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Dia a dia

Como proteger crianças e adolescentes da ação de predadores sexuais?

Ouvimos uma especialista para explicar como abusadores se infiltram em profissões que inspiram confiança para se aproximar de vítimas

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A prisão de um professor de Ensino Religioso por estupro contra uma aluna de uma escola de Cariacica, noticiado em primeira mão esta semana pelo portal ES 360, chocou a comunidade escolar e suscitou reflexões sobre a ação de predadores sexuais. Muitos deles se escondem em profissões que inspiram a confiança das famílias e quebram a resistência das vítimas, deixando-as mais vulneráveis.

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Conversamos com a psicóloga criminal Clislaine Oliveira para entender o comportamento desses abusadores e saber como as famílias e as escolas podem agir para proteger as crianças e adolescentes desses criminosos.

Psicóloga Clislaine Oliveira. Foto Arquivo pessoal

Psicóloga Clislaine Oliveira. Foto: Arquivo pessoal

Reportagem:  Existe um perfil psicológico do predador sexual?

Psicóloga: Geralmente, esses indivíduos podem apresentar características como manipulação, falta de empatia e um histórico de comportamentos abusivos. Os abusadores de qualquer forma de abuso são narcisistas por natureza. Esta é uma característica geral. Têm uma autoestima elevada e consideram-se com um tal grau de superioridade que os leva a pensar que são intocáveis e obviamente inquestionáveis, façam aquilo que fizerem. O abusador é manipulador, utilizando essa tática para se impor e dominar alguém ou dominar uma situação, para que ele possa realizar o seu objetivo, que é ter confiança tanto dos tutores quando da vítima para cometer o abuso.

Reportagem: Muitos abusadores escolhem posições sociais que inspiram confiança e os aproximam das vítimas e suas famílias, como é o caso de pastores, padres e professores. Essa é uma estratégia comum?

Psicóloga: O abuso de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis traz claramente ao de cima uma perversão muito calculada, dada a assimetria da relação entre a vítima e o agressor e a evidência de querer satisfazer um impulso sexual. Eles costumam escolher posições de confiança para se aproximar das vítimas, como pastores, professores e outros papéis que inspiram segurança. Essa é uma estratégia bastante comum entre abusadores. Eles frequentemente buscam posições de confiança para se aproximar das vítimas e de suas famílias, criando um ambiente de segurança que dificulta a identificação de suas intenções. Essa manipulação é uma tática que permite que eles ganhem a confiança das vítimas, tornando mais difícil para elas denunciarem o abuso e, quando finalmente são expostos, por terem construído uma posição social sólida e fora de qualquer suspeita, muitos ainda duvidam das acusações e culpam a vítima.

Reportagem:  Crianças e adolescentes que estão sendo vítimas de predadores sexuais, sofrendo abusos, dão sinais? Como os pais e cuidadores podem identificar?

Psicóloga: A forma de identificar um abusador é observar as atitudes do vulnerável diante ou no local em que se tem um suposto abusador, pois a criança dá sinais. Alguns deles são: mudanças de comportamento; silêncio predominante; mudanças de hábito súbitas; e enfermidades psicossomáticas. Uma forma de identificar a vítima é quando a criança não quer frequentar certos locais sociais em que antes ela gostava ou até mesmo quando fica desconfortável perto de alguém, principalmente pessoas com as características já citadas.

Reportagem: No âmbito da prevenção, como a família e a escola podem agir para educar as crianças a perceber e comunicar um abuso?

Psicóloga: A forma de abordagem para prevenção é de acordo com a idade. Para crianças, atividades lúdicas podem ajudar a compreender melhor sobre o que é normal e saudável no toque entre crianças e adultos, como a forma de saudação ou demonstração de afeto, e quais formas de toque não são aceitas. Demonstrar em uma brincadeira usando bonecos é uma forma de ensinar sem expor a informação de forma explícita e constrangedora. Para adolescentes, o foco pode ser a educação sexual e a conversa aberta sobre o assunto. É claro que para isso se deve ter a confiança do adolescente e que ele se sinta seguro e acolhido para conversar abertamente sobre o assunto.

Reportagem: No caso em questão, o abusador era professor de Ensino Religioso, o que causa um certo choque, já que o professor deveria proteger os alunos e não abusar deles. E sabe-se que a maior parte dos abusos sexuais acontece dentro de casa e é cometido por parentes. Diante disso, a pergunta que se coloca é: existe lugar seguro para as crianças e adolescentes?

Psicóloga: Sobre ter um lugar seguro, não temos certeza, já que o abusador se camufla entre os melhores exemplos sociais, mas o que podemos afirmar é que o tutor que busca criar um ambiente familiar aberto a ouvir e acolher, com certeza está criando um lugar seguro e que será um local de menor probabilidade de se ter uma vítima.


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