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Dia a dia

Pacientes do Sul do ES viajam até 2 horas para fazer diálise pelo SUS

Diagnosticado com falência múltipla de rins, paciente de Cachoeiro de Itapemirim se desloca até Guaçuí três vezes na semana para fazer tratamento

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Hemodiálise. Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

Hemodiálise – FOTO ILUSTRATIVA -. Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

Pacientes com insuficiência renal estão enfrentando sérios problemas para conseguir tratamentos como hemodiálise no Sul do Espírito Santo. Não há aparelhos suficientes para atendimento, e isso obriga moradores de uma cidade se deslocarem para outras em busca de tratamento. Há meses, por exemplo, o trajeto Cachoeiro de Itapemirim à Guaçuí – cerca de 86 quilômetros, ou até duas horas de viagem, conforme as condições da estrada – tornou-se uma rotina dolorosa para um idoso de 71 anos. Diagnosticado com falência múltipla de rins, o paciente – que preferiu se identificar – percorre o trecho três vezes na semana. É, literalmente, uma viagem em busca da vida.

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A situação poderia ser evitada se Cachoeiro contasse com mais equipamentos para realização de hemodiálise. Mas a ampliação do atendimento desses pacientes continua sem previsão, por conta da falta de estrutura, equipamento, pessoal especializado e questões burocráticas envolvendo o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual da Saúde e a prefeitura de Cachoeiro. Recentemente, o prefeito Vitor Coelho anunciou investimentos de R$ 500 milhões para a cidade. Quase todo o dinheiro será direcionado para obras no município.

O tratamento é feito através de uma máquina que realiza a limpeza e filtragem do sangue quando os rins do paciente não conseguem exercer essa função. Em todo o Espírito Santo, há cerca de 2,6 mil pacientes que realizam hemodiálise por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), contabilizando aproximadamente 34 mil sessões por mês. No Sul do estado, são atendidos atualmente mais de 350 pacientes.

Falência múltipla de órgãos

Morador de Cachoeiro de Itapemirim, o idoso passou mal recentemente e foi internado na Santa Casa de Misericórdia. Ele foi diagnosticado com falência múltipla de rins e deu início ao tratamento com hemodiálise três vezes por semana. “Nos 37 dias em que ficou internado, ele fazia o tratamento no hospital. E ele foi muito bem atendido. Mas mesmo bem de saúde, meu pai não pôde ter alta por não ter vaga para a hemodiálise. Isso mostrou a carência do estado para esse procedimento”, desabafa a filha.

Para a filha do paciente, o problema acende um alerta para todo o Sul do Espírito Santo. O idoso conseguiu uma vaga para realizar o tratamento em Guaçuí. A Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim é responsável pelo transporte. Ao trajeto de duas horas percorrido somam-se as quatro horas em que o paciente realiza o procedimento. A rotina encarada três vezes na semana é desgastante, ainda mais aos 71 anos. O paciente aguarda na fila uma vaga para poder realizar o tratamento em Cachoeiro de Itapemirim, onde mora.

“Não é um problema encarado apenas pelo meu pai. E é isso que quero mostrar. Durante o tratamento, ele conheceu pessoas que saem de Marataízes e vão até Guaçuí para fazer a hemodiálise, sendo que poderiam fazer em Itaipava. Eu acredito que esse transtorno poderia ser amenizado se a administração fosse feita aqui no Sul do Estado, por pessoas que compreendam a logística enfrentada por esses pacientes. É muito desgastante enfrentar estrada e ainda mais quatro horas de tratamento”, ressalta a filha do idoso.

Sem filas, diz a Sesa

A realidade enfrentada pelo idoso é contestada pela Secretaria de Estado da Saúde. Segundo a Sesa, há mais de dois anos não se tem fila de espera de pacientes internados aguardando vaga, ou seja, não há desassistidos e as desospitalizações ocorrem em, no máximo, 72 horas.

Ainda segundo a secretaria, em 2020, o serviço de regulação foi centralizado por meio da instituição do Protocolo Estadual de Regulação da Terapia Renal Substitutiva para organização dos processos – estabelecendo critérios clínicos e normativas do fluxo regulatório. “Desde então, houve a regionalização de vagas e não há mais pacientes do Sul do Espírito Santo, por exemplo, sendo tratados em outras regiões”, afirma.

A Sesa frisa ainda que o Sul do estado conta, atualmente, com quatro serviços que fazem o atendimento de hemodiálise: Hospital Materno-Infantil Menino Jesus de Itapemirim, Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim e Santa Casa de Misericórdia de Guaçuí. Conforme relato feito pela filha do paciente de 71 anos, o tratamento é oferecido, mas as condições estão muito distantes do ideal, principalmente para quem tem de enfrentar a rotina de duas horas de viagem, três vezes por semana, para conseguir atendimento.