fbpx

Dia a dia

O que as vacas têm a dizer? Ciência busca respostas

Sociolinguista Leonie Cornips deixou os dialetos humanos para investigar se vacas também possuem formas próprias de linguagem

Publicado

em

vacas no pasto

Pesquisadora na Holanda investiga se vacas, ícones culturais do país, desenvolvem formas próprias de comunicação. Foto: FreePik

Era outono na Holanda e o frio pedia um café quente. Mas Leonie Cornips, sociolinguista do Instituto Meertens, não podia parar. À sua frente, um pequeno rebanho de vacas-leiteiras estava em plena interação. Qualquer pausa significaria perder o que ela chama de “ritmo da vaca”, um espaço compartilhado entre humanos e animais em que surgem sinais de comunicação.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Cornips construiu sua carreira estudando variações de sintaxe entre dialetos holandeses. Porém, nos últimos anos, decidiu ouvir vozes diferentes: as das vacas.

Quando a linguística encontra o curral

A mudança começou em férias de verão no campo. A pesquisadora se impressionava com as diferentes personalidades das vacas e passou a se perguntar por que linguistas nunca investigavam animais. Inspirada por um ensaio filosófico, Cornips concluiu que os bovinos possuíam a inteligência e os hábitos sociais necessários para serem objeto de pesquisa.

Na Holanda, onde o queijo é símbolo cultural, a escolha não poderia ser mais emblemática. Agora, a cientista busca revelar se os mugidos e comportamentos coletivos escondem algo próximo de uma linguagem.

Desafiando a visão de superioridade humana

Por séculos, a ideia de que apenas humanos dominam a linguagem reforçou o chamado logocentrismo: quem usa palavras teria posição privilegiada entre os seres vivos. Animais, por outro lado, seriam reduzidos a grunhidos, latidos ou chilreios sem significado linguístico.

Cornips questiona essa fronteira. Para ela, as vacas demonstram ritmos de convivência e padrões de interação que não podem ser ignorados. Reconhecer isso seria repensar a própria noção de linguagem.

Ecos de pesquisas pioneiras

O trabalho de Cornips dialoga com descobertas de meio século atrás. Jane Goodall revelou comportamentos complexos em chimpanzés e Roger Payne mostrou a sofisticação dos cantos das baleias jubarte. Ambos colocaram em xeque a ideia de que os humanos seriam únicos em sua comunicação.

Ao incluir as vacas nesse debate, Cornips amplia a lista de animais que podem expressar formas de linguagem. Sua pesquisa sugere que, talvez, as respostas sobre o que nos torna humanos estejam mais próximas do curral do que das bibliotecas.

LEIA TAMBÉM: