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Espírito Santo lidera ranking na produção de cultivos estratégicos no Brasil

Espírito Santo desafia os limites geográficos e se consolida como protagonista do agro brasileiro, com destaque para cultivos estratégicos e políticas públicas eficazes

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Do cacau ao café, o Espírito Santo mostra que tamanho não define liderança. Foto: Montagem/Ester Tavares

Do cacau ao café, o Espírito Santo mostra que tamanho não define liderança. Foto: Montagem/Ester Tavares

Apesar de ser o menor estado da região Sudeste em extensão territorial, o Espírito Santo tem se consolidado como uma das maiores potências do agronegócio brasileiro. Pimenta-do-reino, mamão, café e cacau são os pilares de uma agricultura capixaba que alia tradição, tecnologia e políticas públicas bem estruturadas, gerando impacto expressivo na economia estadual e na balança comercial do país.

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Dados da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) indicam que, em 2025, o estado atingiu um marco histórico nas exportações do setor: foram mais de US$ 998,6 milhões (quase R$ 5,6 bilhões) gerados no primeiro quadrimestre, superando todos os registros anteriores para o mesmo período. O crescimento foi de 7,5% em relação ao mesmo intervalo de 2024, superando amplamente a média nacional, que registrou alta de apenas 1,4%.

Essa performance confirma o Espírito Santo como uma exceção no mapa do agronegócio brasileiro, onde extensão territorial nem sempre é sinônimo de produtividade. Com apenas 46,1 mil km², o estado ocupa uma posição de liderança em diversas lavouras permanentes e demonstra que a força da agricultura local está na organização produtiva, na inovação tecnológica e no protagonismo dos pequenos e médios produtores.

O império da pimenta-do-reino

Principal produtor nacional da especiaria, o Espírito Santo é responsável por 60% da produção brasileira de pimenta-do-reino. Em 2023, foram colhidas 78.178 toneladas, com produtividade média de 3,9 toneladas por hectare, acima da média nacional de 3,1. Essa cultura gera receitas significativas: o Valor Bruto da Produção (VBP) em 2022 foi de R$ 976,9 milhões.

A tradição é antiga. Introduzida no estado ainda no século XIX, a pimenta-do-reino encontrou no norte capixaba, especialmente no município de São Mateus – responsável por 35% da produção estadual –, as condições ideais para o cultivo.

Além do volume, o Espírito Santo também lidera em exportação: entre janeiro e outubro de 2023, o estado respondeu por 66% da receita nacional com as vendas externas da pimenta, movimentando US$ 133,1 milhões com o embarque de 43,9 mil toneladas para 72 países.

Mamão capixaba: tecnologia e qualidade como diferencial

O Espírito Santo também lidera a produção e exportação de mamão no Brasil, respondendo por 49,3% das exportações nacionais da fruta. A região norte do estado concentra o chamado Polo Estadual do Mamão, com destaque para municípios como Linhares, Aracruz e Jaguaré.

Rodrigo Pontini, CEO da Union of Growers of Brazilian Papaya (UGBP), destaca que o estado se consolidou por meio da inovação tecnológica. “A produção de mamão no Espírito Santo é baseada em sementes e mudas de alto padrão, sistemas de irrigação inteligentes e equipamentos específicos para pulverização. Tudo isso garante uma fruta de qualidade premium, voltada especialmente para mercados exigentes da Europa e América do Norte”, destaca Rodrigo.

Pontini ressalta ainda a importância dos pequenos produtores na cadeia produtiva. “Eles são cruciais para manter a qualidade. Trabalhamos com mais de 40 produtores parceiros no Espírito Santo e no Rio Grande do Norte, todos capacitados em boas práticas agrícolas”, lembra o CEO.

Apesar da liderança, o setor ainda enfrenta desafios como a necessidade de valorizar subprodutos do mamão (como polpas e desidratados), hoje explorados apenas por iniciativas pontuais de pequeno porte.

Café: o coração agrícola capixaba

A cafeicultura é, de longe, a atividade agrícola mais disseminada no Espírito Santo, presente em quase todos os municípios (exceto Vitória) e em 60 mil das 90 mil propriedades rurais. O estado é o 2º maior produtor nacional de café, com destaque para as duas principais variedades: arábica, cultivado em regiões mais altas, e conilon, predominante em áreas mais quentes e baixas.

Em 2024, a expectativa de colheita é de 16 milhões de sacas, consolidando o estado como responsável por mais de 30% da produção nacional. O café representa 37% do PIB agrícola estadual, e sua cadeia produtiva gera cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos.

Além da tradição, a excelência do setor é garantida por políticas públicas específicas, como as leis que regulamentam os períodos de colheita para garantir a qualidade dos grãos e programas de fomento como o PEDEAG 4 (Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba), lançado em 2023.

Cacau capixaba: sustentabilidade e protagonismo feminino

Embora ainda enfrente desafios, especialmente com relação à doença Vassoura de Bruxa, a cacauicultura capixaba tem avançado com a revitalização de áreas degradadas e o incentivo à produção sustentável em sistemas agroflorestais, como o tradicional sistema cabruca.

A cultura está presente principalmente em Linhares, Colatina, São Mateus e João Neiva, responsáveis por mais de 90% da área cultivada. O Governo do Estado, por meio da Seag, criou o Plano Cacau 2030, que inclui apoio técnico, crédito rural e capacitação.

Entre os projetos de destaque está a Associação Mulheres do Cacau, formada por produtoras que atuam em diversas frentes, da lavoura ao agroturismo. Fabiani Reinholz, presidente do núcleo de Colatina, explica que o projeto nasceu para agregar valor à produção e promover o empoderamento feminino no campo. “Hoje, além do cacau, trabalhamos com feiras, turismo rural, e estamos lançando um café especial, o Filhas da Terra, com a marca das mulheres da associação”, conta Fabiani.

A fábrica de chocolate de Fabiani, a Reinholz, realiza todo o processo do cacau ao chocolate, oferecendo experiências sensoriais para visitantes. “Nosso foco é mostrar que a agricultura familiar também pode gerar produtos de qualidade e fortalecer a economia local”, ressalta a presidente do núcleo de Colatina da Associação Mulheres do Cacau.

Políticas públicas e futuro sustentável

O desempenho da agricultura capixaba é fruto de políticas integradas de crédito, assistência técnica e sustentabilidade. O estado registrou, nos primeiros meses do ano-safra 2024/2025, um recorde na aplicação de R$ 7,5 bilhões em crédito rural, crescimento de 23,2% em relação ao ano anterior.

A Seag tem atuado com foco em rastreabilidade e sustentabilidade, requisitos cada vez mais exigidos por mercados internacionais. “Queremos que as propriedades capixabas sejam reconhecidas como sustentáveis, com acesso a incentivos e diferenciação de mercado”, afirma a secretaria.

Com protagonismo em cadeias produtivas estratégicas, o Espírito Santo desafia a lógica territorial da agricultura brasileira. Seu tamanho reduzido contrasta com a eficiência, a organização e a capacidade de inovação que colocam o estado entre os gigantes do agro.

O título de “Menor estado do Sudeste” passa a ser apenas uma curiosidade geográfica diante da força econômica, social e simbólica da produção agrícola capixaba. Em um cenário global cada vez mais exigente e competitivo, o Espírito Santo demonstra que excelência e sustentabilidade são os verdadeiros diferenciais de um gigante, mesmo que territorialmente pequeno.

 

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