Bem-estar
Ainda sem olfato ou paladar? Veja os sintomas da covid longa
Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) mostrou os impactos nas percepções sensoriais após a infecção pela covid-19

A pneumologista Jessica Polese. Foto: Camila Baptitsin
Desde sua primeira infecção, a covid-19 se impôs como um grande desafio para a ciência, que concentrou esforços para investigar desde a transmissão até as formas de tratamento. Atualmente, as sequelas causadas pelo coronavírus e os quadros crônicos da doença, chamado de covid-19 longa, continuam a preocupar autoridades sanitárias. Fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva estão entre os mais de 200 sintomas que já foram associados à síndrome definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como “a continuação ou desenvolvimento de novos sintomas três meses após a infecção inicial pelo Sars-CoV-2”.
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A pneumologista Jéssica Polese comenta que a covid-19 é uma doença muito nova e os impactos da infecção sobre o organismo humano são estudados nas mais diversas partes do mundo. “Ainda tem gente morrendo de covid-19. Semana passada, três pessoas perderam a vida no Espírito Santo. E não estão se falando mais sobre isso. É uma doença extremamente nova, com repercussões muito estranhas. A medicina ainda está tentando se situar. E não é o momento da gente deixar para lá, parar de falar sobre o assunto e esquecer. O mundo inteiro está fazendo pesquisas”, frisou a médica.
ESTUDO NA UFES
Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) mostrou os impactos nas percepções sensoriais após a infecção pela covid-19. Orientada por Suzana Della Lucia, professora e coordenadora do Laboratório de Análise Sensorial do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE), no campus de Alegre, a pesquisa teve por objetivo identificar as variações nos sentidos de indivíduos que declararam ter apresentado perda ou redução do olfato ou do paladar como sintomas de infecção pelo vírus, e como as alterações afetam a vida dos indivíduos.
Foram feitos testes laboratoriais com o uso de métodos que utilizam análises sensoriais para a observação de possíveis alterações nas sensibilidades olfativas e gustativas, em comparação com os que não foram acometidos pela doença e pelos sintomas. A coleta de dados foi feita no campus de Alegre e abrangeu 30 participantes para a etapa de análise individual, sendo 53% (16) do sexo masculino e 47% (14) do sexo feminino, com faixa etária entre 20 e 50 anos. Já a etapa laboratorial abarcou 100 indivíduos que apresentaram ou não o diagnóstico para a covid-19.
O que faz com que algumas pessoas desenvolvam a condição ainda permanece um mistério para a ciência. Seus impactos na qualidade de vida, no entanto, são significativos e estão pressionando serviços de saúde Brasil afora. Os pesquisadores observaram que os indivíduos que sofriam por distúrbios sensoriais possuíam limitações em seus afazeres diários, principalmente em relação ao apetite. Também foram detectados pontos ligados à preocupação com a higiene pessoal e em perceber sinais de alerta quanto à segurança, como o cheiro do gás de cozinha vazando. Os resultados demonstram preocupação quanto à qualidade de vida devido aos déficits sensoriais.
“Nesse trabalho da Ufes nós vimos mais a parte respiratória, mas a partir da depressão, ansiedade e distúrbio do sono. E nesse segmento, mesmo após seis meses as pessoas ainda estavam muito ruins por causa da covid-19. E depois de um ano, ainda estavam ruins. A gente espera que com o avanço dessa pesquisa, a gente consiga ter uma ligação mais direta. Existem alguns marcadores a nível sanguíneo, então estão sendo feitos testes genéticos, inclusive para tentar ver quem seriam esses indivíduos. No entanto, está muito incerto ainda. A gente teve o covid-19 e teve que dar conta. Agora temos uma outra situação, que é a pós-covid-19”, frisou Jéssica Polese.
Ainda segundo a pneumologista, quadros neurológicos, alteração no raciocínio, depressão e distúrbio de sono podem ser lesões causadas pelo vírus a nível do sistema nervoso central. Há a possibilidade do isolamento social, medo da morte e da perda das pessoas próximas, não sejam só uma histeria coletiva, mas sim uma lesão viral, que pode ter se transformado em uma patologia. Por isso, é necessário cuidado e tratamento adequado em casos de covid-19.
“A gente tem uma coisa chamada de síndrome da fadiga crônica. Ela não é exclusiva do covid-19. Ela é relativa de doenças virais. A pessoa simplesmente não aguenta fazer as coisas. Ela até quer fazer, mas não tem energia, não tem ânimo. Começa a fazer e se cansa. Tem pessoas que ficam realmente inválidas mesmo. É um grupo muito grande e desconhecido. A maioria não sabe como diagnosticar e nem tratar. Com o advento de uma infecção viram em larga escala, como nós tivemos, era esperado algo desse tipo. A síndrome da covid-19 longa é um tipo de encefalite, que não se sabe muito bem se é autoimune, se é do vírus, do sistema gastrointestinal ou pulmonar. A dúvida é: o vírus ainda existe ou é a resposta ao vírus que está provocando os sintomas? O fato é que quanto mais grave o covid-19, maior a chance dos sintomas serem mais graves”, pontuou a médica.
VACINA
A pneumologista aponta a vacina como uma ferramenta na redução dos sintomas durante a doença e até mesmo no pós-covid-19. Ainda é uma questão que demanda mais estudos para ser respondida com clareza, no entanto, a recomendação é que todas as doses sejam tomadas.
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