Coluna Vitor Vogas
Saiba como está a eleição para o Senado no Espírito Santo
Quem são os pré-candidatos? Quem cada um representa nessa disputa? Quais têm mais chances de se manter de pé até o fim? Quais os acordos e alianças que podem ser selados antes da largada?
Se a eleição para o governo do Estado a esta altura parece bem congestionada, com nove pré-candidatos no páreo, o que dizer da corrida rumo ao Senado? Com somente uma vaga em disputa este ano – a de Rose de Freitas, do MDB –, essa corrida nasce ainda mais embolada no Espírito Santo. Hoje, com graus variados de intensidade, há mais de dez nomes cotados para competir: alguns já estão em plena pré-campanha, outros são especulados por terceiros e há ainda os que querem concorrer, mas para isso precisam vencer disputas internas no próprio partido ou federação. Até 15 de agosto, só uma parte dos nomes abaixo deve restar de pé.
A coluna de hoje apresenta todos os possíveis candidatos ao Senado no Estado e o panorama atual dessa eleição que promete ser ainda mais acirrada que a do governo estadual. Falando em governo, comecemos pelo bloco de Renato Casagrande (PSB).
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O bloco casagrandista: Rose, Da Vitória, Ramalho…
Hoje – sem contar a eventual chegada do PSDB e/ou do PT a esse bloco –, nada menos que quatro aliados de Casagrande competem pela condição de candidato(a) ao Senado com o apoio declarado do atual governador. Três deles possuem maiores chances: a já citada senadora Rose de Freitas (MDB), pré-candidata à reeleição, o ex-secretário estadual de Segurança Pública Alexandre Ramalho (Podemos) e o deputado federal Josias da Vitória (PP).
Desse trio, o mais cauteloso é o último. Após ter trocado o Cidadania pelo PP em março, Da Vitória tem dito que seu projeto, a princípio, é ser candidato à reeleição.
Pelo que apuramos, o coordenador da bancada do Espírito Santo no Congresso só entrará mesmo na apertada disputa pela vaga solitária no Senado se for ungido pelo governador e se houver uma construção consensual em torno dele. Do contrário, dificilmente irá para uma candidatura de risco ao Senado, sacrificando uma muito mais provável e confortável candidatura à reeleição na Câmara (onde há dez vagas em jogo no Espírito Santo). Isto é, se não for “o” candidato do governo Casagrande, Da Vitória dificilmente trocará um pássaro na mão por dois voando.
Ao contrário do deputado do PP, que evita se jogar nessa disputa, tanto Rose quanto Ramalho declaram-se postulantes ao Senado e concorrem abertamente pelo selo de candidato(a) do governo Casagrande e do próprio.
Em entrevista a este espaço, Rose já declarou que acredita em Casagrande e espera que ele também acredite nela (ou seja, que abrace a sua candidatura à reeleição). Mas na mesma entrevista afirmou que, se ele não o fizer, ela pode “ir cuidar da vida” – sugerindo que pode até vir a apoiar um outro candidato ao governo que lhe retribua o apoio, em detrimento de Casagrande.
Para o MDB, a viabilização dessa candidatura de Rose é fundamental, já que o partido presidido por ela própria no Espírito Santo está estilhaçado em âmbito estadual. Possivelmente não fará nenhum deputado estadual nem federal em outubro (o que nunca ocorreu). Aliás, provavelmente nem sequer conseguirá registrar chapa de candidatos para a Câmara Federal.
Quanto a Ramalho, no dia 2 de abril – data fatídica para a filiação partidária de todos os pré-candidatos a todos os cargos em disputa –, o coronel da PMES chegou a estar com um coturno fora do Podemos, partido da base de Casagrande. Foi convencido a ficar, segundo ele próprio, mediante a garantia recebida do presidente estadual do partido, Gilson Daniel, de que será mesmo candidato ao Senado. Ramalho também apresentou esse pleito a Casagrande. O coronel só trabalha com essa hipótese e, em vídeos divulgados por ele em suas redes sociais, apresenta-se como pré-candidato a senador.
