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Falta clareza sobre critérios para retomada de atividades

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Desde abril, quando Mapa de Risco passou a ser adotado como referência para definir o estágio dos municípios em relação à transmissão do coronavírus, o governo deixou claro qual critério imperava para estabelecer as diferenças fundamentais entre as cidades. No início, era o número de casos, depois passou a ser o isolamento, mais adiante, a ocupação de UTI. Não eram critérios únicos, faziam parte de uma “bolsa de dados”, mas serviam como balizado principal. O caso das UTI’s é o mais emblemático. Por várias vezes, o governador Renato Casagrande e as autoridades da Secretaria da Saúde (Sesa) alertaram para a barreira de 90% da ocupação dos leitos de UTI: se ela fosse ultrapassada, a decretação do lockdown seria inevitável e imediata. Estivemos perto, mas, como se sabe, a medida extrema de suspensão das atividades não foi necessária.

Cuidado com o joelho…

Após a metade de junho, os números de casos e de óbitos passaram a cair. E o governador Renato Casagrande alertou para a necessidade de termos cuidado com a retomada das atividades. E fez comparação com a descida de um morro. “É preciso ter cuidado com a velocidade da descida. Ou o joelho poderá sair prejudicado”, disse ele. Algumas medidas foram anunciadas para a retomada do comércio. E outros setores continuam na expectativa, não da retomada, mas de saber qual critério deve ser preenchido para a volta da normalidade das atividades.

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Indefinição

A ocupação de UTI já não serve mais como referência porque está sob controle, mesmo com a redução de vagas dedicadas à covid-19 (o índice atual é de 62%, bem abaixo dos 90% estabelecidos como sinal vermelho pelo governo). A Grande Vitória registra, hoje, cerca de 25% do total de casos do estado. Só como exemplo, Vitória tem, em média, 10 casos diários para cada 100 mil habitantes. O isolamento social nem pode mais ser usado como referência, porque está em níveis pré-pandêmicos. Então, qual o número a ser atingido, para, por exemplo, o governo discutir mais concretamente o retorno das aulas, a abertura completa dos pontos comerciais, a retomada da normalidade, enfim? Não se sabe.

Na dúvida, eu vou

Nem o inquérito sorológico, pesquisa feita de casa em casa, poderia ser usado pelo governo como referência para anunciar a retomada, porque ele simplesmente falhou. O último levantamento foi prejudicado por uma realidade inescapável: o número de pessoas encontradas pelos pesquisadores em suas casas foi bem abaixo do esperado. Sem dinheiro, sem paciência, sem referência, as pessoas simplesmente esqueceram o isolamento social. E foram para as ruas…

No trajeto

Em tempo: a próxima etapa do inquérito sorológico será feita nas ruas.

A volta às aulas

Está passando da hora de o governo vir a público atualizar os critérios fundamentais para a definição do Mapa de Risco. Talvez (e infelizmente) a referência passe a ser o número de óbitos. Mas algo precisa ser feito até mesmo para, com mais clareza nos critérios, passarmos a discutir concretamente questões importantíssimas, como o retorno das atividades nas escolas. Em debate na segunda-feira, o secretário da Educação, Vitor de Angelo, defendeu a volta às aulas, “conforme as diretrizes da Saúde”, e definiu um prazo máximo: dois meses. Quando exatamente será, ninguém sabe.

Debate quente

Essa retomada ainda vai render muita discussão. Os professores da rede estadual já avisaram: não querem voltar sem garantia de proteção contra o vírus. E sem vacina, essa proteção dificilmente será garantida.

Liberou geral

E no meio das indefinições gerais, a Câmara de Vitória promulgou a lei aprovada há três semanas, com a liberação de horários para o comércio na Capital. A Câmara promulgou porque o prefeito simplesmente lavou as mãos: não sancionou e nem vetou o projeto. Deixou para o governo do estado reagir e ir à Justiça contra a liberação. Seguiu o padrão adotado pela maioria das prefeituras do estado: não agir e deixar o trabalho para o governo.

Liminar e barulho

O governo do estado vai atrás de liminar para derrubar a lei promulgada pela Câmara. Autor da lei e pré-candidato a prefeito, Mazinho dos Anjos (PSD) faz barulho nas redes sociais por conta da defesa dos interesses dos comerciantes. O desgaste do cancelamento das medidas fica com o governo do estado.

O valor

R$ 2,3 milhões. Este foi o valor recebido pelo escritório de Frederico Wassef entre dezembro de 2018 a maio de 2020, de Bruna Boner Leo Silva, uma das sócias da Globalweb Outsourcing. Bruna é filha da ex-mulher de Wassef, Maria Cristina Bonner Leo. A Globalweb tem contratos milionários com o governo. Wassef, como se sabe, foi advogado do presidente Bolsonaro e escondia Fabrício Queiroz em seu sítio, na aprazível Atibaia. O caso está sendo apurado pelo Coaf.

A afirmação

“E bons tempos, né?, onde menor podia trabalhar. Hoje, ele pode fazer tudo, menos trabalhar, inclusive cheirar um paralelepípedo de crack, sem problema nenhum.”

(Presidente Jair Bolsonaro, lembrando seu primeiro emprego, aos 10 anos, num bar em Sete Barrias, interior de São Paulo, durante evento do setor de bares e restaurantes no Rio)

A imagem

Alan Somavilla, de 11 anos, usa a barraca construída por seu pai, Odilésio, na zona rural de Estrada Velha (RS) para ele conseguir acompanhar as aulas pelo celular. É o único local da região onde o sinal do telefone “pega bem”, segundo Odilésio. Alan e sua barraca resumem a dificuldade dos alunos em conseguir estudar em períodos de pandemia.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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