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Coluna André Andrès

Novas estrelas do vinho brasileiro vêm de locais inesperados

Seja pela ousadia de produtores, pelas mudanças climáticas ou pelo aprimoramento da produção, o Brasil ganhou novas regiões produtoras de vinho

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A Vinícola UVVA, que fica na Chapada da Diamantina, produz uma dessas estrelas. Foto: Reprodução

Há um bom tempo, funcionava assim: o vinho era colocado na taça e logo se seguia um desafio para quem estava à mesa. “Onde ele é produzido?” Depois de vários elogios ao tinto ou ao branco, surgia a surpresa diante do fato de se tratar de um rótulo nacional. Hoje, o vinho brasileiro tem uma qualidade consolidada, principalmente por conta da produção do Sul do país, mas a surpresa anterior se repete. O ritual é o mesmo, mas o final é bem diferente… Em vez de citar produtores de Bento Gonçalves, da região da Campanha ou mesmo da Serra Catarinense, a resposta pode ser: “É um vinho de Cordislândia, Minas“. Ou: “Esse tinto veio do Pantanal de Mato Grosso”. Seja pela ousadia de produtores corajosos, pelas mudanças climáticas ou pelo aprimoramento da produção, o Brasil ganhou novas regiões produtoras de vinho. E de lá saem alguns dos nossos rótulos mais premiados, tanto aqui quanto no exterior.

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Algumas dessas vinícolas já se consagraram. É o caso da Guaspari, entranhada no lado paulista da Serra da Mantiqueira, em Espírito Santo do Pinhal. Seus vinhos já conquistaram premiações importantes pelo mundo, notadamente o Syrah Vista do Chá, um tinto realmente impressionante. Mais ou menos na mesma linha, os vinhos produzidos no Vale do São Francisco são conhecidos já há algum tempo. Mas da Bahia surgem novidades brotadas da Chapada Diamantina. Também é assim em Goiás, Minas e também do Espírito Santo, representado com honras pelos rótulos produzidos em Santa Teresa. Ainda existem obstáculos a serem ultrapassados pelas vinícolas, como o volume de produção, e isso ainda tem consequências pesadas, principalmente em relação ao preço. Na maioria das vezes, os vinhos não são baratos. De qualquer forma, uma nova realidade se estabeleceu, com rótulos surgidos de regiões antes inexploradas ou de qualidades desconhecidas. E conforme o tempo for passando, e esses vinhos forem se tornando conhecidos, vai se consolidar a certeza de termos à nossa disposição rótulos nacionais cada vez melhores e vindos das mais variadas regiões do país. Sem surpresa nenhuma…

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NOVAS ROTAS, BELOS RÓTULOS

Vinho brasileiro Pinquant Soleil Syrah

O vinho Pinquant Soleil Syrah, produzido pela vinícola Ferreira na Serra da Mantiqueira. Foto: Divulgação.

Piquant Soléil Syrah – Acaba de receber a medalha de ouro da Decanter Awards 2023, uma das provas de avaliação mais conceituadas do planeta. O Pinquant é produzido pela Vinícola Ferreira em Piranguçú, no lado mineiro da Serra da Mantiqueira, próximo à divisa com São Paulo (uma das cidades mais conhecidas da região é Campos do Jordão, do lado paulista). Trata-se de um vinho de altitude – a vinícola fica a 1.600 metros de altura. É um vinho 100% Syrah, sem passagem por barrica de carvalho. Ou seja, acaba tornando-se um tinto frutado. A localização da vinícola mostra a vocação da Mantiqueira para acomodar bons produtores. E a medalha de ouro é uma conquistada absolutamente honrosa para quem iniciou seus trabalhos há apenas 10 anos.
Quanto? R$ 300
Onde? Site da vinícola Ferreira

 

Vinho Uvva Microlote Chardonnay.

