Dia a dia
Asilo, articulação e Malafaia: o que a PF divulgou sobre as mensagens de Bolsonaro
Polícia Federal indiciou Jair e Eduardo Bolsonaro por coação na ação penal do golpe

Ex-presidente Jair Bolsonaro é investigado pela PF. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ambos são acusados de tentar interferir no julgamento da trama golpista. O pastor Silas Malafaia também foi alvo da operação, mas não chegou a ser indiciado.
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Segundo a investigação, as apurações reuniram indícios como áudios e mensagens. Para a PF, os conteúdos revelam pressão sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, em seguida, sobre parlamentares. O objetivo seria livrar o ex-presidente de um processo por tentativa de golpe de Estado.
Mensagens apagadas dos celulares de Bolsonaro foram recuperadas por peritos. Para a PF, o conteúdo mostra que ele descumpria, de forma intencional, medidas cautelares do Supremo.
Asilo político
Nas mensagens foram encontradas um rascunho de um pedido de asilo político endereçado ao presidente argentino, Javier Milei. No texto, Bolsonaro afirmava ser alvo de perseguição no Brasil.
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares”, começa o rascunho.
“Anistia light”
Mensagens mostram que Eduardo Bolsonaro defendeu uma “anistia light”, que beneficiaria apenas o pai. “Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto.”, dizia a mensagem.
Tarifaço
Em outro diálogo, Eduardo Bolsonado orientou o ex-presidente a agradecer publicamente a Donald Trump após medidas contra o Brasil. De acordo com ele, era importante para evitar que o presidente dos EUA virasse as costas para o país.
“Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta. Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem.”
Segundo a PF, ele também comemorou a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes.
Silas Malafaia
A PF aponta ainda que Silas Malafaia incentivou Bolsonaro a desobedecer decisões do Supremo, principalmente no uso de redes sociais. Com base no relatório, Alexandre de Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra Malafaia.
“A continuidade das investigações demonstrou fortes indícios de participação de Silas Malafaia na empreitada criminosa, de maneira dolosa e com unidade de desígnios com Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro”.
“Há fortes evidências, ainda, que Silas Malafaia atua na construção de uma campanha criminosa orquestrada, destinada à criação, produção e divulgação de ataques a ministros do Supremo, no contexto de milícias digitais, em conduta absolutamente assemelhada àquelas investigadas no inquérito 4.874, conforme mensagem anteriormente descrita.”
De acordo com a PF, uma das mensagens indicava sugestões do pastor para o ex-presidente para disparar mensagens nas redes sociais. “‘ATENÇÃO! Dispara esse vídeo às 12h. Se você se sente participante desse vídeo, compartilhe. Não podemos nos calar!”.
O pastor rebateu todas as acusações de Moraes dizendo “Vai ter que me prender para me calar”.
Trocas de ofensas
Relatórios apontam ainda discussões internas. Eduardo Bolsonaro chegou a xingar o pai após declarações em entrevistas.
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende. VTNC SEU INGRATO DO CARALHO! Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI!”, dizia a mensagem.
Em paralelo, Malafaia chamou o deputado de “babaca” em mensagens enviadas a Bolsonaro. “DESCULPA PRESIDENTE ! Esse seu filho Eduardo é um babaca , inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista , e ao mesmo tempo te ferrando . Um estúpido de marca maior . ESTOU INDIGNADO ! Só não faço um vídeo e arrebento com ele porque por consideração a você . Nao sei se vou ter paciência te ficar calado se esse idiota falar mas alguma asneira.”, afirmou Malafaia.
Contato com Braga Netto
O ex-ministro Walter Souza Braga Netto violou decisão judicial ao manter contato com Bolsonaro. A PF encontrou uma mensagem enviada por SMS ao ex-presidente, de um número com DDD de Brasília, às 00h31 de 9 de fevereiro de 2024.
“Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente face time. Abs Braga Netto”, dizia a mensagem.
Uso de rede social
Bolsonaro trocou de celular após ter o aparelho apreendido por ordem do STF. A PF identificou que ele voltou a usar redes sociais por meio de intermediários, o que descumpria medidas cautelares.
De acordo com relatório da PF, o celular apreendido de Jair Bolsonaro continha quatro listas de transmissão no WhatsApp, chamadas “Deputados”, “Senadores”, “Outros” e “Outros 2”. Esse recurso permite o envio simultâneo de mensagens para vários contatos sem formar um grupo, com cada destinatário recebendo o conteúdo de forma individual.
A investigação aponta que, em 3 de agosto, data de manifestações, houve intensa circulação de mensagens pelo aplicativo. Nesse mesmo dia, Bolsonaro orientou um deputado da Bahia a realizar uma chamada de vídeo durante o ato. Para a PF, a prática evidencia o “modus operandi” de usar terceiros para driblar a medida cautelar que proibia o ex-presidente de acessar redes sociais.
