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Coluna Inovação

Enriquecer é glorioso…e socialmente revolucionário

A demonização do lucro impede o avanço econômico e ofusca o papel fundamental do empreendedorismo na criação de riqueza e oportunidades

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O lucro é o motor da inovação que transforma ideias em produtos e serviços. Foto: Arquivo Pessoal

O lucro é o motor da inovação que transforma ideias em produtos e serviços. Foto: Arquivo Pessoal

Com a frase “Enriquecer é glorioso”, Deng Xiaoping iniciou o caminho da China para a economia de mercado, depois dos desastrados Grande Salto adiante e da revolução cultural de Mao Tse Tung, responsáveis por milhões de mortos. Malgrado a ditadura, a China avançou na liberdade econômica, tirando mais de 800 milhões de pessoas da pobreza com empregos e gerando muitos milionários e bilionários. Muitos ainda acham, equivocadamente, que aquilo pode ser chamado de socialismo, apesar do aumento da desigualdade que veio junto com a redução drástica da pobreza.

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O pensador Bernardo Toro, na Veja(18/11/2015), registrou: “Os países latino americanos receberam, dos seus colonizadores, instituições já prontas, que diziam o que todos deveriam fazer, […] e criaram assim uma dependência do estado. Foi o contrário nos Estados Unidos, onde imigrantes, fugindo de perseguições religiosas, criaram instituições do zero, com forte componente empreendedor e valorizando as iniciativas individuais, a meritocracia e o lucro.” É a mesma conclusão do livro “Porque as nações fracassam” de Acemoglu e Robinson, ganhadores do prêmio Nobel de economia de 2024, ao associar desenvolvimento aos países que criaram instituições inclusivas e não extrativistas.

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No Brasil, o lucro não era percebido como eticamente correto, pelo perigo de ser confundido com a usura, condenada pela igreja. De onde vieram as inovações que aumentaram a expectativa de vida como remédios, cirurgias e equipamentos de diagnóstico? De onde vieram o automóvel, o avião, a eletricidade, o telefone, os eletrodomésticos e os computadores, senão de iniciativas que visavam o lucro?

Em geral, não são iniciativas sonhadoras de amor ao próximo(embora úteis para a sanidade geral), que criam as inovações que aumentam a qualidade de vida e a produtividade, que permite a redução da pobreza. A imensa maioria dos milhares de jovens montando startups, que tentam resolver problemas, atender necessidades ou desejos, não o fazem por filantropia ou intenção de salvar a humanidade – querem ganhar dinheiro, embora seja importante valorizar os muitos casos de negócios sociais que permitem ganhar dinheiro e promover benefícios sociais.

Tudo bem que grandes investimentos governamentais ajudaram a resolver questões técnicas e financeiras, como bem pontuou Mariana Mazzucato, lembrando da NASA e do Departamento de Defesa nos EUA. Mas quem juntou as pontas e colocou os produtos no mercado foram os empreendedores. O melhor exemplo disso foi o fracasso da extinta União Soviética, com muitos recursos governamentais, porém sem os empreendedores e o lucro privado. O espírito animal de que falava Keynes, a mão invisível de Adam Smith e a destruição criativa de Schumpeter são, de fato, os grandes motores do desenvolvimento.

Porém, se esse espírito animal ficar solto sem controles, poderá ser predador contra a natureza, contra outros seres humanos, contra a moral, a ética e a concorrência.

Esse equilíbrio é dado com a democracia, eleições frequentes, governo eficiente regulador e fiscalizador, segurança jurídica, imprensa livre, poderes independentes, impostos justos, liberdades individuais e, sobretudo, educação ampla e de qualidade, para gerar igualdade de oportunidades. Enfim, instituições inclusivas como pregam os ganhadores do Prêmio Nobel.

A dívida social de raça, gênero e renda, fruto de séculos de injustiça, tem de ser resgatada com ações afirmativas imediatas. Não podemos esperar outros séculos para isso. Mas há que se liberar os empreendedores das amarras da burocracia, dos equívocos ideológicos, das restrições fiscais e trabalhistas burras e das incompetências governamentais, mas também cobrar sua responsabilidade social e ambiental.

Porém, é mais que urgente acabar com essa atávica demonização do lucro, que faz com que muitos que não têm o espírito empreendedor, ou que recebem seus salários e suas aposentadorias regularmente, imaginem que empresários são delinquentes, no espírito do século 19 , refletido no Manifesto comunista de 1848. Coisa demais anacrônica e que se mostrou errada na prática.

Deng Xiaoping foi um visionário e detonou o atraso na China com uma revolução social baseada na economia de mercado. Que se aprenda a lição por aqui, embora sempre preservando a democracia.


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Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração certificado pelo IBGC e Conselheiro do CQC Inovação do Ibef/ES. Tem extensa experiência profissional, no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Brasília, como empresário, executivo de empresas públicas e privadas, conselheiro de administração e consultor nas áreas de TI, inovação, qualidade, gestão, estratégia, empreendedorismo e meio ambiente, além de ser mentor e investidor em startups. Participa do programa EStúdio 360 Inovação na TV Capixaba e no programa Inovação na Band News FM. Co-autor do livro Vencedores pela editora Qualitymark. É atualmente Presidente do Cdmec- Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico.

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