Coluna Eliana Gorritti
Cíntia Dutra: uma jornada de coragem, superação e empoderamento feminino
A história de Cíntia Dutra é um poderoso testemunho de que a superação é o caminho para transformar sonhos em conquistas reais
Ela se define como a típica mulher brasileira que nasceu na favela, enfrentou humilhações, abusos, espancamentos, assédios e inúmeros outros desafios. Mas sua mensagem é clara: “O lugar onde você está não define quem você é. Ele é apenas uma fase temporária, um ponto de partida para encontrar a coragem necessária para mudar sua trajetória e conquistar seu espaço”.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Essa é Cintia Dutra, empresária radicada no Espírito Santo, é um exemplo de determinação e visão empreendedora. Natural de Manhuaçu, Minas Gerais, ela cresceu em uma família humilde, mas desde cedo carregava grandes sonhos.
“A mulher precisa saber que, independentemente do lugar onde você está, o lugar não é você. Você só está nesse lugar. O lugar é só um momento temporário, onde você pode criar coragem”, ressalta.
Aos 10 anos, Cintia revelou à professora de sua escola que queria ser como a icônica Viúva Porcina, a fazendeira rica interpretada por Regina Duarte na novela Roque Santeiro, de Dias Gomes. A resposta da professora, no entanto, foi desanimadora: sugeriu que Cíntia aceitasse suas origens e abandonasse aquele sonho “distante”. Mas Cíntia não se deixou abalar.
“Eu acho que a minha visão empreendedora veio primeiro da minha inquietude, da minha insatisfação com a vida muito pobre que eu tinha e a vontade de dar uma vida melhor para os meus irmãos. Além disso, eu já tinha um olhar um pouco mais diferenciado, até no meu comportamento, em relação às outras crianças, que brincavam, que faziam as coisas de criança, e eu já colecionava pôster da Viúva Porcina, a personagem da novela Roque Santeiro. Eu achava que ela era um exemplo de uma mulher poderosa, que tinha um carro conversível, que tinha fazenda.”, disse Cintia.
Um exemplo marcante de sua visão empreendedora surgiu em um velório, quando percebeu que as pessoas estavam com fome e não havia lanchonetes por perto. Cíntia negociou salgados em consignação, vendeu tudo no local e voltou para buscar mais. Esse foi apenas o primeiro de muitos passos que marcariam sua trajetória de sucesso.
Hoje, Cíntia é uma mulher de múltiplas conquistas. Pilota habilitada, sócia de uma empresa de táxi aéreo e investidora no setor de construção civil, ela também lidera a Casa Direta, sua mais recente empreitada, dedicada a soluções de alto padrão para ambientes e projetos corporativos.
“A diversidade de investimentos e empreendimentos vai acontecendo à medida que o empreendedor vai tomando coragem. Ele vai tomando força e vai recebendo os frutos do que ele começou a fazer. Então ele vai tentando diversificar, até porque não é aconselhável colocar todos os investimentos num lugar só, entendeu? Então, a partir do momento que você já alcançou um patamar no primeiro estágio do negócio, você tende a querer crescer, porque é empreender um vício. Você quer empregar mais, você quer uma vida melhor, você quer conhecer mais lugares, então eu acredito que isso é um dos grandes fatores”, explicou.
UMA EMPREENDEDORA GLOBAL
Com uma visão global, Cíntia já visitou 106 países e participou de renomadas feiras de negócios na China, Alemanha e Itália. Sua trajetória inclui o comando de uma empresa de comércio exterior e uma jornada marcada por altos e baixos, que só fortaleceram sua determinação e visão de futuro.
“Eu só estudei até a quarta série e nunca mais pisei numa escola, então tinha que escolher caminhos para poder aprimorar o meu conhecimento. Então, viajar faz toda a diferença no meu negócio, porque me permite debater qualquer tipo de tema, permite que eu traga grandes ideias para dentro das minhas empresas, estando o tempo todo atualizada. Não tem como um grande gestor fazer uma grande gestão se ele não tem um conhecimento que é globalizado. Hoje em dia o mundo é globalizado, então as empresas têm que ter a mentalidade globalizada também”, revelou.