Correndo por fora, com chances bem mais tímidas de ser candidato a senador com o apoio de Casagrande, há ainda um quarto nome: o do pastor, palestrante e escritor Nelson Junior, idealizador do movimento Eu Escolhi Esperar, que prega a abstinência sexual entre adolescentes e jovens. Ele quer concorrer ao cargo pelo Avante, pequena sigla que também compõe o arco de alianças do governador. Possivelmente, terá que esperar. Ou fazer outra escolha. Como candidato do governo, será difícil…
O campo do bolsonarismo: Magno e Meneguelli
Já nas raias do bolsonarismo, a pista é dividida por dois pré-candidatos declaradíssimos ao Senado que a priori podem ser considerados bem competitivos, dada a capilaridade nem um pouco desprezível de ambos junto a esse segmento de eleitores fidelizados do atual presidente da República, extremamente conservadores nos costumes e com forte orientação religiosa (em especial, evangélica).
Em uma raia, ressurge o ex-senador Magno Malta, que almeja voltar ao Senado após ter exercido dois mandatos seguidos na Casa (16 anos ininterruptos, de 2003 a 2018) e amargado o insucesso nas urnas há quatro anos, em sua tentativa de emendar um terceiro mandato consecutivo.
Para essa busca de redenção, Magno vem mais “casado” com Bolsonaro do que nunca, pois agora o vínculo se expressa até no aspecto partidário: o ex-senador, pastor, cantor de pagode gospel e lutador de jiu-jítsu é o presidente estadual do PL, partido ao qual Bolsonaro se filiou para concorrer à reeleição.
Na raia paralela, apresenta-se Sérgio Meneguelli, que, ainda como prefeito de Colatina – por algum motivo que, confesso, me escapa –, passou a acumular forte popularidade, traduzida em seguidores e likes, entre eleitores alinhados a Bolsonaro e à chamada “direita conservadora”.
Meneguelli só chegou a exercer um mandato na Prefeitura de Colatina. Em 2020, abdicou da tentativa de reeleição. Após dois anos sem mandato, surge neste pleito como o pré-candidato do Republicanos, sigla que se autointitula “o verdadeiro partido conservador”, que está na base congressual de Bolsonaro e que apoiará a reeleição do presidente.
A princípio, Magno e Meneguelli estão, respectivamente, nas chapas que têm Carlos Manato (PL) e Erick Musso (Republicanos) como pré-candidatos ao governo estadual. Naturalmente, a confirmação ou não dessas dobradinhas dentro dos mesmos partidos dependerá das articulações eleitorais a serem conduzidas até agosto, inclusive entre os representantes desse bolsonarismo com tempero capixaba.
Vale dizer: até por fazerem parte do mesmo campo e competirem pelo mesmo eleitorado, não se pode descartar uma composição entre PL e Republicanos nas disputas majoritárias no Estado, com a união (ou fusão) de candidaturas, caso esse em que um dos dois pré-candidatos a senador (Meneguelli ou Magno) pode sobrar para cá, enquanto um dos dois aspirantes a governador (Erick ou Manato) pode espirrar para lá. Hoje essa hipótese soa pouco provável, mas não de todo impossível.
Em tempo: o empresário Idalécio Carone também foi apresentado como pré-candidato ao Senado, mas essa postulação esbarra de plano em um grande contratempo: o Agir, partido de Carone, já manifestou apoio eleitoral a Erick Musso. Tecnicamente, não há entrave legal para que o Agir lance mesmo Carone ao Senado, como uma “candidatura avulsa”, mas nesse caso ele não terá o apoio de nenhum candidato a governador, já que Erick obviamente está fechado com o candidato do partido dele: Meneguelli.
César Colnago (PSD)
Recém-filiado ao PSD – que vem para a corrida ao governo com o ex-prefeito de Linhares, Guerino Zanon –, o ex-tucano César Colnago também declarou sua aspiração ao Senado no início deste mês, após desistir de pleitear o cargo de governador e decidir abraçar a candidatura de Guerino ao Palácio Anchieta.
Colnago já exerceu três mandatos de vereador de Vitória, dois de deputado estadual e um de federal, além de ter chefiado várias secretarias nos Executivos da Capital e do Estado e de ter sido vice-governador no último governo Paulo Hartung (hoje sem partido), de 2015 a 2018. Em março, após cerca de 30 anos militando no PSDB, trocou de partido.
