A persistência da memória

O tempo tem não tem curvas ou atalhos. Foto: vecstock/Freepik

Qual o tempo certo? Esse tal de tempo é uma coisa que não sabe fazer hora com ninguém. O tempo segue suas próprias regras, indiferente às pressas e ansiedades que o cercam.

Como fã, lembro da Lady Gaga, que só foi tirar a carteira de motorista quando já carregava três décadas de vida nas costas. E daí? O tempo dela é que marcou esse compasso, e não adianta tentar dar pressa onde o tempo não encontra espaço.

E no bairro de Itapuã, o tempo ocupa espaços de diferentes formas e idades. Quem já andou pelo bairro, deve ter visto um grande condomínio verdinho chamado Abacateiros. Ele é mais velho que muita cidade moderna que existe por aí. Ele se espalhou, como quem deseja criar uma cidade cercada de garagens e muro vazado, enquanto os prédios ao redor são criações mais novas. O Abacateiros é da época que o tempo de sol na praia era mais longo e os banhos de mar mais demorados.

O tempo também maltrata as pessoas. O corpo humano que não resiste a uma grande, rápida e traiçoeira onda no mar. Quando tem um dedinho mindinho quebrado, precisa de longos noventa dias para sarar, e quem somos nós para apressar um osso que faz parte de um dedo que só foi lembrado quando se partiu ao meio. O tempo é um dos donos da cura.

E, falando em esperar, não posso esquecer da carência do plano de saúde.

Um contrato que cobra o seu tempo até que você possa usufruir de seus benefícios. Um tempo de carência, uma espera que só reforça a sensação de impotência que às vezes toma conta da gente.

O tempo tem não tem curvas ou atalhos.

Ele nos dá presentes e experiências, nos faz esperar e desesperar.

Lady Gaga, o Condomínio Abacateiros, os ossos quebrados e até os planos de saúde, todos dançam no compasso de seus próprios relógios, enquanto a gente aqui segue tentando acompanhar, sem nunca saber quanto tempo resta para nós.

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