fbpx

Coluna João Gualberto

Evangélicos e eleições

O Espírito Santo é considerado um dos estados mais evangélico do país

Publicado

em

primeira grande manifestação eleitoral da presença dos evangélicos na política se deu nas eleições de 2002. Foto: Reprodução

Primeira grande manifestação eleitoral dos evangélicos na política se deu nas eleições de 2002. Foto: Reprodução

O surgimento do movimento político dos evangélicos no Brasil, é um fenômeno que se acentuou de forma muito clara desde os anos 1990. A partir dessa época, o crescimento foi exponencial, ano a ano. Como sempre acontece na política, esses movimentos vão invadindo os campos do poder de forma gradual. No caso brasileiro, a primeira grande manifestação eleitoral da presença dos evangélicos na política se deu nas eleições de 2002.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Naquele ano, Garotinho foi candidato a presidente da república. Foi a primeira eleição de Lula, que disputou o segundo turno contra José Serra. Os resultados do primeiro turno, entretanto, mostraram o candidato Antony Garotinho, na época no PSB, com 18% dos votos. O político fluminense fez uma campanha fundamentalmente voltada para o eleitor evangélico. Como consequência desse bom desempenho nas urnas, a bancada puxada pelo candidato majoritário cresceu enormemente. Até então, eram os católicos que sustentavam as pautas de valores morais. A alta hierarquia da igreja sempre defendeu teses conservadoras. Foram eles os responsáveis, por exemplo, pelo fechamento dos casinos no governo do General Dutra no final dos anos 1940.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do João Gualberto.

A presença católica era mais ampla do que uma bancada. Padres, Bispos e Cardeais sempre foram muitos atuantes no jogo de poder da sociedade. A força política católica era maior do que o número de candidatos que era capaz de eleger. Afinal, a igreja católica antecede ao estado no Brasil, veio nas caravelas. Com os evangélicos não seria diferente. Era preciso que o contingente de adeptos às religiões derivadas da reforma fosse capaz de mostrar de fato sua força na sociedade. E isso aconteceu. Foi justamente a partir daí que passaram a ser muito importantes.

No Espírito Santo, foi eleito nesse movimento o Senador Magno Malta e no Rio de Janeiro, terra do candidato Garotinho, o eleito foi o Bispo Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus. Crivella é sobrinho do fundador daquela denominação, Edir Macedo. Começa aí o processo de ocupação de espaços no congresso nacional. Foram 07 os deputados estaduais eleitos nesse período, entre eles o Pastor Robson Vaillant da Universal do Reino de Deus. Prova inequívoca da forte presença das igrejas na eleição. Robson Vaillant foi reeleito em 2006. Nos vários municípios os vereadores vinculados a essa mesma base, iniciaram um movimento de defesa do que consideram seus direitos.

Foi nesse mesmo movimento cristão conservador que o atual prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio se inseriu desde o início, como membro atuante a Igreja do Evangelho Quadrangular. Teve cinco mandatos consecutivos como deputado estadual. Sempre marcou sua presença na assembleia legislativa por uma ação conservadora e de direita.

Faço esse registro – o da passagem do legislativo estadual para a gestão de um município importante, o terceiro maior colégio eleitoral capixaba –  como uma marca do crescimento da presença evangélica no campo da política. Como ele sempre esteve vinculado à igreja e as suas teses morais, expressa o crescimento de importância política do pensamento conservador entre nós. Afinal somos considerados um dos estados mais evangélicos do Brasil.

Cabe ainda uma observação, como o catolicismo também está fazendo uma inflexão conservadora com a forte presença de movimentos como a canção nova, o pai eterno, a renovação carismática, dentre outros, a presença das teses morais típicas desses segmentos tem também uma força muito grande entre os capixabas. Não será fácil para a esquerda se colocar com a força de antes nos nossos processos eleitorais. É preciso de um esforço de se reinventar, como já venho assinalando em outros textos.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.