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Coluna João Gualberto

Polarização nas eleições municipais

O que vemos hoje é uma polarização que se enraíza, a partir das relações afetivas, sobretudo as que ocorrem junto às famílias

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Urna eletrônica; eleição. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Urna eletrônica; eleição. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No início do ano de 2023 – logo nos primeiros meses dos novos governos e dos novos mandatos parlamentares – escrevi artigo onde afirmei que a polarização, que foi tão forte na eleição de 2022, tenderia a diminuir e ser menos intensa nas eleições municipais. Creio que não acertei na previsão. Antes, pelo contrário, o que vemos hoje é uma polarização que se enraíza, a partir das relações afetivas, sobretudo as que ocorrem junto às famílias. Os grupos de WhatsApp registram isso muito bem.

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A sociedade brasileira adotou padrões de relacionamento extremados. Aliás, eles já existiam em outros países do mundo com forte presença da extrema direita. Nós somos muito influenciados, em especial, pelo que se passa nos Estados Unidos. De lá trouxemos para o Brasil as façanhas da era Trump. Assim, assistimos, mesmo agora, em tempos de festejar os encontros e os legados do afeto, muitos desencontros de amigos e famílias.

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No Brasil, tivemos por longas décadas, desde o início de 1980, um protagonismo enorme da esquerda no campo das iniciativas políticas e dos grandes movimentos da sociedade. São exemplos, as Diretas Já, a Redemocratização, a Constituição de 1988 e quase todas as políticas públicas que nos governaram nesse período. Esse protagonismo foi interrompido pela ascensão do bolsonarismo e da direita. Digamos que a cena ficou mais dividida. Em princípio, é bom e faz parte do jogo democrático. O que não é bom é a polarização afetiva que atinge nossas relações pessoais.

Quanto às eleições municipais, elas costumam ser tocadas prioritariamente pelas necessidades locais. Isso significa que a zeladoria das cidades, as políticas locais de investimentos em infraestrutura, saúde ou educação ganham as pautas. Obviamente que elas voltam a ter relevância para a conquista de votos. Entretanto, as razões, digamos, locais, dessa vez, terão um ajuste em função dessa grave polarização.

Nas grandes cidades e capitais como São Paulo e Rio de Janeiro o impacto será muito maior. De forma inversa, em localidades muito pequenas essa influência pode ser mesmo muito menor. Existem ainda localidades que têm um bairrismo muito particular e que criam barreiras fortes para a polarização eleitoral que se aproxima. Não é um fenômeno mecânico, linear. Ela vai nos afetar de forma distinta em diversas regiões. Mas, todos seremos, de uma ou de outra, afetados.

Retomo, então, o início do meu raciocínio. Diferentemente de outros processos eleitorais nos municípios, teremos em 2024 eleições profundamente marcadas pela divisão esquerda x direita. Vou além. A direita está se preparando melhor para esse embate. Usa de forma escancarada os recursos da construção de uma certa verdade nas redes sociais e se organiza, hoje, melhor, de forma partidária. Por essas razões, deve avançar na conquista de prefeituras, projetando um ganho expressivo para as eleições nacionais e regionais em 2026, quando a polarização deverá ser exacerbada.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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