Personagens
Mãe de menino autista usa redes sociais para trocar experiências
Compartilhando as dores e alegrias, dificuldades e vitórias, direitos e informações, a advogada Maira Miranda, mãe do Vicente, de 5 anos, conquistou 217 mil seguidores

Maira Miranda e Vicente. Foto: Reprodução/Instagram
Dúvidas, incertezas, medo, preocupação… Os pais de crianças autistas passam por muitas dificuldades durante o processo de diagnóstico. Na busca para entender os sintomas “diferentes” que suas crianças apresentam, eles procuram ajuda profissional. Mas nem sempre essa jornada é fácil e nem todos sabem lidar com o resultado. Muitas vezes, conversar com outras pessoas que encaram a mesma realidade também pode ajudar. Em alguns casos, essa rede de apoio pode ser formada virtualmente. E foi assim, compartilhando as dores e alegrias, dificuldades e vitórias, direitos e informações, que a advogada Maira Miranda, mãe do Vicente, de 5 anos, conquistou 217 mil seguidores.
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Vicente, filho da advogada Maira Miranda. Foto: Reprodução/Instagram
Maira lembra que nos primeiros meses de vida do pequeno, foi alertada pela mãe a buscar ajuda especializada. “Minha mãe é psicóloga infantil. Ela falava comigo com jeitinho. Nunca é fácil falar essas coisas com as mães. Ela me alertava por causa dos atrasos que ele apresentava: não rolava, não engatinhava. Ele tinha um atraso perto da média. As crianças tem marcos do desenvolvimento, idades em que passam a fazer cada etapa. O Vicente começava e não concluía de forma rápida. Nós comemoramos várias vezes os primeiros passos. Ele começou a dar os primeiros passos ainda com 1 ano, mas não andava sem se firmar. Ele só foi andar mesmo com 1 ano e 3 meses. Assim como a fala, foi o mesmo processo”, conta a advogada.
Para Maira, a regressão em marcos do desenvolvimento – característica forte do autismo – foi um ponto importante para identificar que o filho tinha transtorno do espectro autista (TEA). A advogada e o marido planejaram uma viagem de seis meses. Levaram Vicente a uma neurologista que garantiu que não teria prejuízos ao desenvolvimento do menino. De seis meses, a viagem durou apenas três. Logo no início da aventura, o pequeno apresentou regressão na fala. As poucas palavras que ele já pronunciava, se tornaram apenas ruídos. Nessa altura, a mãe já tinha estudado sobre a regressão e fechou os pontos, que só foram confirmados pelo diagnóstico médico muitos meses depois.
Apesar de todas as fortes características, tantas consultas com médicos, psiquiatras e neurologistas e nada do diagnóstico. É ou não é autismo? Iniciar ou não o tratamento? Após mais de um ano de muitas incertezas, veio então o laudo. Vicente já tinha 2 anos e 11 meses. “Eu já estudava muito sobre autismo. Ele já fazia tratamento. Mas quando a gente recebe o diagnóstico é muito difícil. É até mesmo um processo de luto. Naquele momento os sonhos que você tinha para seu filho deixam de existir. Eu precisei não só entender como ser mãe, mas sim ser mãe de um menino autista. Eles precisam ser muito mais motivados. Eu preciso entender o porquê dele estar fazendo uma estereotipia – ações repetitivas, costumam acontecer em situações que o autista se sente bombardeado por estímulos – essa é a forma dele se expressar”, explica Maira.
O amor de mãe move o mundo. E moveu Maira. E muito. A falta de informação sobre o autismo a levou buscar conhecimento e compartilhar nas redes sociais. É no perfil Mãe No Mundo que ela fala não só da rotina de terapias, fonoaudiologia e todo o progresso do filho. Lá ela também esclarece sobre os direitos garantidos por lei que o autista possui. Afinal, na Lei 12.764 de 27/12/2012 de Berenice Piana diz, no artigo 1º, § 2º, que “A pessoa com Transtorno do Espectro Autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais. Ela alerta que na escola, o aluno autista tem direito a um acompanhante fornecido pela escola para auxiliá-lo a todas as questões sociais e pedagógicas. A lei garante ainda isenção de impostos na compra de veículos automotores, atendimento prioritário em filas e tantos outros direitos.
“Nesse espaço das redes sociais, busco falar muito sobre os direitos dos autistas, afinal, muitas pessoas desconhecem e poderia fazer muita diferença na vida delas. Uma família que não tem condições de pagar terapia particular, com o diagnóstico, ela passa a ter direito de fazer pelo SUS. Famílias em estado de vulnerabilidade social, tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), podendo receber um valor para ajudar nos custos de um integrante da família – normalmente a mãe – estar fora do ambiente de trabalho para dar assistência à criança autista”, detalha a advogada.
Ainda segundo Maira, o direito a ter as terapias prescritas pelo médico, integralmente cobertas pelo Plano de Saúde, é um dos que mais gera demandas judiciais. Infelizmente ainda é mais comum que os planos de saúde dificultem esse acesso, limitando a profissionais não especializados e carga horária menor que a necessária. Nesses caso, enquanto advogada, ela atua para fazer valer esse direito judicialmente.
O Mãe no Mundo tomou proporções inesperadas. É um ambiente de troca e uma rede de apoio. É um espaço para comemorar o desenvolvimento, alertar sobre as regressões, mostrar o amor e o zelo. Muitas mães se identificaram e seguiram, mas muito mais do que isso, elas se apoiam e trocam experiências. E é nesse espaço que as dores também são acolhidas.

Vicente, filho da Maira Miranda. Foto: Reprodução/Instagram