PSDB/Cidadania: Ricardo, Juninho, Léo de Castro…
O presidente estadual do PSDB e deputado estadual Vandinho Leite afirma taxativamente que o PSDB terá candidato majoritário no Espírito Santo: a princípio, senador ou vice-governador (governador será difícil…). Na eleição estadual, assim como em todo o país, o partido virá conjugado com o Cidadania, já que as duas legendas formaram uma federação (espécie de coligação com efeitos mais duradouros, que vale agora para esta eleição e se estende pelos próximos quatro anos).
Como possíveis quadros da federação que podem assumir candidatura a senador ou a vice-governador no Espírito Santo, Vandinho cita Ricardo Ferraço – que voltou ao PSDB em março, após passagem pelo DEM (depois União Brasil), e inclusive já exerceu os dois cargos. O tucano menciona, ainda, o ex-prefeito de Cariacica Geraldo Luzia Junior, o Juninho (Cidadania).
Correndo bem por fora, mas não ignorado por Vandinho, está o empresário Léo de Castro. Perto do prazo fatal de 2 de abril, o ex-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) trocou o MDB pelo PSDB. Se filiou-se dentro do prazo, está no jogo: legalmente, pode ser candidato a qualquer cargo. Vandinho diz que busca convencê-lo a se lançar. Ele poderia figurar como suplente se algum candidato a senador ou até surpreender em posição mais vistosa.
PT: Reinaldo ou Célia
Liderando outra federação – esta de esquerda, com o PV e com o PCdoB –, o Partido dos Trabalhadores no Espírito Santo afirma que quer ter candidato próprio também ao Senado, enquanto trabalha para pôr de pé a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta.
Petistas falam em até seis pré-candidatos disputando a legenda internamente, mas, na real mesmo, só dois possuem chances:
De um lado, o professor de Física e ex-reitor da Ufes Reinaldo Centoducatte, que pretende voltar a pleitear um mandato eletivo após 40 anos: cofundador do PT no Espírito Santo, foi candidato a deputado federal em 1982. A favor de Reinaldo em eventual disputa interna, conta o fato de que ele já reúne o apoio das correntes majoritárias que controlam a direção do PT no Estado atualmente – a da presidente, Jackeline Rocha (CNB), e a do vice-presidente, João Coser (Alternativa Socialista) –, além da corrente do ex-secretário estadual de Cidadania e Direitos Humanos Perly Cipriano (CNB-Depar). Garantiu a hegemonia no partido.
Do outro lado, como principal concorrente de Reinaldo pela vaga, está a professora aposentada Célia Tavares. A ex-secretária de Educação de Cariacica conta com o apoio do deputado federal Helder Salomão e da corrente da deputada estadual Iriny Lopes (Articulação de Esquerda). Já concorreu ao Senado pelo PT em 2018, além de ter sido candidata a prefeita de Cariacica em 2020, sendo vencida por Euclério Sampaio (União Brasil) no 2º turno. Se seu nome não vingar para o Senado, ela pode participar do pleito como candidata a deputada estadual.
Psol: Gilbertinho
O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) acaba de lançar a pré-candidatura de Gilbertinho Campos ao Senado, ratificada por representantes da direção nacional da sigla. Historiador e servidor aposentado da Receita Estadual, ele foi candidato a prefeito de Vitória em 2020, tendo recebido poucos votos.
O empecilho inicial é a federação formada pelo Psol com a Rede Sustentabilidade, que, na eleição ao governo, tem a pré-candidatura de Audifax Barcelos (Rede). O ex-prefeito da Serra gostaria de contar com um candidato ao Senado de maior densidade eleitoral, para ajudá-lo na campanha ao Palácio Anchieta.
PSTU: Filipe Skiter
Neste mês, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) lançou e servidor de carreira da Ufes Filipe Skiter como pré-candidato ao Senado. O partido de inspiração marxista e trotskista também tem postulante ao cargo de governador: o capitão da PMES Vinícius Sousa.
E é isso. Este é o quadro por enquanto.
