Coluna Inovação
Coluna Inovação: A difícil tarefa de prever o futuro
Não é fácil prever o futuro em tecnologia. Quando uma novidade tecnológica aparece imaginamos um desfecho para quando for disseminado na sociedade, mas o que acontece é muitas vezes diferente do que se previa.
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Em meados da década de 1990, quando a internet começou a se popularizar, havia a ideia de que ela não deveria ser comercial, suportando anúncios, por exemplo. Deveria ser mantida com a vocação original de uma rede de pesquisas. Aconteceu aí a primeira surpresa dos caminhos imprevisíveis para onde a evolução da rede nos leva.
Nessa época, o avanço da tecnologia gerava previsões de que poderíamos ter centenas de canais de TV, cada uma especializada em um nicho de interesse. A dúvida era se haveria empresas para desenvolver tanto conteúdo. Não se imaginava que isso aconteceria não só na TV, mas também muito na internet, e que o conteúdo seria desenvolvido não só por empresas produtoras, mas pelo público. O público que diante de uma TV era passivo passou a interagir com esse novo meio de maneiras surpreendentes.
Cada tecnologia gera novos negócios e muitas empresas vão ficando pelo caminho sem conseguir antecipar as mudanças. A recusa da Blockbuster em comprar a Netflix, antes do boom do streaming, por apenas 50 milhões de dólares em 2000 é um exemplo histórico disso.
Há alguns poucos anos era possível até imaginar mapas no celular, mas não o Street View da Google, com imagens caminháveis de todas as ruas e nem o Waze, com avisos de engarrafamentos e tempos precisos para os trajetos a qualquer instante, atualizados pelos usuários. Serviços ainda por cima gratuitos, pelo menos aparentemente. Não dava para imaginar o mundo da publicidade migrando para a rede. Nem o mundo de Youtubers, influencers e Tiktokers.
Era possível prever a disseminação da comunicação em rede, mas a proliferação de robôs, fake news, deepfakes e todo o impacto na política e nos relacionamentos familiares e pessoais não estava no programa. As novas tecnologias não provocam apenas consequências óbvias, mas também criam novos serviços e novos hábitos sociais. Hoje mantemos grupos de zap com amigos de infância, brigamos por política na família e com amigos e somos roubados em golpes.
No Fórum Econômico Mundial em 2016, especialistas previram que em 2025, 10% da frota de veículos nos Estados Unidos seriam autônomos. Não vai ser. De vez em quando aparece um protótipo de carro autônomo atropelando alguém. Vai acontecer, mas vai demorar mais.
Naquela época também tomou velocidade o que seria a economia de compartilhamento. Uber seria um inocente serviço de compartilhamento de caronas e virou um negócio. O tema “sharing economy”, que previa compartilharmos tudo, desapareceu, tudo virou plataforma lucrativa.
A inteligência artificial começou se esgueirando pelos algoritmos que manipulam nossas vontades e vendem nossos dados, sem aparecer explicitamente, até a explosão do ChatGPT que colocou a ferramenta à disposição de todos e em todos os ambientes e aplicativos. Deverá ser algo tão explosivo quanto o surgimento da própria internet, ou mais.
As previsões apontavam para a substituição dos trabalhos repetitivos pela IA que, sem cerimônia, invadiu logo os trabalhos criativos, antes até de eliminar os repetitivos. Designers, roteiristas, redatores, publicitários, arquitetos, advogados e professores estão se dando conta que, ou colocam a IA como parceira fundamental ou estão fora do mercado. Até o Google, que reinava soberano há 20 anos, estremece. Universidades que foram atropeladas pela pandemia com a demanda por ensino remoto ou híbrido são novamente confrontadas com trabalhos, provas e aulas onde a IA subverte os procedimentos de costume.
O futurismo se alimenta de pequenos sinais, muita informação e muita especulação, mas não é fácil prever o que vai acontecer quando uma tecnologia aparece. Esperamos que seja sempre para o bem, mas nem isso temos certeza, está parecendo que não.
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