Cintia tem quase 50 mil seguidores em seu perfil no Instagram e está organizando um curso, “Empreender sem frescura”, no qual dá dicas para quem quer iniciar ou desenvolver o próprio negócio.
CASA DIRETA: 200 UNIDADES ATÉ 2027
A empresa capixaba Casa Direta, especializada em design, soluções para ambientes e projetos corporativos utilizando mobiliário de alto padrão, começou a operar em Vitória em março deste ano, com uma proposta inovadora: fazer a conexão direta entre o consumidor final e as indústrias moveleiras, trabalhando com uma equipe enxuta e somente uma sala comercial em Santa Lúcia, sem vitrines e sem mostruário físico.
“Todo negócio é um caminho cheio de pedras e de curvas. Não é linear. Eu sempre falo: empreender não é para fracos. Você tem que se preparar como se fosse um atleta. Como uma pessoa pode se preparar para a diversidade? Primeira coisa: não ser músico de uma tecla só. Você tem que ampliar o seu vocabulário, você tem que buscar ler, viajar, estar sempre com pessoas acima da sua capacidade intelectual e não deixar, em momento algum, de estabelecer network. Isso é fundamental. Importante também ter uma transparência de gestão com a sua equipe, para trazer toda a sua equipe para viver o seu sonho. Eu acho que essa é a melhor forma para lidar com as adversidades”, disse a empreendedora
A fórmula deu certo: a empresa já tem 10 unidades operando em 6 Estados: Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal, além do Espírito Santo. A diretora da Casa Direta, Cíntia Dutra, afirma que pretende chegar a 200 lojas até 2027.
“Costumo comparar a Casa Direta ao Uber. Fazemos essa ponte direta entre o consumidor e a indústria, com uma parceria interessante também com designers e arquitetos. O resultado tem sido muito positivo. Cada peça em nosso portfólio é selecionada com base em altos padrões de qualidade”, afirma Cintia.
Seus clientes normalmente são consumidores de alta renda, condomínios residenciais e comerciais, hotéis, restaurantes e empresas em geral. A empresa emprega em média 7 profissionais por unidade. Com 10 lojas em 6 Estados, ela emprega atualmente 70 pessoas, portanto.
“Empregar pessoas não é fácil porque a gente enfrenta, infelizmente, muita falta de incentivo por parte do governo. Mas eu acho que você pode olhar para a sua equipe, olhar para as pessoas que estão à sua volta e pensar que uma iniciativa sua, uma ideia sua, está mudando a vida de outras pessoas, é um grande combustível para que você queira prosseguir, para que você queira cada vez mais aumentar essa rede de relacionamentos que é feita também com os funcionários. Eu só acredito nesse tipo de gestão, de olhar para mudar a vida das pessoas e você muda sua vida junto”, completou.
Da favela ao sucesso
Cintia é divorciada e mãe de um rapaz de 23 anos. Para ela, ser mãe e esposa não modifica a qualidade do empreendedorismo.
“Eu acho que algumas pessoas têm menos incentivos familiares, e cria-se uma falsa ilusão de que uma mulher que está empreendendo, uma mulher que está na gestão de grandes empresas, ela não é uma boa mãe, não é uma boa esposa. Não! Toda a capacidade que um homem tem de fazer uma gestão e prover a família é a mesma da mulher. Então, eu acho que não tem nenhum problema a mulher ser esposa, até porque médicas são empreendedoras também, elas dão plantão, há mulheres que trabalham embarcadas, e nem por isso elas deixam de ser boas mães”.
Para as mulheres e empreendedoras Cintia ainda deixa um importante recado:
“Eu que tinha tudo para ter dado errado na minha vida, fui parar no Espírito Santo aos 14 anos de idade sozinha, passando fome. Se eu consegui chegar no patamar que eu consegui, com certeza absoluta, se você ouvir o seu coração, se você der passo por passo, e também curtindo a caminhada, você pode chegar onde você chegar, e não trazendo uma carga de infelicidade muito grande nas costas. Acho que esse é o grande sucesso que as mulheres podem ter hoje, vencendo essas barreiras de empreendedorismo que ainda são muito mais difíceis pra gente do que para os homens”, disse emocionada.
Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.