A vaga em disputa
O Senado Federal é, no Congresso Nacional, a Casa da representação dos estados e do Distrito Federal. Nele, cada unidade federativa possui três representantes, totalizando 81 senadores. Cada senador tem mandato de oito anos.
As três cadeiras de cada unidade federativa são preenchidas de maneira alternada: na eleição passada, em 2018, cada estado elegeu dois; neste ano, será só um; daqui a quatro anos, serão dois, e assim sucessivamente…
Em 2014, os capixabas elegeram a senadora Rose de Freitas, pelo MDB, cujo mandato agora se encerra. Em 2018, foram eleitos Fabiano Contarato (então na Rede, agora no PT) e Marcos do Val (então no Cidadania, agora no Podemos).
Agora, a vaga em disputa é a de Rose porque ela está completando oito anos de mandato. Contarato e Do Val têm mandato assegurado por mais quatro anos, até 2026.
Importante: chapas são independentes
Quando falamos que um candidato a governador e um concorrente ao Senado estão na “mesma chapa majoritária”, isso é uma maneira de dizer, que leva em conta fatores políticos. É uma simplificação. A rigor, a Justiça Eleitoral entende que há absoluta independência entre a eleição ao governo estadual e a disputa ao Senado. Assim, mesmo que sejam aliados políticos e eleitorais, a chapa do postulante ao governo é uma; a do aspirante a senador é outra.
Quais são os efeitos práticos disso?
Em primeiro lugar, nada impede que um grupo de partidos que apoiam determinado candidato a governador lance dois ou mais candidatos ao Senado. Da mesma forma, não há nenhum impedimento, pelo menos legal, para que determinado candidato a governador declare apoio a dois ou até mais candidatos a senador pertencentes a partidos que fazem parte de sua coligação.
Tomemos o exemplo concreto importante descrito no início desta coluna. No bloco de apoiadores de Casagrande (PSB), como vimos, há três possíveis candidatos ao Senado com chances reais de se tornar “o/a” candidato/a apoiado/a pelo atual governador. Dois deles concorrem publicamente por essa condição: Rose de Freitas (MDB) e Coronel Ramalho (Podemos). E há, ainda, a possibilidade de Da Vitória (PP) assumir o posto.
Pois bem: tecnicamente, os partidos desses três pré-candidatos – MDB, Podemos e PP – podem integrar oficialmente a coligação de Casagrande, na disputa pelo governo, e apoiar a sua reeleição. Mas, se assim decidirem, mesmo estando unidos na coligação de Casagrande na eleição ao governo, cada um desses partidos também pode lançar uma chapa própria ao Senado: o MDB pode lançar Rose; o Podemos, Ramalho; o PP, Da Vitória.
Essa é a questão tratada do ponto de vista técnico.
Do ponto de vista político, há problemas. Com dois ou mais candidatos ao Senado oriundos de seu rol de aliados, o governador até pode declarar apoio a mais de um. Poder, ele pode. Mas, em primeiro lugar, isso pode soar como deslealdade a um ou a outro. Em segundo lugar, pragmaticamente, pode não ser muito inteligente, pois os dois na certa vão dividir os votos dos eleitores do governo, correndo o risco de morrerem abraçados na praia – lembrando: só há uma vaga em jogo, e a concorrência fora do bloco governista vem forte para essa disputa.
E supondo que, pragmático, Casagrande só manifeste apoio eleitoral a um desses candidatos, erigindo-o/a como “o/a” candidato/a do Palácio Anchieta. Digamos, para fins explicativos, que a ungida seja Rose de Freitas. Nesse caso, o Podemos até pode lançar Ramalho numa chapa avulsa ao Senado, e o mesmo pode fazer o PP em relação a Da Vitória.
Mas, com um candidato a governador pedindo votos para você estado afora, a eleição ao Senado já é duríssima. Imagine sem ninguém para fazer essa dobradinha, para te carregar no palanque… Você teria que conquistar votos para si mesmo, sozinho, no território capixaba inteiro. Uma missão que, por si, já é dificílima, torna-se praticamente impossível. Vira uma candidatura kamikaze.
Há, por fim, um complicador de ordem financeira: com uma chapa avulsa ao Senado, quem é que vai financiar essa campanha, transferindo recursos legalmente para o/a candidato/a?
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