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Coluna Vitor Vogas

Manato versus Casagrande: a guerra de narrativas sobre a violência

Três dias após a série de ataques a ônibus em Vitória, o tema entrou em definitivo na propaganda eleitoral dos candidatos, mas com abordagens completamente conflitantes

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Três dias após a série de ataques a ônibus em Vitória, o tema da violência urbana entrou em definitivo no centro da disputa eleitoral do 2º turno entre Manato (PL) e Renato Casagrande (PSB). As duas campanhas se concentraram no assunto no horário eleitoral desta sexta-feira (14), mas de maneira diametralmente oposta: Manato atribui a Casagrande incapacidade de dar conta do problema da criminalidade no Espírito Santo, enquanto Casagrande associa o próprio Manato, pessoalmente, à violência e ao crime organizado.

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Em meio à guerra de narrativas, há também uma batalha de números, frases impactantes para os dois lados e comparações com o Rio de Janeiro, mas por ângulos totalmente diferentes.

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CASAGRANDE: “Crime não vai se criar aqui”

Em seu programa exibido no rádio, Casagrande reassumiu o compromisso de deixar o Espírito Santo entre os cinco estados menos violentos do Brasil, se reeleito. “No Espírito Santo, bandido não se cria”, exclamou o locutor, parafraseando uma frase de impacto dita pelo próprio Casagrande em sua entrevista coletiva na terça-feira à noite, após os ataques ônibus em Vitória.

Já em sua propaganda de TV, o atual governador usou depoimentos de pessoas reconhecidas na área de segurança pública, seja na academia (o cientista político Luiz Eduardo Soares), seja na linha de frente do combate ao crime (o ex-secretário estadual de Segurança Alexandre Ramalho).

A campanha também adotou frases de efeito, visando a transmitir uma imagem “linha dura contra o crime”. E, acima de tudo, intensificou a estratégia de vincular Manato a um “período sombrio da história do Espírito Santo” e a uma ameaça concreta de retorno a esse passado.

Afirmando que “segurança de verdade só mesmo com um governador de verdade” – variação do seu slogan neste 2º turno –, os marqueteiros de Casagrande repetiram a estratégia de tentar fazer, do limão, uma limonada. Como já haviam exercitado em relação ao ataque da quadrilha do “novo cangaço” a Santa Leopoldina no último dia 30, não tangenciaram o episódio dos ataques a ônibus em vias públicas em Vitória na última terça-feira (11), porém o que buscaram destacar foi a “agilidade” e a “eficiência” na resposta:

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“Em menos de 24 horas, graças a um trabalho coordenado de inteligência e ação das forças de segurança do Estado, 15 pessoas já estavam presas, uma eficiência e agilidade muito diferente do que acontecia em nosso estado algumas décadas atrás”, disse o locutor, dando a deixa para a remissão a um “período sombrio” em que Manato estaria envolvido, por sua associação no passado à Scuderie Le Cocq.

“Entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 2000, o Espírito santo viveu um dos períodos mais sombrios de sua história”, afirmou o locutor, ressaltando que o crime estava entranhado em órgãos públicos e decisões políticas. “Foi nessa época que surgiu um dos maiores grupos de extermínio que já atuou no Espírito Santo: a Scuderie Le Cocq. Entre os 800 membros que faziam parte da Scuderie Le Cocq, um deles é o Manato.”

Foi o gancho para o depoimento de Luiz Eduardo Soares, apresentado como ex-secretário nacional de Segurança Pública e autor do bestseller Trope de Elite. O intelectual sublinhou o que a Le Cocq representa:

“Eu confesso a vocês que fiquei horrorizado quando soube que o adversário de Casagrande tinha sido membro da Scuderie Le Cocq. Eu não sei se vocês sabem o que isso significa. Os mais jovens certamente não sabem. A Scuderie Le Cocq [foi] um esquadrão da morte, berço, fonte das milícias, as milícias que tomaram conta do estado do Rio de Janeiro e que agora ameaçam retornar ao Espírito Santo, se apropriar também das instituições capixabas. O povo capixaba não pode permitir isso.”

O locutor, então, citou que nessa época “juízes e jornalistas eram assassinados em plena luz do dia”. Foram lembrados os casos da jornalista Maria Nilce, assassinada em 1989 na Praia do Canto, e do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, executado em 2003 em Itapuã. O próprio filho de Maria Nilce surgiu em cena, destacando aquele “ciclo de terror”.

