IBEF Academy
Ter mais dinheiro à mão significa que estamos mais ricos?
- Por Anelise Cypreste
Se você compra menos do que antes com o mesmo recurso, a resposta é não.
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A desvalorização da moeda brasileira tem sido uma preocupação recorrente na mente dos brasileiros, o chamado “fantasma da inflação”, ou até mesmo da “hiperinflação”, experimentada até o advento do Plano Real e que deve ser objeto de vigilância constante – assumindo o conceito de que a inflação é uma forma de tributação, pois pagamos mais caro pelo mesmo item.
Até há pouco tempo, no período pré-pandêmico, a percepção de escalada na redução do poder de compra poderia aparentar pertencer a uma realidade distante, vivida em países cuja moeda nacional é muito desvalorizada, como a Argentina, em que existem câmbios paralelos ao oficial. Um ano depois, na realidade de boa parte dos brasileiros, uma simples ida ao supermercado tornou-se uma decisão de reduzir a cesta de compras dia após dia, efeito sentido principalmente por aqueles que estão na base da pirâmide de renda. Na prática, a maioria da população não tem acesso aos instrumentos financeiros para proteção cambial e já percebe a redução de seu poder aquisitivo claramente.
Um meio interessante de avaliarmos o poder de compra dos brasileiros frente aos demais países é o Índice Big Mac, calculado pela revista The Economist. A ideia é relativamente simples: utilizar um único produto, produzido praticamente de forma padronizada para todo o globo. Esse índice tem o objetivo analisar as diferenças de poder de compra de cada localidade, convertidos à mesma moeda (teoria da paridade do poder de compra). Recomendo navegar no infográfico da The Economist, no diretório https://www.economist.com/big-mac-index, para uma noção ampla de diversos países frente às principais moedas mundiais.
A desvalorização da moeda brasileira é expressiva.
Há diversos fatores que influenciam o baixo desempenho do cenário econômico e a retirada de capital estrangeiro do Brasil, dentre eles o risco fiscal, o risco jurídico e o cenário pandêmico que contribui para a aversão ao risco em países emergentes. O último balanço de pagamentos do Banco Central demonstra esse efeito claramente na balança comercial, com leve inflexão em fevereiro/21.
O cenário brasileiro é de incertezas sobre a possível retomada econômica com austeridade fiscal pós-pandemia e, além disso, ainda não está claro para as partes interessadas quando e como serão as negociações das reformas tributária e administrativa.
Pensando no futuro, temos que visualizar um país com uma distribuição da carga de tributos de forma mais lógica e descomplicada. Se é difícil para nós, brasileiros, entendermos as minúcias desse sistema, imagine para um investidor estrangeiro!
Maior estabilidade política e econômica tende a beneficiar todas as classes sociais e enriquecer a população no longo prazo. Não há riqueza para um país se os setores produtivos param de crescer, se investimentos em estrutura paralisam e se o capital estrangeiro é atraído apenas por especulação. Um ambiente de negócios claro e maduro, com liberdade econômica, menor intervenção governamental e menor carga tributária, trará benefícios a todos, basta que esse seja um compromisso real nas decisões a serem tomadas pelo Congresso e pelo Executivo. Enquanto o Estado for um sócio bom em tributar, principalmente com os critérios atuais que esvaem recursos de quem já tem pouco, não veremos evoluções.
Sobre o autor
Anelise Cypreste é bacharel em Administração de Empresas e pós graduada em Finanças, Controladoria e Auditoria (FGV). Atua como especialista de FP&A na Suzano S.A, é membro do Ibef Academy e líder do comitê qualificado de conteúdo de Economia e Desenvolvimento Econômico do IBEF ES.
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