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Coluna André Andrès

Dez de Setembro é Dia do Vinho do Porto. Mas que vinho é esse?

O Vinho do Porto é resultado de uma trajetória marcada por conflitos, incidentes e um final. Um vinho com muita história, enfim

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Taça de vinho do Porto e, ao fundo, a cidade que dá nome ao vinho. Foto: Divulgação

Vinho do Porto, comemorado nesse dia 10 de setembro: história teve início com conflito entre ingleses e franceses durante o século XVII. Foto: Divulgação

A história dos vencedores é uma mescla de grandes acontecimentos, incidentes decisivos e destinos grandiosos. O Vinho do Porto tem história. Por isso, sua trajetória foi forjada em meio a atritos, acidentes e um final feliz. Os vinhos guardam, curiosamente, forte relação com os confrontos e com a guerra. No caso do Porto, os conflitos entre Inglaterra e França ajudaram a acelerar o comércio dos ingleses com Portugal. E isso incluía, lógico, os vinhos portugueses, porque era impossível levar tintos e brancos franceses para a Grã-Bretanha. Corria o século XVII e a região produtora mais próxima para atender a Inglaterra era a do Douro. O Porto era sua principal cidade. Como o nome indica, tinha capacidade para atender os embarques para a Inglaterra. Inicialmente, ‘vinho do Porto’, em letra minúscula, era uma referência ao local de procedência, não um tipo de tinto. O tempo cuidaria de corrigir isso…

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Surge o Vinho do Porto

Há algumas divergências sobre como o vinho seco, vendido aos ingleses, tornou-se fortificado, ou seja, passou a receber aguardente vínica (um tipo de destilado do vinho, com alto teor alcoólico), resultando em uma bebida encorpada e doce. Os portugueses gostam de atribuir essa adição a um acidente ocorrido entre monges de Lamego, próximo ao Douro. Um deles teria derrubado a aguardente sem querer em um barril de vinho, a fermentação foi interrompida e a bebida ficou com um sabor muito diferente e bem mais agradável. Mas há quem garanta ter sido uma evolução efetiva, resultado de experiências feitas por esses mesmos monges e também por outros produtores, interessados em preservar a qualidade do vinho durante sua viagem, até ser consumido em terras inglesas.

Vinho do Porto Vintage, produzido pela Taylor's, uma das mais tradicionais casas portuguesas. Foto: Divulgação

Taylor’s Vintage, vinho do Porto com enorme capacidade de envelhecimento. Foto: Divulgação

Importante mesmo é o seguinte: aquele tinto com grande capacidade de resistência ao tempo, de sabor acentuado e adocicado passou a ser muito apreciado pelos ingleses. Para eles, a técnica de produção não importava. Eles não precisavam entender a ação da aguardente vínica, não havia a necessidade de compreender como esse líquido interrompia a fermentação do vinho e preservava o açúcar residual . Para eles, importante era ter um vinho gostoso para substituir os inalcançáveis franceses. E o Vinho do Porto era novo, diferente, saboroso. Ideal.

As grandes casas

Resulta dessa relação entre ingleses e portugueses o fato de muitos rótulos tradicionais de Vinho do Porto terem sotaque britânico. Foi assim com a Taylor’s, nascida em 1692. E também com a Sandeman, de 1790, e a Graham’s, de 1820, e assim por diante.

Cada uma delas se destaca por motivos diversos. A Taylor’s, por exemplo, é pioneira sob vários aspectos. Foi dela, por exemplo, a iniciativa de colocar o Porto para envelhecer em madeira e também o lançamento do Vintage, produzido apenas em anos excepcionais e com capacidade de evoluir por décadas em garrafa. Também criou, já em 1970, o Late Bottled Vintage (LBV), vinho de única colheita, como o Vintage. O LBV passa por um período bem mais longo em barrica (de quatro a 6 anos) antes de ser engarrafado. Torna-se um Porto pronto para consumo imediato após o engarrafamento, sem a necessidade de décadas de envelhecimento. Pode-se definir como um Vintage com preço mais acessível.

Os tipos de Vinho do Porto

A criação do Vintage e do LBV, pela Taylor’s, ajudaram a incrementar ainda mais as variedades do Vinho do Porto. Confira, a seguir, os seus vários tipos.

Tinto

Ruby
Vinho jovem, de cor vermelha intensa, com sabores de frutas frescas como cerejas e ameixas. Geralmente envelhecido por dois a três anos em grandes tonéis de carvalho, para manter sua cor e frescor.

Tawny
Tem uma cor âmbar ou alourada, com sabores de nozes, caramelo e frutas secas. Envelhece em pequenas pipas de madeira por vários anos (10, 20, 30 ou até 40 anos), o que lhe confere complexidade e suavidade.

Late Bottled Vintage (LBV)

Como dito acima, vinho de uma única colheita, semelhante ao Vintage, mas menos concentrado, com sabores de frutas negras e taninos macios. Passa quatro a seis anos em barricas antes de ser engarrafado, pronto para consumo imediato.

Vintage
O ápice dos vinhos do Porto, tem grande concentração, com sabores de frutas escuras, especiarias e taninos robustos. Engarrafado após dois a três anos em barricas, ele evolui na garrafa por décadas. Décadas mesmo. Não é difícil encontrar em boas casas portuguesas vintages de 70, 80, 90 anos de idade. Isso sem contar os rótulos de mais de século, em poder de seus produtores.

Colheita
Parecido com o Tawny, mas de uma única colheita (vintage específico), com sabores ricos e complexos de caramelo, frutas secas e especiarias. Passa ao menos sete anos em barricas, mas frequentemente muito mais.

Refrescantes

White Port
É o Vinho do Porto branco. Pode variar de seco a doce, com sabores de frutas cítricas, mel e amêndoas. Pode ser jovem ou envelhecido, dependendo do estilo desejado. Muito usado em coquetéis: recebe a adição de pedaços de frutas, alguma erva aromática, gelo. Fica delicioso e muito refrescante.

Rosé Port
Estilo mais recente, de cor rosada e sabores de frutas vermelhas frescas, leve e refrescante. Normalmente não é envelhecido, sendo consumido jovem para manter sua frescura. Assim como o branco, também é usado em drinques refrescantes.

Vinho do Porto combina com…

Com doces e salgados. O Porto pode ser tomado sozinho, como um pequeno carinho ao paladar. Também pode concluir o almoço ou jantar, servido puro ou para acompanhar uma sobremesa, obrigatoriamente de sabor menos adocicado quando comparada com a bebida. E o Vinho do Porto tem, por fim, duas combinações clássicas: com queijos “azuis” (roquefort, gorgonzola), numa perfeita harmonização por contraste, entre salgado e doce, e com chocolate amargo.

Como se vê, trata-se de um vinho com muitas variantes, tipicidades e combinações. Um vinho rico de aromas, sabores, mas, principalmente, de história. Muita história.


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.