fbpx

Dinheiro

Grande Vitória tem quatro vezes mais farmácias que o recomendado

Nos últimos 15 meses, desde o início da pandemia, o Espírito Santo ganhou 175 farmácias, sendo 70 na Grande Vitória, um crescimento de 6% no ES

Publicado

em


Se antes o muro de tijolinho de uma casa era a referência para quem precisava acessar a Terceira Ponte por Vila Velha em direção à Vitória, agora, a maneira de achar o caminho de volta é uma farmácia.

Assim como ocorreu nesta esquina na Praia da Costa, outros terrenos com casas antigas em bairros nobres da Grande Vitória também estão dando lugar a novas farmácias de grande rede. Recentemente, uma farmácia abriu na rua Aleixo Netto no lugar de uma antiga casa do bairro.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Nos últimos 15 meses, desde o início da pandemia, o Espírito Santo ganhou 175 farmácias, sendo 70 na Grande Vitória, um crescimento de 6% no ES. Nos 15 meses anteriores, foram 164 novas farmácias no Espírito Santo. E o fechamento foi também no mesmo ritmo, com 5,4% das farmácias encerrando suas atividades no estado. Os dados são do Conselho Federal de Farmácia no Espírito Santo (CRF-ES).

Com a chegada dessas novas unidades, principalmente das grandes redes, a Grande Vitória agora tem 886 farmácias e o Espírito Santo 2.105. Isso representa uma loja de medicamentos a cada 2 mil habitantes na região metropolitana, quatro vezes mais do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Para o presidente do CRF-ES, Luiz Carlos Cavalcanti, a recomendação da OMS é defendida pelo conselho, ressaltando que ter 1 farmácia para cada 2 mil pessoas é um número maior do que seria necessário para atender às necessidades de saúde.

“Quando temos muitos concorrendo pelo mesmo público, podem ocorrer práticas que lesam de alguma forma a saúde, como por exemplo a propaganda de medicamento que estimula a aquisição de produtos que não sejam necessários. Outro receio é o aumento da automedicação”, afirma.

Sobre a presença massiva das farmácias de redes, muitas vezes com várias unidades no mesmo bairro, ele explica que não há nenhuma lei que estabeleça o máximo que possa ter. Ele lembra que antigamente havia uma lei que impedia a abertura de farmácias a menos de 500 metros de outra, mas foi derrubada por ser inconstitucional.

Outra explicação para o grande número de farmácias é que o aumento da demanda por medicamentos tem aumentado por vários motivos, como envelhecimento da população que passa a conviver com doenças crônicas e passam a usar medicamentos que não curam, e sim servem para manter a pessoa sob controle. “Assim, passa a ser consumidora contínua de medicamentos”, detalha Cavalcanti.

Além disso, ele acrescenta que as grandes redes têm metas a cumprir de crescimento para atender aos acionistas.

Farmácia como negócio

Na avaliação do economista e professor da Fucape Business School Felipe Storch Damasceno, como negócio, as farmácias de grandes redes têm características vantajosas que é o tamanho e possibilidade de negociar bons contratos com laboratórios, trabalhando com custo menor de que uma farmácia de bairro.

“As mais antigas não conseguem competir, o custo é muito alto e por isso acabam sobrevivendo nas partes da cidade onde as grandes não querem ir, nas periferias onde a demanda é menor”, avalia.

Damasceno diz ainda que as grandes redes tentam se impor pela localização e pela quantidade de farmácias numa região. Como boa parte das compras acaba sendo de consumo de oportunidade, as pessoas acabam indo nas mais próximas de casa ou mais fáceis de estacionar.

Como ficam as pequenas

Com o avanço das grandes, as farmácias pequenas, onde na maioria das vezes o dono é o próprio farmacêutico, acabam indo para bairros mais periféricos e para se diferenciar eles acabam tendo outros atrativos para atrair e reter clientes.

Segundo o presidente do CRF-ES, nesses locais o farmacêutico tem relacionamento muito mais pessoal com as pessoas e conseguem fidelizar os clientes. “Mesmo com pix, picpay e cartões, ainda existe venda no estilo antigo na caderneta para pagar no final do mês”, relata Cavalcanti.

Além disso, eles oferecem serviços que as grandes não oferecem, como aplicação de injetáveis.

O futuro

Questionado se há espaço para continuar abrindo farmácias e como visualiza o futuro, o presidente do CRF-ES diz que será necessário uma prestação de serviço maior, como um posto de saúde avançado, que oferece serviço como aferição de pressão arterial, glicemia e a partir do rastreamento encaminhar para o médico.

“O farmacêutico também pode fazer acompanhamento da medicação, principalmente de idosos que usam muitos remédios e orientar o uso da forma mais correta. O caminho é diversificar além dos produtos”, avalia Cavalcanti.

O que dizem as farmácias

A Abrafarma, associação das redes de farmácias do país, foi procurada, mas por envolver práticas comerciais e concorrenciais, preferiu não se manifestar. As redes Drogasil e Pacheco foram procuradas pela reportagem, mas também preferiram não responder aos questionamentos.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui