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Bem-estar

Paracetamol: remédio é a principal causa de falência do fígado

Vendido livremente em farmácias, o remédio popular contra dor e febre preocupa autoridades com abuso no consumo

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O paracetamol é um dos medicamentos isentos de prescrição mais vendidos no Brasil e em diversos outros países. Foto: jcomp/Freepik

O paracetamol é um dos medicamentos isentos de prescrição mais vendidos no Brasil e em diversos outros países. Foto: jcomp/Freepik

O paracetamol, remédio amplamente disponível em farmácias e que não possui necessidade de receita médica, é um dos medicamentos mais consumidos em todo o mundo. Só nos Estados Unidos, estima-se que sejam vendidas 49 mil toneladas anualmente, o que equivale a 298 comprimidos por americano a cada 12 meses. Já no Reino Unido, a média é de 70 unidades por pessoa no mesmo período.

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Apesar de sua longa história e popularidade, o mecanismo de ação do paracetamol ainda é um enigma para os cientistas. Além disso, a eficácia do medicamento para diversos incômodos ainda é objeto de debate, com evidências variadas em diferentes casos.

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Um ponto crucial destacado pelos especialistas é o risco de overdose, tornando o paracetamol a principal causa de falência hepática nos EUA e no Reino Unido, o que gerou alertas de várias entidades de saúde. A alta disponibilidade do medicamento e a falta de orientações claras sobre os limites de consumo estão por trás desse cenário preocupante.

O sucesso de vendas

O paracetamol foi sintetizado no final do século 19 pelo químico alemão Joseph von Mering, mas sua aplicação ficou restrita a pesquisas por mais de seis décadas. Somente nos anos 1950, com o nome comercial Tylenol, ele chegou às farmácias dos Estados Unidos e Austrália, enquanto no Brasil, estava disponível desde os anos 1970.

Apesar de sua longa trajetória no mercado, o paracetamol ainda guarda um mistério: seu mecanismo de ação no corpo humano não foi completamente compreendido, deixando incertezas sobre como exatamente ele age para reduzir a dor ou baixar a febre. Nos Estados Unidos, aliás, o princípio ativo é conhecido por outro nome: acetaminofeno. Essa lacuna científica perdura até os dias atuais.

“O mecanismo de ação do paracetamol ainda não foi completamente esclarecido”, diz o médico Philip Conaghan, médico e professor de Medicina Musculoesquelética da Universidade de Leeds, no Reino Unido. “É provável que ele tenha algum efeito na forma como nosso corpo ‘entende’ a dor no sistema nervoso central e no cérebro, além de provavelmente agir em regiões periféricas onde há inflamação”, detalha ele.

Acredita-se que o paracetamol possa interferir na atividade de enzimas chamadas ciclooxigenases (COX), que estão relacionadas à sensação de dor e ao aumento da temperatura corporal. Além disso, há indícios de que a droga também possa afetar neurotransmissores e vias cerebrais, o que contribuiria para o efeito analgésico.

No entanto, ainda não existe um consenso sobre os mecanismos precisos pelos quais o medicamento atua para proporcionar o alívio da dor e a redução da temperatura corporal.

Disponível livremente em farmácias, o paracetamol pode ser adquirido sem necessidade de receita médica e é encontrado tanto com nomes comerciais como em genéricos. Além disso, ele faz parte da composição de mais de 600 produtos farmacêuticos diferentes, conforme a Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos.

No Brasil, o paracetamol é um dos medicamentos isentos de prescrição mais vendidos, seja em sua forma isolada ou combinado com outros fármacos. Na lista dos 263 medicamentos isentos de prescrição mais comercializados do país, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o paracetamol aparece em 23 das opções farmacológicas com alta popularidade.

Entenda as evidências

Apesar do amplo sucesso comercial e da sua popularidade como analgésico e antitérmico, a eficácia real do paracetamol em aliviar febre e dor tem sido alvo de controvérsia e estudos.

Segundo informações do site oficial do FDA, o paracetamol é considerado uma opção para tratar febre e dores leves a moderadas.

No entanto, as evidências disponíveis até o momento apresentam variações, especialmente ao avaliar diferentes tipos de desconfortos que podem acometer o corpo.

O Instituto Cochrane, que se dedica a analisar a eficácia de diversos tratamentos, publicou diversos estudos sobre o paracetamol. Segundo suas análises, levando em consideração as pesquisas disponíveis até aquele momento, foram encontrados os seguintes resultados:

  • O paracetamol não apresentou superioridade em relação ao placebo no tratamento de dores na região lombar.
  • Também não foram obtidos resultados positivos para casos de incômodos físicos associados ao tratamento do câncer.
  • Em relação à artrite no joelho ou quadril, o efeito positivo foi considerado “pequeno” pelos pesquisadores.
  • Para o alívio da enxaqueca aguda, dores pós-parto e pós-cirúrgicas, o paracetamol mostrou algum benefício, embora mínimo.

Essas conclusões ressaltam a importância de mais estudos e pesquisas para compreender melhor os efeitos e a eficácia do paracetamol em diferentes contextos de dor e febre.

Com resultados divergentes sobre a eficácia do paracetamol, a recomendação primordial é procurar a avaliação de um profissional da saúde, especialmente se a dor persistir ou se agravar após dois ou três dias.

Após a avaliação e diagnóstico médico, é fundamental seguir rigorosamente o tratamento prescrito para aliviar os desconfortos. A automedicação deve ser evitada, uma vez que cada caso pode exigir abordagens específicas para garantir a eficácia e segurança do tratamento.

Os riscos do paracetamol

A segurança do paracetamol é uma questão importante, pois o medicamento pode causar efeitos colaterais graves se utilizado de forma inadequada. As agências de saúde estabelecem um limite diário de 4 gramas para adultos, e a dosagem para crianças depende do peso corporal. É fundamental consultar um médico antes de administrar o medicamento em crianças com menos de 2 anos.

O principal problema relacionado ao uso excessivo de paracetamol é o dano ao fígado, já que cerca de 5% da substância é transformada em uma substância tóxica chamada quinoneimina. Quando há uma grande quantidade dessa substância no organismo, o fígado pode falhar em neutralizá-la, levando à falência hepática aguda. Isso pode resultar em hospitalização, transplante ou até mesmo morte.

Overdoses acidentais são comuns, uma vez que muitas pessoas não têm consciência de que ultrapassaram o limite diário ao ingerir paracetamol junto com outros medicamentos que também contêm essa substância. Nos Estados Unidos, as overdoses de paracetamol foram a principal causa de falência hepática aguda entre 1998 e 2003.

Para mitigar os riscos, a FDA reduziu a dosagem máxima permitida do paracetamol por comprimido para 325 mg desde 2011, o que levou a uma redução nas hospitalizações relacionadas ao medicamento.

A Anvisa também emitiu alertas sobre o consumo indiscriminado do paracetamol e seus efeitos na saúde no Brasil. Portanto, é essencial seguir as orientações médicas e evitar a automedicação para garantir o uso seguro desse medicamento amplamente disponível nas farmácias. Em um comunidade de 2021, a agência orienta: “O uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas na bula, para cada faixa etária”.


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