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Agricultor do ES pinta aquarela no Pico da Bandeira sob frio de -3°C

Com tintas congelando e maleta improvisada, Ruy Berger levou a arte até um dos pontos mais altos do Brasil e emocionou trilheiros

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Ruy Berger exibe a aquarela que pintou no topo do Pico da Bandeira, a quase 2.900 metros de altitude

Ruy Berger exibe a aquarela que pintou no topo do Pico da Bandeira, a quase 2.900 metros de altitude. Foto: Arquivo Pessoal

No alto dos 2.891 metros do Pico da Bandeira, onde o vento corta o rosto e as palavras congelam na boca, um jovem capixaba decidiu pintar. Com uma maleta de madeira no colo e as tintas quase sólidas pelo frio, o agricultor e artista Ruy Berger, de 29 anos, transformou o topo da montanha da terceira montanha mais alta do Brasil em ateliê a céu aberto.

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A subida começou meia noite do domingo, 27 de julho, com o grupo partindo ainda no escuro para alcançar o topo a tempo do nascer do sol. Foram 3h54min de caminhada na ida, com temperatura de -3°C e sensação térmica de -5°C. A volta levou pouco mais de 3h.

A pintura, feita com tinta acrílica sobre papel, retrata o próprio pico: o céu colorido pelo amanhecer, as nuvens ao fundo e a cruz de ferro que marca o cume. Apesar da pouca experiência com a técnica, Ruy decidiu se arriscar. “A pintura acrílica ainda é nova para mim, mas sempre me lanço nos desafios”, afirma.

Uma maleta de arte e um sonho nas costas

Ruy Berger apresenta a obra “Metamorfose”, leiloada em benefício da APAE de Santa Maria de Jetibá

Ruy Berger apresenta a obra “Metamorfose”, leiloada em benefício da APAE de Santa Maria de Jetibá. Foto: Arquivo Pessoal

Natural de Santa Teresa e morador de Santa Maria de Jetibá, Ruy ajuda os pais na produção de orgânicos, mas desde a infância alimenta uma relação profunda com as artes. Com lápis de cor e tinta a óleo, aprendeu a desenhar rostos e a expressar sentimentos. Mesmo sem formação formal, suas criações já foram vistas em exposições e homenagens locais.

Para a aventura no Pico da Bandeira, Ruy levou o essencial: uma maletinha simples, pincéis, tintas e o sonho de se desafiar. A subida aconteceu em grupo, com amigos que apoiaram sua ideia e até ofereceram ajuda para carregar os materiais. “A maior dificuldade foi a temperatura. As tintas à base d’água congelavam instantaneamente”, contou. Na descida, a maleta se quebrou, mas ele deu um jeito de colá-la com micropore e finalizou os retoques já em casa.

Reações emocionadas no caminho de volta

Durante a trilha, muitas pessoas se mostraram curiosas com a caixa que ele carregava. “Um moço achou que fosse uma caixa de abelhas”, relembra, rindo. No retorno, uma mulher pediu para ver a pintura. Encantada, tirou uma foto com o artista e compartilhou palavras de incentivo que, segundo Ruy, aqueceram mais do que qualquer agasalho.

Além disso, ele decidiu presentear o guia com o quadro original como forma de gratidão pela ideia, e fará cópias para os amigos que participaram da aventura. “Essa experiência foi um degrau no meu desenvolvimento artístico”, afirma. “Tenho vontade de levar material sempre que fizer trilhas, para retratar novas paisagens.”

Com pincéis, tintas e frio intenso, agricultor capixaba transforma o cume da montanha em ateliê a céu aberto. Foto: Arquivo Pessoal

Com pincéis, tintas e frio intenso, agricultor capixaba transforma o cume da montanha em ateliê a céu aberto. Foto: Arquivo Pessoal

Pintar nas nuvens e acreditar nos próprios passos

O topo do Pico da Bandeira é um dos pontos mais frios da Região Sudeste, com temperaturas que podem chegar a -14°C. Mesmo com todas as dificuldades, Ruy conseguiu criar ali a sua obra chamada “Minha primeira vez no Pico da Bandeira”. Segundo ele, o quadro representa mais do que a paisagem: é o símbolo de um menino agricultor que sonha alto.

“Já desisti várias vezes. Já guardei meus lápis e tintas numa caixa. Mas meu dom é o que me mantém aquecido”, desabafa. A mensagem que deixa a outros artistas é clara: “Mesmo sem visibilidade ou oportunidades, continuem. Mostrem sua arte. Sonhem alto, sim.”

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