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Por que os supermercados vão fechar aos domingos no ES

Decisão é pautada na falta de mão de obra, jornadas exaustivas e defesa do descanso semanal; fechamento será testado entre março e outubro

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O fechamento dos supermercados aos domingos no Espírito Santo, previsto para começar em 1º de março de 2026, expõe um ponto de tensão que vinha se acumulando no varejo: as empresas dizem não encontrar mão de obra, enquanto o sindicato dos trabalhadores afirma que o problema é a falta de condições para atrair e manter funcionários. No centro dessa disputa, um consenso possível — ao menos por ora — levou à decisão de suspender as atividades dominicais por oito meses.

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A mudança integra a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) 2025–2027, assinada nesta quinta-feira (13). A suspensão do funcionamento vale até 31 de outubro de 2026, em caráter experimental.

O argumento empresarial — falta de mão de obra — não surge isolado. Os dados divulgados nesta sexta-feira (14) pelo IBGE mostram que o mercado de trabalho brasileiro vive um momento de alta absorção: todas as faixas de tempo de procura por emprego caíram em relação ao ano passado.

O número de brasileiros procurando emprego há dois anos ou mais recuou 17,8%. Quem busca trabalho há menos de um mês caiu 14,2%. O contingente de pessoas que procuram vaga há um mês a menos de um ano é o menor já registrado desde o início da série, em 2012. A taxa de desocupação do país chegou a 5,6%, a menor desde 2012.

Com mais oportunidades e alternativas de renda — especialmente em serviços, aplicativos e atividades menos exaustivas —, o varejo supermercadista perdeu competitividade no desafio de atrair trabalhadores para escalas pesadas.

Sindicato: “falta atratividade”

Para o Sindicomerciários-ES, o problema não é a ausência de candidatos, mas a jornada desgastante. A entidade lembra que a maioria das vagas no setor exige escala 6×1, com trabalho aos domingos, carga física intensa e pouco tempo de recuperação.

“Esse modelo afasta potenciais trabalhadores. Hoje, com a empregabilidade em alta, a pessoa prefere outras formas de ocupação, menos exaustivas e com rendimento maior”, afirma o sindicato.

A entidade também questiona a ideia, historicamente defendida pelo varejo, de que abrir aos domingos ampliaria contratações. Segundo o sindicato, o resultado observado foi o contrário, mais sobrecarga para quem já está contratado, sem aumento proporcional de equipes.

Descanso no domingo como ponto decisivo

Embora as versões sobre a origem do problema sejam distintas, o eixo da decisão, segundo o sindicato, foi o direito ao descanso no domingo — e não apenas a disputa por mão de obra.

A entidade argumenta que a folga semanal durante a semana não substitui o domingo, quando trabalhadores podem estar com a família, exercer práticas religiosas e manter vínculos sociais. Esse ponto pesou mais do que qualquer outra variável na mesa de negociação.

O que será avaliado até outubro de 2026

O fechamento dominical será testado ao longo de oito meses e depois reavaliado. A CCT prevê monitoramento dos impactos em:

  • operação e custos;
  • fluxo de clientes;
  • saúde e bem-estar dos trabalhadores;
  • capacidade de contratação;
  • reorganização das escalas.

A decisão final — manter, ajustar ou revogar a medida — será tomada nas negociações que começam em 31 de outubro de 2026.

O que diz a Acaps

Em nota, a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps) informou que a suspensão integra o acordo firmado na CCT e reforçou que a motivação principal é a “falta de mão de obra disponível”. A entidade também destacou que a medida será reavaliada ao final do período experimental.

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