Coluna Valor em Foco
Valor em Foco | “Olá, Dr., tudo bem?”
Confira o artigo de Marcel Lima à coluna Valor em Foco, um espaço de conteúdo produzido pelos especialistas da Valor Investimentos
*Artigo escrito por Marcel Lima
Sócio e assessor de investimentos da VALOR
Você acaba de entrar em um consultório médico para tratar de uma dor no braço. O médico o(a) examina e logo encontra a solução. Ele receita vários remédios, referencia algumas farmácias de confiança e… “ok, volte daqui a duas semanas”.
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Você não faz a menor ideia de como esses medicamentos agirão no seu corpo. Você confia no Dr. e passa a consumi-los.
Mas, espere! Será que o médico está ganhando alguma comissão das farmácias por indicá-las? Será que essa comissão é proporcional à dosagem? Será que esses medicamentos não têm tanta eficácia?
Calma… segundo o Código de Ética Médica, os médicos não podem receber comissão sobre medicamentos prescritos. Então, a não ser que o seu Dr. pretenda infringir o referido código, ele realmente estará cuidando de você.
Contar com uma regra que proíbe o modelo de comissionamento realmente mitiga muitos dos possíveis conflitos de interesse na relação médico-paciente. O que é ótimo para sua saúde!
Mas e quanto a sua saúde financeira? Será que os melhores esforços de terceiros têm sido sendo empregados?
Bem, aqui vai uma informação importante para você: no mercado financeiro, receber comissões sobre produtos oferecidos não só é amplamente praticado por assessores de investimentos e gerentes bancários, mas também é algo legalizado no Brasil.
Não é atoa que trimestre sim, trimestre também, alguma matéria é publicada sobre processos judiciais em andamento contra profissionais do mercado que auferiram volumosos lucros em comissões, associados a prejuízos milionários aos clientes.
Casos mais recentes envolveram a alocação em Certificados de Operações Estruturadas (COE) para liberação de crédito colateral, que por sua vez foram investidos em mais COEs, gerando uma alavancagem extremamente perigosa.
A boa notícia é que casos como esses têm levado reguladores mundo afora a considerarem modelos mais transparentes de remuneração dos profissionais do mercado financeiro.
Na Inglaterra e na Austrália, por exemplo, os financial advisors (assessores de investimentos) são proibidos de prestarem seus serviços por meio de modelo de comissionamento. Por lá, os clientes remuneram seus assessores unicamente por meio de uma alíquota fixa que incide sobre o patrimônio alocado. É o chamado fee based.
Nesse modelo, os advisors só ganham mais dinheiro se o patrimônio investido aumentar. Trata-se de uma relação de benefício mútuo alinhada com alguns dos principais interesses dos investidores: transparência, segurança e crescimento patrimonial. Parece uma ótima ideia, não?
Claro que é! Aí está a melhor parte: você também pode adotar esse modelo na sua carteira de investimentos no Brasil!
Sabendo disso, agora você tem uma grande responsabilidade…
Muito se fala dos prejuízos causados por assessores e gerentes de banco. Muito se fala sobre os incentivos financeiros perversos desses profissionais. Muito se fala sobre más intenções e conflitos de interesse.
Mas pouco se fala sobre sua responsabilidade como cliente. Sim, você!
Você quer mesmo abrir conta em uma corretora, contar com o serviço de um assessor sem custo adicional e exigir que o profissional (remunerado unicamente pelos produtos) trabalhe em prol dos seus interesses como cliente, abrindo mão de comissões atrativas?
Quanto você está disposto a pagar por um serviço de qualidade? De fato, não existe almoço grátis. Se você realmente se preocupa com o seu patrimônio financeiro, deveria refletir sobre isso.
Pague bem para quem for contratado com a responsabilidade de defender os seus interesses como investidor. No campo dos serviços, barganhas podem ser perigosas.
Evitar perdas por conflito de interesse, em muitíssimos casos, é muito mais lucrativo do que tentar economizar no serviço contratado.
Pense a respeito e converse com seu assessor.
Bons investimentos!
Valor em Foco é um espaço de conteúdo produzido pelos especialistas da Valor Investimentos, escritório XP com mais de 20 anos de mercado e 40 mil clientes pelo Brasil. Os artigos abordam o Mercado Financeiro, com foco na educação e orientação dos leitores em suas tomadas de decisões no mundo dos investimentos, sempre baseados nos acontecimentos e nas oportunidades do cenário econômico mundial.
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