidatura do prefeito à reeleição foi confirmada.

Bruno Lorenzutti e Renato Cintra com respectivas esposas durante convenção de Arnaldinho. Foto: Reprodução do Instagram

Bruno Lorenzutti e Renato Cintra com respectivas esposas durante convenção de Arnaldinho (20/07/2024). Foto: Reprodução do Instagram

Cintra informa, ainda, que já levou para o palanque de Ramalho um grupo de cerca de dez outros aliados de Lorenzutti, formado principalmente por advogados como ele, todos lotados na Câmara de Vila Velha. Mas muitos outros aliados de Lorenzutti, admite, mantêm-se fiéis a Arnaldinho.

“Quando a gente olha pro gigante, a gente tropeça. Mas, quando a gente olha pra Deus, é o gigante que tropeça”, encerra o procurador-geral da Câmara, num tom entre o místico e o profético.

Sem resposta de Arnaldinho

Por volta das 18 horas desta segunda-feira, perguntamos à assessoria de Arnaldinho os motivos da exoneração de Michelle Cintra. Não obtivemos resposta até a publicação deste texto.


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