fbpx

Coluna Vitor Vogas

Novo secretário estadual de Saúde: “Sou um defensor ferrenho do SUS”

Análise: conheça as credenciais do sucessor de Nésio Fernandes e os fatores determinantes na escolha de Casagrande pelo administrador gaúcho que se destacou pela gestão de hospitais via organizações sociais

Publicado

em

Miguel Paulo Duarte Neto. Foto: Portal Hospitais Brasil

Miguel Paulo Duarte Neto. Foto: Portal Hospitais Brasil

“É um desafio imenso. Sou um defensor ferrenho do SUS. Tenho minha vida profissional sempre ligada ao SUS”, afirmou à coluna o novo secretário estadual de Saúde, Miguel Paulo Duarte Neto, após ser anunciado pelo governador Renato Casagrande (PSB) como sucessor de Nésio Fernandes (PCdoB) no cargo na noite desta quarta-feira (21).

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Ele antecipou à coluna seus primeiros planos: “Agora pretendo escutar a maioria das entidades, todos os envolvidos no que é a saúde pública, e trabalhar por um serviço de qualidade que ofereça agilidade e assistência humanizada para todos”.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Como discorri aqui na última segunda-feira (19), até pelo tamanho do orçamento (R$ 3,4 bilhões previstos no ano que vem) e pela importância da pasta, a sucessão de Nésio foi objeto de intensa disputa de bastidores entre aliados que rodeiam Casagrande. No pano de fundo, uma queda de braço entre o público e o privado, com concepções distintas sobre a gestão da Secretaria de Saúde.

Representando a centro-direita no próximo governo, o vice-governador eleito, Ricardo Ferraço (PSDB), defendeu um melhor diálogo com a classe médica e maior abertura para a participação da iniciativa privada e dos filantrópicos como parceiros na gestão do SUS;

Representando a centro-esquerda, o coletivo Convergência Democrática defendeu a efetivação do secretário interino, Tadeu Marino (PSB), sanitarista como Nésio Fernandes e, tal como ele, defensor incondicional do fortalecimento do SUS. Formado, entre outros, por médicos como Geraldo Corrêa e Fernando Herkenhoff, o coletivo temia uma sobreposição de interesses privados ao interesse público na gestão da Sesa. Pelo que a coluna apurou, o próprio Marino gostaria de um substituto com experiência e conhecimento sobre o SUS, de preferência vindo da rede pública.

Ricardo Ferraço levou a Casagrande as suas indicações – entre elas a do ginecologista Remegildo Gava Milanez, ex-diretor da Unimed e do Hospital Metropolitano, e nome que agradava ao sistema privado de saúde (ou, pelo menos, a boa parte dele). O próprio Nésio, a pedido de Casagrande, também deixou as suas sugestões, segundo a nossa apuração.

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Nem a ala de Ricardo nem a de Nésio; nem um médico da rede privada nem um “sanitarista raiz”, oriundo 100% do SUS. Casagrande optou por um caminho próprio, chegou pessoalmente ao nome de Miguel Paulo e, no fim das contas, optou por um administrador hospitalar que é, acima de tudo, reconhecido como um gestor – por experiência profissional e inclusive por formação acadêmica. É um especialista em gestão hospitalar.

Esse caminho próprio tomado por Casagrande é uma “via do meio”: o próximo secretário não vem nem do SUS nem do sistema privado de saúde, mas de organizações sociais que administram hospitais públicos.

Aliás, foi pelo trabalho realizado como diretor-geral do Hospital Geral, no Parque Moscoso, que Miguel Paulo destacou-se a ponto de despertar a atenção de Casagrande.

Gaúcho, o futuro secretário é economista, administrador, bacharel em Ciências Contábeis e tem nada menos que quatro MBAs no currículo (cujas áreas de estudo traduzem bem as suas competências, priorizadas na escolha de Casagrande):

. Gestão Hospitalar

. Finanças

. Auditoria e Controladoria

. Docência do Ensino Superior

Por um ano e meio, Miguel Paulo foi diretor-geral do Hospital Geral, gerido pela fundação iNova – criada durante a gestão de Nésio Fernandes. Assumiu o cargo em dezembro de 2020, justamente durante a transição da Fundação Santa Catarina, que até então administrava o hospital, para a gestão da iNova.

