Esportes
Intersexo ou transgênero? Entenda a polêmica da boxeadora argelina
Imane Khelif sofreu uma série de ameaças e ainda recebeu milhares de comentários transfóbicos nas redes sociais
A luta entre a argelina Imane Khelif e a italiana Angelina Carini durou apenas 45 segundos, mas a polêmica por trás dela foi enorme. Após a vitória de Imane, as informações falsas sobre ela ser uma atleta trans foram disseminadas na internet, gerando uma enorme discussão.
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A luta, que aconteceu na última quinta-feira (01) foi encerrada após a italiana desistir da disputa. Em uma entrevista dada após o fim da luta, Angelina deixou claro que a decisão foi por conta de dores no nariz. “Eu entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria ganhar. Recebi duas injeções no nariz e não estava conseguindo respirar. Isso me fez muito mal”, disse.
Entretanto, os boatos sobre a força excessiva de Imane ter afetado a italiana aumentaram ainda mais após descobrirem que a atleta tem um nível de testosterona acima do normal para mulheres cisgênero – aquelas que nascem como mulher e se identificam como mulher.
Com isso, milhares de pessoas entenderam que ela é uma mulher transgênero e espalharam a informação. A atleta na realidade faz parte de um grupo de pessoas consideradas intersexo, porque nasceram com uma variação hormonal que não se encaixa em normas médicas para corpos masculinos ou femininos. De acordo com a Organização das Nações Unidas, cerca de 1,7% da população nasce com essas características.
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De acordo com as evidências científicas, algumas pessoas apresentam cromossomos sexuais XY (que determinam o sexo masculino), mas se desenvolvem com órgãos genitais femininos. Essa alteração acaba mudando o nível de testosterona no sangue, sendo compatível com o corpo masculino. Pessoas com Síndrome de Klinefelter, Síndrome de Turner e Síndrome de Rokitansky são exemplos de intersexualidade.
Khelif podia competir?
A definição de uma atleta poder ou não competir depende das normas das federações de cada modalidade. A Associação Internacional de Boxe (IBA), por exemplo, tem regras rígidas, que impedem que atletas com cromossomos XY possam competir em eventos femininos. Entretanto, Imane pôde competir porque a IBA foi banida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em 2023 após acusações de corrupção nos resultados.
Mesmo com a onda de desinformação, muitas pessoas defenderam a atleta que nasceu e cresceu como mulher cis. Durante a infância, Imane Khelif foi criada numa vila rural, sendo até impedida de praticar esportes porque o pai não aprovava o boxe para meninas.
“Elas perderam e venceram contra outras mulheres através do tempo e precisamos deixar muito claro, isto não é uma questão transgênero […] Muitas mulheres podem ter testosteronas em níveis chamados de “masculinos” e ainda serem mulheres, ainda podem competir como mulheres”, destacou o porta-voz do COI, Mark Adams.
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COI e as regras
O Comitê Olímpico lembrou ainda que as mesmas regras aplicadas nos Jogos Olímpicos foram usados nas classificatórias para os jogos. Dessa forma, as competições mantiveram os critérios utilizados em todos os outros torneios disputados para que os atletas fossem selecionatos para as Olimpíadas.
Em nota, o COI lembrou que todas as pessoas tem o direito de praticar esportes sem discriminação. “O COI está comprometido em proteger os direitos humanos de todos os atletas participantes nos Jogos Olímpicos conforme a Carta Olímpica, o Código de Ética do COI e o Marco Estratégico do COI sobre Direitos Humanos. O COI está entristecido pelo abuso que as duas atletas estão recebendo atualmente”, diz o texto.
Entenda os termos
Cisgênero: pessoas que se identificam com o gênero designado ao nascer, baseado no sexo biológico (masculino ou feminino).
Intersexo: pessoas que nasceram com características que não se enquadram nas normas médicas para corpos do sexo feminino ou masculino. Essa condição pode estar relacionada a cromossomos, órgãos genitais, hormônios, entre outras questões.
Transgênero: Pessoas que não se identificam com o gênero designado ao nascer, baseado no sexo biológico (masculino ou feminino).
Não-binárias: Pessoas que não se identificam com identidades de gênero 100% masculinas ou femininas.
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