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Coluna João Gualberto

Coluna João Gualberto | Saldo das eleições

Eleições de 2024 mostraram bom resultado para a engenharia política construída pelo governador Renato Casagrande nas sucessões municipais

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Casagrande e Ricardo Ferraço. Foto: Hélio Filho/Secom

Casagrande saiu com saldo positivo das eleições. Foto: Hélio Filho/Secom

As eleições de 2024 mostraram bom resultado para a engenharia política construída pelo governador Renato Casagrande nas sucessões municipais. Ele construiu um mandato calçado politicamente em alianças sólidas na maioria dos municípios do Espírito Santo, distribuindo obras em quase todos eles e as realizando em parceria com os governos das cidades. Esse caminho de fazer investimentos em parcerias com os prefeitos ou as forças políticas locais parece ser a receita do sucesso do projeto.

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Quando as obras são da prefeitura em convênio com o governo do estado, os moradores ficam satisfeitos com as entregas, que melhoram suas vidas e atendem muitas vezes a demandas muito antigas. Os chefes políticos locais também ficam satisfeitos, porque melhoram suas avaliações nas gestões municipais. Forma-se, assim, um jogo de ganha-ganha para ambos os lados, além de envolver muitos atores locais nesse processo.

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As eleições foram, sob esse ponto de vista, o momento mais forte da consolidação dessas alianças. Basta vermos os casos de Cariacica, Vila Velha e Viana, para ficarmos apenas na região da Grande Vitória. Até nos municípios onde o prefeito não conseguiu se reeleger, apesar das muitas obras realizadas e suas alianças com o governo estadual – casos de Colatina e Guarapari – Casagrande garantiu alianças, mesmo sem a vitória eleitoral. Nesses casos, também garante boas bases aliadas para uma possível futura construção de sua candidatura ao senado. É o que se chama, na política, de “perder ganhando”.

O raciocínio eleitoral é simples: mesmo sem obter a vitória para um correligionário, é importante manter um aliado forte, que poderá em 2026 ser candidato aos cargos em disputa, como deputado estadual ou federal. Caso isso não se viabilize, o parceiro poder vir a ocupar um cargo na gestão estadual. Acomodações é que não faltam. O importante é, no caso analisado, haver uma boa base política no território como um todo, no caso de uma provável candidatura senatória do atual governador. O saldo é, então, muito positivo para ele. Essa positividade pode ou não ser transmitida à disputa para o governo estadual, porém ainda é muito cedo para especular sobre isso.

Outro elemento que o processo encerrado no domingo nos mostrou é que o radicalismo político da direita está muito enfraquecido, mesmo que ainda reste o segundo turno em muitas cidades maiores, inclusive na Serra, aqui no Espírito Santo. Somente em pouquíssimas cidades venceu o discurso mais extremado.

Os tempos da polarização que dividiu famílias e sepultou velhas amizades parece estar mesmo chegando ao fim ou, ao menos, diminuindo muito. Os grupos políticos que saíram muito mais fortalecidos das urnas de 2024 foram os do chamado centro.

Nacionalmente e pensando em partidos, o PSD do prefeito reeleito do Rio de Janeiro venceu em muitas prefeituras, e o mesmo pode se dizer do PP ou dos republicanos. Eles são os partidos dos quais a direção regional do PL em nosso estado vem duvidando serem realmente de direita, mas foi justamente essa direita mais moderada que surgiu vitoriosa do pleito. Creio que estamos construindo um centro mais denso e com capacidade eleitoral, conforme Sérgio Denicoli vem defendendo em seus artigos no jornal O Estado de São Paulo. Deveremos ter em 2026 três forças eleitorais competitivas: a esquerda, a direita e o centro, ainda que exista uma centro-esquerda e uma centro-direita.

Finalmente, é importante registrar uma tendência muito forte no envelhecimento das esquerdas mais tradicionais, sobretudo aquelas capitaneadas pelo PT. O mais grave desse processo é que os velhos atores desse segmento não dão passagem para os mais novos. Quando chegarmos a 2026 corremos o risco de  haver  renovação somente na direita, onde a fragmentação das lideranças permite o surgimento de novos grupos.

No Partido dos Trabalhadores, por seu turno, ainda preponderam lideranças forjadas em outro momento e distantes das novas demandas da sociedade. O Espírito Santo e o Brasil precisam valorizar as novas alternativas. Elas existem e só precisam ganhar visibilidade para dar passagem a atores sociais hoje dispersos em movimentos sociais mais contemporâneos.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.