Durante a sua passagem como chefe dessa unidade, o Hospital Central adquiriu destaque técnico dentro a rede hospitalar estadual. Consolidou-se como referência em neurocirurgia – é para lá, por exemplo, que é levado qualquer usuário do SUS que tenha sofrido um AVC agudo.

Em junho deste ano, a iNova precisou fazer alguns cortes orçamentários, e Miguel Paulo então deixou o cargo. Aceitou a proposta para ir trabalhar no estado de Santa Catarina (nada a ver com a fundação de mesmo nome). Assumiu então a direção-geral da rede Samu no estado da região Sul, pela Fundação de Apoio ao Hemosc (banco de sangue) e Cepon (hospital oncológico do estado), criada há 20 anos.

Desde junho, ele mora em Florianópolis, mas já está de malas prontas para voltar ao Espírito Santo. Por absoluta coincidência, Santa Catarina é o estado natal de Nésio Fernandes, e esse será o segundo secretário de Saúde do Espírito Santo vindo da região Sul do país, por escolha de Casagrande.

As respostas de Miguel Paulo à coluna confirmam que seu canal foi direto com o governador e que ele não foi indicado nem por Nésio nem por Ricardo Ferraço. Sobre Nésio: “Relacionamento estritamente profissional”. Sobre o vice-governador eleito: “Não o conheço, infelizmente”. Acrescenta que foi o próprio Casagrande quem fez o primeiro contato com ele, há alguns dias.

Um membro do secretariado de Casagrande referenda as credenciais do escolhido, frisando que a capacidade de gestão foi de fato o fator preponderante na escolha do governador:

“Miguel Paulo é um excelente técnico e conhecedor da saúde. Ajudou na transição do Hospital Geral de Linhares, que estamos tentando estadualizar. É um gestor com qualificação em gestão hospitalar. O que se destacou de fato foi o seu perfil de gestor. Ele entende muito de orçamento, de controle e qualidade de gastos. É um diretor hospitalar, um cara que vem de organizações sociais e que conhece bem a realidade do sistema público de saúde. Pesou o perfil de gestão mesmo.”

Na última segunda-feira (19), logo após a diplomação, Casagrande – instado pela coluna – resumiu o perfil buscado por ele para o lugar de Nésio em três pré-requisitos:

“Eu não tenho restrição. Quero só que a pessoa seja de fato um defensor do Sistema Público de Saúde, tenha essa capacidade de gestão e essa capacidade de dialogar.”

A defesa do SUS, a julgar pela frase do escolhido com que abrimos esta coluna, não será dificuldade. Faz parte do espírito de Miguel Paulo. Na “capacidade de gestão”, por todo o dito acima, também podemos dar check.

Quanto à “capacidade de dialogar”, terá de ser provada pelo futuro secretário, no exercício do cargo. E será talvez de fato o seu maior desafio, haja vista os inúmeros e enormes interesses (inclusive políticos e econômicos), muitas vezes conflitantes, envolvidos na gestão da Sesa.

A vontade de escutar a todos, ressaltada por ele mesmo na abertura deste texto, soa como um bom primeiro passo.

A relação do atual governo com setores da classe médica capixaba – sobretudo na iniciativa privada – realmente ficou desgastada nos últimos quatro anos, dificuldade explicitada durante a última campanha eleitoral, na qual muitas entidades e grupos médicos privados do Estado apoiaram Manato contra Casagrande.

Isso sem falar na rejeição exposta em outubro por prefeitos e secretários municipais de Saúde em relação a Nésio, a quem, apesar das inegáveis qualidades técnicas, faltaria “jogo de cintura político”.

Um bom papo com seu antecessor, aliás, talvez possa ajudar Miguel Paulo a se preparar para as pressões que o esperam à frente da Sesa.

Boa sorte para ele.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.