O Microlote Chardonnay da vinícola Uvva, incrustada na Chapada Diamantina

Uvva Microlote Chardonnay – Com pouco mais de 12 anos, a vinícola baiana tem sua produção em Mucugê, na Chapada Diamantina, numa altitude de 1.150 metros. O Microlote Chardonnay também teve bom desempenho na Decanter Awards, conquistando uma medalha de prata. Não foi caso único: outro vinho da Uvva, o Cordel, um blend tinto de clara referência à cultura regional, também levou a medalha de prata. A Chardonnay, com a qual é produzido o Microlote, passa por barricas de carvalho francês. Depois, o vinho amadurece pelo método sur lie, ou seja, ele é deixado em contato com as leveduras mortas após a fermentação. Isso garante ao vinho uma boa estrutura e, em alguns casos, uma pequena carbonatação. Enfim, um vinho baiano com muitos toques franceses. Mistura de “meu dengo” com “mon amour”. Não ficou curioso?
Quanto? R$ 188
Onde? Site da vinícola Uvva

 

Vinho tinto Intrépido

O Intrépido Syrah, elogiado por Manoel Beato: feito no interior de Goiás. Foto: Divulgação


Intrépido
– Este é um caso curioso. O Intrépido, vinho 100% Syrah, produzido pela vinícola Pireneus, já foi definido por Manoel Beato, um dos maiores conhecedores do assunto no Brasil, como “uma aberração de tão bom”. Apesar disso, continua sendo um tinto relativamente desconhecido. Talvez seja o melhor representante da produção do nosso cerrado, beneficiado pela amplitude térmica da região, com dias quentes, noites e manhãs frias. Talvez ainda seja um vinho restrito por conta do preço e da pequena produção (um ponto está ligado ao outro…). Nunca provou? Olha a opinião de Beato sobre ele: “É um vinho encorpado e denso, bastante intenso em aromas. A gente sente a intensidade e a força tanto no olfato quanto no paladar. Apesar de jovem, é arredondado. Chega a ser cremoso. Não tem uma acidez marcante. É um vinho aveludado.” E essa beleza é produzida em Cocalzinho de Goiás. Espantoso, não?
Quanto? R$ 300
Onde? Lojas da web
Site: https://pireneus-vinhos-vinhedos.business.site/

Vinho Guaspari Vista do Chá

O Guaspari Vista do Chá Syrah: alta qualidade no lado paulista da Mantiqueira. Foto: Divulgação

Guaspari Syrah Vista do Chá – O mais famoso da lista. Merece ser citado porque talvez seja a melhor representação da ousadia dos produtores nacionais ao investir em regiões de pouca tradição vitivinícola e alcançar um patamar muito elevado. A Guaspari fica a cerca de 1.300 metros de altitude em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, mais precisamente numa das encostas da Mantiqueira (olha a serra aí de novo). A produção inicial, pequena, iniciada em 2008, foi sendo ampliada e a linha de rótulos, diversificada. O Vista do Chá coleciona prêmios aqui e no exterior. É um vinho extremamente saboroso e estruturado, resultado da união incomum entre o terroir e o sistema de produção. Houve a adoção de um sistema de dupla poda e a decisão de colher as uvas no inverno. Enfim, trata-se do resultado do trabalho de desbravadores de sucesso: depois da Guaspari, outras vinícolas se instalaram em PInhal. Se alcançarem o mesmo nível, estaremos diante de um novo polo de produção de vinhos de qualidade no país.
Quanto? R$ 378,00
Onde? Site da vinícola Guaspari

Vinho Tabocas Orange

O vinho Tabocas Orange Alvarinho, produzido em Santa Teresa: fruto do trabalho de um desbravador.


Tabocas Alvarinho Orange
– O representante do Espírito Santo aparece na lista com um vinho feito quase por acidente. A vinícola Corbellini surgiu em 2006 no Vale do Tabocas, em Santa Teresa. Vinícius Corbellini é um batalhador. A primeira safra, de bons anos atrás, foi colhida um pouco antes do tempo. O vinho não ficou ideal. Mas já se vão quase 20 anos e, de lá para cá, os vinhos da Tabocas evoluíram bem. No entanto, faltava alguma originalidade, algo capaz de ir além do fato de termos um vinho feito na região serrana do Espírito Santo. Os tintos eram feitos com uvas bem conhecidas, como a Cabernet Sauvignon. Vinícius, então, fez uma encomenda de mudas de Malbec. Houve algum erro. E só depois de os primeiros frutos surgirem, veio a constatação: a casta era Alvarinho, uva branca bastante comum em Portugal e Espanha. Vinícius tocou o trabalho e produziu um vinho “laranja”, ou seja, com o mosto ficando mais tempo em contato com as cascas e ganhando uma cor alaranjada. É um branco (ou “laranja”) de personalidade, muito rico nos aromas e sabores, com muitas notas cítricas e frutadas. Excelente vinho. Um orgulho para os capixabas, sem dúvida alguma.
Quanto? A partir de R$ 130
Onde? Vários pontos de venda e nas redes sociais da vinícola
Instagram: @tabocasvindegarage

André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

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