Dia a dia
Do amor proibido ao tesouro perdido: conheça cinco lendas capixabas
Tradições orais fortalecem o vínculo entre moradores, natureza e crenças ancestrais no Espírito Santo
Por trás da história do Espírito Santo, existem lendas que muitos capixabas conhecem desde a infância. Essas narrativas misturam realidade e fantasia. Além disso, atravessam gerações e mantêm viva a cultura popular local.
As lendas costumam envolver paixões, conflitos e mistérios. Por isso, despertam curiosidade e valorizam pontos turísticos do estado. Elas unem fatos históricos com elementos criados pela imaginação popular. Logo, ganham diferentes versões com o passar do tempo.
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Lagoa da Mãe-Bá
Segundo a lenda da Mãe-Bá, existia uma grande lagoa no município de Anchieta, no Espírito Santo. Às margens dessa lagoa, vivia uma tribo indígena liderada, em certa época, por uma velha índia chamada Bá. Além de ser a chefe, Bá também era curandeira, protetora e conselheira de todos os membros da comunidade. Por isso, passou a ser chamada de “mãe” da tribo.
Certo dia, um jovem indígena adoeceu e a anciã tentou curá-lo usando ervas e raízes medicinais. Apesar dos esforços, nenhum dos recursos naturais fez efeito. Bá decidiu recorrer aos Deuses da Natureza. Ela entrou em uma canoa e remou até o centro da lagoa para realizar uma oferenda espiritual.
No entanto, Bá começou a gritar em desespero, como se os espíritos a rejeitassem. Os indígenas correram até a lagoa e viram a canoa virada, coberta por marcas de sangue. Dias depois, o corpo da anciã foi encontrado com sinais de violência.
Conforme os costumes da tribo, eles cremavam os corpos e espalhavam as cinzas na natureza. Por isso, os índios colocaram as cinzas da Mãe-Bá na lagoa sagrada da aldeia. Desde então, de acordo com a tradição oral, a lagoa se encheu de peixes em abundância. Em homenagem à líder, a lagoa passou a ser chamada de Lagoa da Mãe-Bá.

Lagoa da Mãe-Bá faz parte de uma das lendas capixabas. Foto: Reprodução/Instagram
Pedra das Caveiras
A história contada por moradores de Atílio Vivácqua é de que nos anos de 1930, um caçador encontrou sete esqueletos perto do topo de uma pedra da região. Dizia-se que na região, havia um fazendeiro rico que tinha feito um pacto com o diabo para proteger um tesouro escondido.
Nos últimos dias de vida, um urubu passou a persegui-lo constantemente, como sinal de maldição. O fazendeiro então ordenou que quatro indígenas, seus empregados, enterrassem um baú de ouro próximo da pedra.
Logo após o trabalho, três capatazes teriam matado os indígenas para manter segredo sobre o local exato. Porém, o destino dos assassinos foi trágico: todos também foram mortos e deixados no mesmo lugar.
Alguns acreditam que os ossos na realidade eram de escravizados mortos em fuga, mas a ideia é questionada, já que não foram encontrados vestígios de habitação. Alguns moradores acreditam até hoje que quem sobe a trilha falando sobre tesouro ou riquezas escuta gritos de socorro e lamentos vindos da mata.

Pedra das Caveiras. Foto: Reprodução/Instagram/@pedradascaveirasoficial
Lagarto da Pedra Azul
Quem já visitou Pedra Azul, em Domingos Martins, notou a famosa formação na encosta da montanha. Segundo a lenda, ali viveu um enorme lagarto azul, guardião do território contra invasores da serra.
Conforme a história, dois meninos aventureiros conseguiram petrificar o animal, transformando-o em parte da paisagem. Hoje, o lagarto continua ali, como protetor do lugar, pronto para despertar, caso necessário.

Pedra Azul. Foto: Reprodução
O Frade e a Freira
No sul capixaba, em Itapemirim, está o Monte do Frade e a Freira, símbolo do amor proibido. De acordo com a tradição, um frade e uma freira se apaixonaram, mesmo dedicando suas vidas à fé.
Como não podiam viver esse amor, Deus os transformou em pedra. Dessa forma, poderiam se admirar eternamente. O local é hoje o Monumento Natural Frade e a Freira, aberto à visitação e contemplação.

Frade e a freira Foto: Andre Carreira/Reprodução
Pássaro Fogo
Outra lenda marcante envolve duas tribos rivais: Temiminós e Botocudos. Ambas viviam onde hoje ficam Cariacica e Serra. Jaciara, filha do cacique dos Botocudos, se apaixonou por Guaraci, guerreiro da tribo inimiga.
No entanto, o romance foi proibido. Então, um pássaro mágico decidiu ajudar o casal a se encontrar. Apesar disso, foram descobertos. Como castigo, um xamã fez um feitiço com a permissão dos deuses.
Os jovens foram transformados em montanhas: Jaciara virou o Monte Mochuara (Moxuara) e Guaraci, o Mestre Álvaro. Ambos seguem frente a frente, mas sem poder se tocar ou conversar, nem mesmo por um instante. Segundo a lenda, no dia 24 de junho, o pássaro fogo os ajuda a se reencontrar. Assim, podem voltar à forma humana por uma noite, apenas para renovar seu amor eterno.

Mestre Álvaro. Foto: Reprodução/Denis Rizzoli
