Coluna André Andrès
As ‘figurinhas’ do vinho: os rótulos ligados ao mundo do futebol
De jogadores a jornalistas, o universo do vinho tem uma relação intensa (e lucrativa) com figuras carimbadas do futebol
A história é, relativamente, conhecida. Instalado por algum tempo na casa de Ronaldo Fenômeno em Milão, o meia Vampeta, na época jogando na Internazionale, convidou alguns amigos para uma noitada lá. Ronaldo estava em tratamento médico no Brasil. Vampeta tinha acesso liberado à adega. Não tinha a mínima noção dos rótulos, bebia qualquer coisa. Quando a pessoa responsável por cuidar da casa enquanto o Fenômeno estava fora chegou à cozinha, levou um susto. “Quem abriu essa garrafa??” E Vampeta: “Fui eu. Algum problema?” Deu a resposta segurando um copo plástico, ainda com um pouco de vinho. “Rapaz! Ronaldo vai me matar! Esse vinho foi dado a ele pelo Papa João Paulo II!”. E Vampeta encerrou a conversa: “E o pior: eu não gostei do vinho. Joguei tudo fora.” Não se sabe exatamente qual era o vinho. Segundo o relato do meia, custava algo em torno de 3 mil euros (uns R$ 15 mil). Pouco importa: ele nunca pagou…
A história de Vampeta e Ronaldo resume um pouco a relação entre os mundos do futebol e do vinho. Vindos, em sua maioria, de famílias humildes, os jogadores pouco sabem do tema. Mas conforme vão fazendo sucesso, vão entrando em contato com a bebida e alguns acabam virando até produtores. Isso também ocorre com jornalistas, narradores, técnicos. Eles acabam formando uma seleção. Confira alguns rótulos ligados a essas figurinhas carimbadas no álbum da enologia:
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Fenômeno e o Cepa 21. Depois de deixar o futebol, Ronaldo tornou-se um empresário. Comprou o Real Valladolid, clube da região de quatro denominações de produção vinícola (Ribera del Duero, Rueda, Toro e Cigales). Ele também adquiriu uma parte na sociedade da vinícola produtora do Cepa 21, excelente tinto produzido com a Tempranillo em Ribera del Duero e vendido aqui no Brasil por algo em torno de R$ 350. Trata-se de um grande vinho, fruto do projeto moderno dos irmãos José e Javier Moro, integrantes da terceira geração à frente da tradicional bodega Emilio Moro. Mais um golaço do Fenômeno. Para completar sua relação com o vinho e a região, ele é, também, embaixador do Museu do Vinho Peñafiel, instalado em um castelo histórico da região.
Os rótulos italianos de Ronaldinho Gaúcho – Fábio Cordella foi um discreto jogador de futebol do Hónved, da Hungria. Não fez grande sucesso no futebol, mas se deu bem como empresário do mundo do vinho. Produtor da Puglia, na “bota” italiana, ele resolveu criar vários rótulos assinados por jogadores e ex-jogadores. Chamou, entre outros, o italiano Bufón, o holandês Sneijder, o uruguaio Zamorano e… Ronaldinho Gaúcho. A linha R One começou tímida, com apenas três rótulos assinados pelo brasileiro, um tinto (de uva Primitivo), um rosé (Negroamaro) e um branco (Chardonnay). O preço médio fica em torno de R$ 95. Mais recentemente já era possível encontrar um Brunello de Montalcino, bem mais caro, em sites de internet. Sinal de sucesso do projeto de Cordella e do craque brasileiro.

Galvão Bueno. Foto: Divulgação/Bueno
A goleada de Galvão Bueno – A paixão do principal nome da área de esportes da Rede Globo pelos vinhos o levou a ir muito além dos rótulos isolados dos jogadores. Galvão tem seu próprio vinhedo, na região da Campanha, Rio Grande do Sul, tornou-se sócio da Miolo, gigante da produção nacional, tem parceria com um grande enólogo italiano, Roberto Cipresso, em um projeto na Toscana, dá nome a uma grande linha de vinhos com seu nome e possui até um site, Bueno Wines, para venda de seus produtos. Alguns desses vinhos já arrebataram prêmios no Brasil e em outros países. E a linha é tão extensa quanto é variada a faixa de preços: eles partem de R$ 75 e chegam a R$ 1.538. Muito além de um curioso ou consumidor de luxo, Galvão tornou-se um profissional da área. De sucesso, algo com o qual está acostumado…

Vinho. Foto: sportbible.com
O segredo de Pirlo – Se entre jogadores brasileiros o vinho faz algum sucesso, entre os europeus ele é um hábito e base de muitos negócios. Um dos melhores exemplos é o ex-meia da Seleção da Itália, Andrea Pirlo, hoje construindo sua carreira como técnico. Ele guarda uma diferença em relação aos seus colegas de profissão: Pirlo começou a trabalhar em sua própria vinícola quando ainda encantava os torcedores da Azzurra com seu futebol. Para isso, escolheu Capriano del Colle, pequena cidade localizada na região da Lombardia. Ali ele desenvolveu uma extensa linha de rótulos, sob a denominação de Pratum Coller. Não são vinhos fáceis de achar no Brasil, mas têm bom custo-benefício. Um de seus bons tintos, o Arduo, custa em torno de R$ 150.

Foto: Reprodução/Instagram/@bodegainiesta
A outra taça de Iniesta – Os apaixonados torcedores espanhóis trazem na memória a imagem do Andres Iniesta marcando o gol do título da Copa de 2010, na África. Admirado por seu enorme talento dentro das quatro linhas, Iniesta também brilha na manutenção das tradições familiares. E entre essas tradições está a manutenção da vinícola mantida pela família já há bom tempo. O meia faz parte da terceira geração de proprietário da Bodega Iniesta. Ela funciona na província de Albacete, onde o craque nasceu, e dali saem mais de 1,3 milhão de litros de vinhos, tão variados quanto os recursos do jogador com maior número de jogos pela Fúria.
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