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Coluna Inovação

Se vier o peaceshoring, melhor para nós

Primeiro o nearshoring e o friendshoring para voltar a produção para perto. Talvez depois da guerra Israel e Hamas surja o peaceshoring

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Peaceshoring. Foto: Freepik

Exportar commodities é ótimo. Só exportar commodities não. Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em larga escala e podendo ser estocados sem perder a qualidade. Dessa forma, o mercado de commodities tem seus preços definidos pela oferta e procura desses materiais primários. Outras características das commodities são: alto nível de comercialização, pouca industrialização, qualidade e traços uniformes de produção e não há diferenciação de marca.

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A industrialização, principalmente de produtos de alta complexidade, é importantíssima para qualquer país, mas uma coisa não invalida a outra. Os Estados Unidos, por exemplo, continuam sendo o maior exportador mundial de alimentos in natura, e, no entanto, contam com forte indústria de transformação.

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A exportação de commodities provoca certos cuidados, porém. Primeiro, os preços podem variar muito e nenhum país sozinho consegue administrar esses preços. Segundo, numa época de grande demanda por commodities, a entrada de dólares pode ser tão grande no país que vende que, pela lei da oferta e procura, o dólar fica barato. Na época que o dólar estava quase 1 para 1 com o real, por exemplo, exportar era difícil porque os produtos brasileiros ficaram caros. Bom era viajar e importar tudo. Isso quebra a indústria, provoca uma desindustrialização e prejudica o desenvolvimento do país, no que se chamou de doença holandesa.

A expressão “doença holandesa” foi inspirada em eventos dos anos 1960, quando uma escalada dos preços do gás teve como consequência um aumento substancial das receitas de exportação da Holanda e a valorização do florim (moeda local da época). A valorização cambial acabou por derrubar as exportações dos demais produtos holandeses, cujos preços se tornaram menos competitivos internacionalmente.

Além de uma política cambial adequada, é importante o investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação para incentivar novos empreendedores sofisticados, criar novos produtos, reduzir custos e aumentar a produtividade.

No momento atual há um renascimento das políticas industriais no mundo e mesmo economistas que já criticaram políticas industriais como forma de desenvolvimento parecem mudar de ideia , mesmo que de forma restrita, como em artigo recente de Samuel Pessoa no blog do Ibre(https://blogdoibre.fgv.br/posts/reavaliacao-da-politica-industrial#_ftn12).

A mudança de posição dos Estados Unidos sobre o tema, ameaçado pelo avanço da China, é o exemplo mais forte da nova aceitação de políticas industriais. A preocupação com um certo controle das cadeias produtivas globais fez surgir uma nova leva de palavras que substituem o offshoring ou a terceirização da produção para países com mão de obra barata.

Primeiro o nearshoring e o friendshoring para voltar a produção para perto ou para países amigos. Com a Guerra na Ucrânia e o problema com o abastecimento de energia na Europa, começou a ser valorizado o powershoring, ou seja , a produção em países com energia barata e confiável. Talvez depois da guerra Israel versus Hamas surja o peaceshoring. Melhor para nós que só brigamos internamente e não com os outros.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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