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Coluna Vitor Vogas

Valésia Perozini: quem é a esfinge política cotada para o TCES?

Chefe de gabinete de Casagrande há mais de 30 anos, ela não é a favorita, mas seria a sucessora ideal para o governador na cadeira de Sérgio Borges. Saiba por quê

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Valésia Perozini (PSB), chefe de gabinete de Casagrande

Como monumento arquitetônico, o Palácio Anchieta está longe de ser uma pirâmide egípcia. Quem o visitar, porém, ouvirá a lenda de uma esfinge política que mora na sala contígua ao gabinete do governador: Valésia Perozini (PSB).

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Em quase 35 anos de Casagrande na vida pública, ninguém estabeleceu com o socialista, na política capixaba, uma relação de maior proximidade e confiança mútua. Conterrânea dele em Castelo, a chefe de gabinete do governador exerceu a função em simplesmente todos os mandatos de Casagrande, do primeiro (na Assembleia Legislativa, de 1991 a 1994) ao atual, passando por Vice-Governadoria, Secretaria de Estado da Agricultura, Câmara dos Deputados, Senado e, naturalmente, os dois mandatos anteriores no Palácio Anchieta.

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Valésia é um personagem ambivalente. Sua influência política dentro do governo é proporcional ao desconhecimento de seu nome fora do Executivo Estadual. A chefe de gabinete não costuma atender a imprensa. Jamais concede entrevistas. Ganha um tour guiado no TCES quem encontrar na internet o arquivo de alguma entrevista concedida por ela.

Sua fronteira de atuação é o batente do gabinete. Dali para fora, ela “não existe” para a classe política. Dali para dentro, sua influência é proverbial. “Invisível” ao mundo exterior, ela opina, sugere, aconselha, discute, discorda, enfim, participa e tem voz ativa na tomada de decisões do governo, ainda que essa voz não reverbere para além do andar de cima do Palácio Anchieta.

Pelo acúmulo e o conjunto da obra, arrisco-me a dizer que, há muitos anos, Valésia Perozini ocupa (sem título) o lugar de principal conselheira de Casagrande para assuntos políticos e administrativos. Pertence a um primeiro círculo muito restrito formado hoje pelo secretário-chefe da Casa Civil, Davi Diniz, pelo secretário de Planejamento, Álvaro Duboc, pela superintendente de Comunicação, Flávia Mignone, e, mais recentemente, pela secretária de Governo, Emanuela Pedroso (Podemos). Mas Valésia chegou pelo menos 20 anos na frente dos demais.

Bacharel em Direito e especialista em Direito Eleitoral, a castelense trabalhava na Câmara Municipal de Laranja da Terra quando foi convidada por Casagrande a auxiliá-lo em sua então embrionária trajetória política. Teve início, então, a longeva parceria. Na Assembleia, em princípios dos anos 1990, Casagrande só tinha três assessores de gabinete (sim, o número era bem menor que o atual, de até 19 por deputado).

Valésia estava nesse trio inicial, estreando na função de chefe de gabinete de Casagrande. Como tal, até pela limitação de funcionários, fazia de tudo um pouco: de assessoramento jurídico do mandato à prestação de contas das campanhas, além, é claro, de cuidar da agenda de Casagrande (até hoje montada pessoalmente por ela, por mais que o volume de demandas e compromissos tenha se agigantado).

Três décadas e meia se passaram desde então, mais da metade de uma vida de parceria… Casagrande sempre em evidência… Valésia sempre à sua sombra, avessa à exposição e primando pela extrema discrição.

Eis que, aberta a vaga de Sérgio Borges como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES), o nome da chefe de gabinete “do Renato” passa a estar em evidência como talvez nunca antes tenha estado… uma “evidência” que na certa, a julgar por seu perfil, não agrada nem um pouco a ela mesma, mas acaba sendo inevitável.

Na corrida pela sucessão de Borges na Corte de Contas, conforme já identificado aqui, o nome mais provável a ser bancado pelo Palácio Anchieta é o de Davi Diniz, pois o secretário-chefe da Casa Civil, em tese, tem muito maiores chances de vencer a votação secreta a ser realizada entre os deputados.

Mas, por todo o exposto acima, o nome dos sonhos de Casagrande, no mundo ideal para ele, seria o de Valésia Perozini.

A própria Valésia não o quer, não demonstra o menor interesse em preencher a vaga no TCES… No que depender dela mesma, prefere seguir fazendo o que fez nos últimos 35 anos: zelar pessoalmente pela vida pública do seu chefe e conterrâneo – que, encerrado o atual governo, ainda pode voltar ao Senado ou aspirar a posições maiores na eleição de 2026.

