Dia a dia
Gays e héteros: capixabas relembram histórias da antiga boate Nimbus
O prédio onde funcionava a antiga boate Nimbus começou a ser demolido para obra no Morro do Moreno

O prédio da antiga boate Nimbus está sendo demolido para obra no Morro do Moreno. Foto: Divulgação
A demolição do prédio onde funcionava a antiga boate Nimbus, na Praia da Costa, em Vila Velha, deixou os frequentadores nostálgicos. O espaço, que também abrigou festas lendárias da comunidade LGBTQIAPN+, marcou o cenário noturno da cidade e rendeu muitas histórias para os capixabas que se divertiram em uma das casas mais conhecidas do Espírito Santo.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
O que poucos sabem, no entanto, é que antes da Nimbus, o imóvel já havia abrigado outras boates, como a Macumba, New Macumba e Tulha. Mas foi a partir da Nimbus que uma geração inteira de jovens — hoje adultos — passou a ter histórias para contar até hoje.
Moradora da Praia da Costa, Martha Rebello é uma das antigas frequentadoras da boate e lamentou o fim do prédio. “Eu ia muito com minhas amigas. Meu pai era delegado e nunca deixava eu ir, mas eu fugia de casa e sempre dava um jeito.”
Nas redes sociais, a demolição também gerou repercussão. A colunista do portal ES360, Adriana Jenner, também foi uma das frequentadoras. “Já fui muito feliz lá. A gente quase não saía, mas quando estava lá, dançava muito e era uma alegria só”, contou.
O empresário Hugo Rodrigues relembrou que os amigos costumavam se reunir em um círculo na pista de dança. “A Nimbus marcou porque foi a segunda boate que comecei a frequentar com os ‘amigos da rua’. Tínhamos nossas danças típicas, sincronizadas. Íamos com o dinheiro contado, dava para comprar uma batata frita e um refrigerante”, contou.
Referência gay

Thiago Nunes foi promoter em um das boates que funcionou no antigo prédio da Nimbus. Foto: Divulgação
Após o fechamento da Nimbus, o prédio abrigou outras boates conhecidas do público LGBTQIAPN+, como a Moulin Rouge, Banker Moulin Rouge, Heaven Brazil e Rouge House. Quem viveu toda essa trajetória foi o chef Thiago Nunes, que atualmente mora em Dublin. Ele guarda boas lembranças dos tempos em que frequentava o local, tanto como cliente quanto, mais tarde, como promoter da casa.
Thiago trabalhou na Rouge House — última boate que funcionou no local — e também frequentou o espaço anteriormente, quando ainda era a Moulin Rouge, casa que deixou saudade na comunidade capixaba.
Ele lembra que o espaço foi uma referência na noite capixaba, com shows de grandes nomes como Léo Áquila e Silvetty Montilla. “Era a grande atração das noites do público LGBT”, relembrou.
Mais tarde, o local passou por uma reforma e se tornou a Banker Moulin Rouge, até fechar as portas. Por volta de 2007 ou 2008, reabriu como Heaven Brazil, mas essa nova fase durou pouco. Em seguida, veio a Rouge House, onde Thiago atuou profissionalmente. A reabertura aconteceu em 15 de dezembro de 2012, em uma noite de grande repercussão, com filas dando a volta no quarteirão. “Todos os jornais noticiaram. Foi um marco, um sucesso na época”, lembrou.

Público fez fila na inauguração da Rouge House. Foto: Divulgação
Com bom humor, Thiago comenta que o prédio tinha fama de não manter nenhum projeto por muito tempo e brinca sobre uma suposta “cabeça de burro enterrada” no terreno, já que nenhum empreendimento parecia durar.
Ainda assim, a demolição do espaço, iniciada recentemente, o abalou. “Fiquei super triste. Foram muitas e muitas noites naquele lugar”, desabafa. Para ele, a Rouge House foi a última tentativa de reviver o espírito da Moulin Rouge, adaptado a uma nova geração — tentativa que, infelizmente, também não seguiu adiante.
Demolição do prédio da boate Nimbus
O imóvel que marcou época na vida noturna da Grande Vitória está sendo transformado e vai funcionar um ponto de recepção aos visitantes do Morro do Moreno, um dos principais pontos turísticos da cidade.
Parte da estrutura do imóvel já foi ao chão, e os trabalhos de demolição estão próximos de ser concluídos. A iniciativa integra o projeto de requalificação do Morro do Moreno, que pretende organizar o fluxo de turistas e oferecer melhores condições para quem visita o local, seja para lazer, trilhas ou contemplação da vista.
Com a demolição, o terreno passará a contar com um espaço voltado para receber moradores e turistas. O local será uma base de apoio, oferecendo informações turísticas do Morro do Moreno, além de disponibilizar banheiros, bebedouros e orientações sobre as trilhas e normas de preservação ambiental do Moreno.