O locutor retomou a condução, afirmando que, com esforço da sociedade e de lideranças políticas, o Espírito Santo deixou de ser um “estado sem lei”.

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Foi a deixa para o Coronel Ramalho dar o seu depoimento, destacando números da redução de homicídios nos últimos anos e a participação pessoal que ele atribui a Casagrande nesse trabalho:

“Renato puxa a pauta da segurança pública para o seu gabinete. Ele faz a coordenação mensal dentro de um programa de governo chamado Estado Presente. E ele tem a coragem ainda maior de bater no peito e dizer que vai reduzir os números de homicídios no estado do Espírito Santo.”

O ex-secretário citou que, neste ano, o Estado terá o melhor resultado nesse indicador em uma série histórica de 26 anos. Em 2009, foram registrados 2.034 assassinatos em território capixaba. Em 2022, segundo Ramalho, serão menos de 1 mil homicídios (isso ainda não é 100% seguro, mas a curva de fato indica essa tendência).

“O Espírito Santo não pode retroceder. Não podemos voltar a esse tempo de impunidade”, concluiu o locutor.

MANATO: “A criminalidade não tem vez”

Por sua vez, a campanha de Manato incluiu a preocupação com a segurança pública até em um dos seus bordões no 2º turno: “Chegou a hora de termos um estado livre, forte e seguro”. “Liberdade e segurança” também entrou no novo jingle de campanha.

Em seu programa de rádio veiculado nesta sexta (a “Rádio Manato”), conversando com o casal de locutores, Manato fez uma comparação com o Rio de Janeiro, estado sempre tomado como símbolo da violência urbana. “A insegurança está chegando a níveis inaceitáveis. O Espírito Santo hoje é considerado mais violento que o Rio de Janeiro.”

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Um dos locutores interrompeu Manato, que frisou o dado: “Se formos olhar o número de assassinatos per capita, hoje temos mais homicídios que o Rio de Janeiro.”

“Meu Deus! Isso é realmente inadmissível!”, exclamou a outra locutora.

Já o programa para a TV foi aberto com o locutor e o próprio Manato classificando como mentiroso o discurso de Casagrande sobre segurança pública.

“Liberdade: direito de todo cidadão que pratica o bem, que trabalha, que contribui com o progresso de um povo, de um estado e de uma nação. Mas hoje a criminalidade aqui no Estado está fora de controle. E tudo o que o Casagrande fala sobre segurança se comprova como mentira”, começou o locutor.

“Capixabas, não precisa de muito esforço para perceber que a criminalidade aqui no Estado está fora de controle”, emendou Manato.

Aí o locutor repetiu aquele número:

“O nosso estado hoje é o mais violento do Sudeste. Para pra pensar: o Espírito Santo é mais violento que o Rio de Janeiro. Aqui se mata mais por número de habitantes do que lá. E o motivo?”

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Pegando a deixa, Manato respondeu: “Casagrande não fez a reposição de efetivo [das polícias]. Ao invés de contratar novos policiais, o governo Casagrande sobrecarrega a tropa com baixos salários e sem motivação. E, sem motivação, é impossível ter entrega de trabalho. O problema de gestão não é só na prevenção dos crimes mas na resolução também.”

O candidato acrescentou um estudo da Associação dos Delegados da Polícia Civil (Adepol) Brasil, segundo o qual o Espírito Santo é o pior estado em resolução de crimes do país, com apenas 26% dos inquéritos finalizados. “O capixaba, além de não ter segurança, sem uma Polícia Civil forte para concluir os inquéritos, também não tem justiça”, disse Manato, salientando ainda os crimes patrimoniais contra o comércio.

Em seguida, foram apresentadas propostas para a área, entre as quais: aumentar o efetivo policial; reajustar a folha salarial dos policiais e trabalhadores do sistema prisional; integrar as polícias; criar a Central de Tecnologia de Segurança Pública; ampliar o número de delegacias de combate à violência doméstica; estabelecer e ampliar a Polícia Rodoviária Estadual; criar uma tropa especializada de policiamento de divisas.

O programa foi encerrado com uma frase de efeito e a vinculação de sempre a Bolsonaro:

“Precisamos de um governador com força, firmeza e coragem para encarar esse problema de frente e defender a família capixaba, garantindo paz para todas as pessoas”, exclamou o locutor. “Com Bolsonaro lá e Manato aqui, a criminalidade não tem vez”, arrematou Manato, falando de si na 3ª pessoa.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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