Mas é fato que, para Casagrande, ninguém melhor que Valésia representaria uma fortaleza de confiança e tranquilidade no TCES.

Por isso, ainda que o nome de Davi Diniz tenha hoje maior força no governo e na Assembleia para ocupar a vaga de Borges, Valésia segue sendo cultivada como um plano B por aliados de Casagrande – caso o nome de Davi, por algum motivo, não se viabilize.

O argumento já está pronto: por uma questão de equidade de gênero, aliás muito justa e oportuna, o TCES precisa deixar de ser um “Clube do Bolinha”. A Corte não tem uma mulher entre os sete conselheiros desde a aposentadoria de Mariazinha Vellozo Lucas, nos distantes anos 2000.

Mas não é tão simples assim. A vaga é dos deputados, e é preciso combinar com os russos.

Em tese, para Casagrande, colocar sua chefe de gabinete na vaga de Sérgio Borges será, além de muito trabalhoso e custoso politicamente, uma estratégia arriscada, de resultado incerto. O nome pode não “descer” no plenário, onde o governo tem hoje uma maioria não tão dilatada, numa votação que será secreta e, portanto, mais sujeita a traições.

Por isso, talvez seja mais prudente não queimar a ficha agora e guardá-la para usar na hora certa.

Curiosidades e dificuldades

Observadores do mercado político, entre os quais me incluo, teriam enorme curiosidade em assistir a Valésia Perozini atuando fora do gabinete, como conselheira no TCES. Seria um desafio daqueles.

Em primeiro lugar, porque se trata de uma casa eminentemente política, formada em sua maioria por conselheiros com origem política e muitos mandatos somados (Taufner, Chamoun, Rodrigo Coelho), além de um habilidoso e incansável articulador político (Aboudib). É, enfim, um ninho de águias.

Em segundo lugar, pela extrema complexidade dos processos que tramitam em uma Corte também composta por reservas técnicas ambulantes como o conselheiro Ranna.

Em terceiro lugar, porque o TCES, como todo tribunal do país, virou um palco midiático, com sessões transmitidas ao vivo, muita projeção para fora e conselheiros que buscam mesmo isso e gostam de dar entrevistas (como Chamoun e seu sucessor na presidência, Taufner).

Quanto ao jogo político, aliados reconhecem que, de fato, falta experiência a Valésia nesse campo. Ela tem experiência e habilidade política (já viu e viveu muita coisa, inclusive no Congresso Nacional, reduto das maiores águias da nação). Mas sempre articulou para dentro do gabinete de Casagrande. Nunca precisou, como Diniz, se articular diretamente com deputados etc. Portanto, em termos de articulação política, nunca precisou jogar fora de casa. No TCES, terá de fazê-lo.

Os mesmos aliados, porém, não têm dúvida de que ela muito rapidamente vai aprender a jogar o jogo que se joga por ali. Não tem nada de boba, muito pelo contrário. Pode rapidamente revelar-se a nova águia no ninho.

Quanto ao conhecimento técnico, as eventuais lacunas podem prontamente ser preenchidas com a ajuda de uma assessoria competente, dedicação e autodidatismo. Valésia, aliás, é definida por um colega de governo como uma grande autodidata. Em seus mais de 30 anos colaborando estreitamente com Casagrande e testemunhando de perto as decisões mais estratégicas do governo, gestão de crises etc., reuniu um vasto e raro conhecimento sobre a administração pública.

Aprendeu, empiricamente, sobre de tudo um pouco, inclusive sobre contas públicas (objeto principal do TCES), lidando com orçamentos de governos e campanhas, emendas parlamentares etc. E convenhamos: qual era o “profundo conhecimento técnico” de um Sérgio Borges, um Rodrigo Coelho ou um Chamoun quando aportaram no TCES, vindos diretamente da Assembleia, ou do farmacêutico Luiz Carlos Ciciliotti? Isso também se adquire com o tempo.

Por fim, quanto ao midiatismo do TCES, eu teria imensa curiosidade em ouvir um discurso público de Valésia, ou ela dando entrevistas como conselheira, quem sabe até presidindo o tribunal, mas… embora muito bem-vinda, uma “postura falante” não é condição indispensável para alguém atuar como conselheiro do TCES ou em qualquer outro tribunal.

Colega de ministros loquazes como Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, Rosa Weber passou 12 anos no STF praticamente sem dar entrevistas, mesmo na presidência do tribunal. São estilos pessoais.

Aqui no TCES, Ciciliotti não é dado a entrevistas… E o próprio Sérgio Borges, após chegar lá, emudeceu. Agora que de lá saiu, voltou a falar.