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Coluna Vitor Vogas

Mais um deputado ameaça abandonar a base de Casagrande na Assembleia

Deputado fluente em pomerano fala cada vez menos a mesma língua que o governo nas votações em plenário. Hoje ele votou contra as câmeras em uniformes de policiais e chegou a fazer discurso da tribuna concordando com argumentos da oposição

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Deputado Adilson Espindula. Foto: Lucas S. Costa

Vereador por muitos mandatos no município de Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Estado, Adilson Espindula (PDT) chegou à Assembleia em 2019. Ao longo de todo o primeiro mandato na Casa, mostrou-se um deputado fidelíssimo ao governo Casagrande (PSB). Mas isso agora começa a mudar. E, como ele mesmo trata de dizer, pode mudar ainda mais radicalmente:

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“Se o governo não passar a me ouvir e não melhorar o modo como tem me tratado, vou me tornar um deputado independente, porque vou entender que o governo não me quer mais na base. Estou aguardando uma posição do governo. Se eles não me chamarem para conversar, é porque sei que não têm interesse”, alertou o parlamentar.

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Neste início de nova legislatura, o deputado, fluente em pomerano, não está mais falando a mesma língua que o governo Casagrande. Sem esconder sua insatisfação, Adilson tem votado regularmente contra o Executivo nas matérias mais importantes.

Foi assim, por exemplo, no dia 15 de fevereiro, data da “Revolta da Bolsa”, quando o governo sofreu um inesperado revés, com a aprovação de uma emenda do deputado Gandini (Cidadania) a um projeto enviado por Casagrande que previa a criação de uma bolsa-estudantil para alunos de baixa renda da rede estadual de ensino médio. A derrota só foi possível graças à rebelião de alguns membros da base que votaram a favor da emenda. Entre eles, Adilson.

Nesta segunda-feira (13), mais uma vez, Adilson posicionou-se contrariamente ao Palácio, mas na apreciação de um projeto ainda mais importante.

O plenário debateu um projeto de decreto legislativo de autoria do deputado Callegari (PL), opositor do governo Casagrande, que visava acabar com o uso de câmeras corporais por policiais penais em determinadas ocorrências nos presídios estaduais, como intervenção e contenção.

O uso das câmeras nos uniformes desses agentes foi estabelecido por meio de portaria baixada pelo governador no dia 10 de fevereiro. O projeto de Callegari pretendia sustar os efeitos da portaria.

No entanto, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Mazinho dos Anjos (PSDB), relator do projeto na comissão, entendeu que o projeto de Callegari era inconstitucional. Na CCJ, o parecer de Mazinho foi aprovado por 5 votos a 2. Submetido ao plenário, o parecer foi aprovado por 17 votos a 10, e o projeto, então, foi arquivado.

Um dos 10 votos contrários ao parecer de Mazinho (portanto, contra o arquivamento do projeto de Callegari) partiu justamente de Adilson Espindula.

Mais que isso: desta vez o deputado chegou a subir à tribuna para discursar contra a medida do governo de adotar o uso de câmeras corporais em policiais penais. Foi uma cena muito rara. Adilson não está tão habituado a se pronunciar da tribuna, muito menos para discordar do governo.

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No fim da sessão, o deputado confirmou em palavras o que ele já vem expressando há um mês nas votações em plenário: seu descontentamento com Casagrande. Dizendo-se desprestigiado, o “pomerano” afirmou que, apesar de tudo, ainda se considera um deputado da base, mas entende que o governo não o está tratando como tal:

“Continuo deputado da base. Só não sou tratado como deputado da base. Só isso. Meu descontentamento com o governo é por isso.”

Um dos principais motivos do afastamento de Adilson foi a nova frustração colhida por ele na disputa pela presidência da sempre muito cobiçada Comissão Permanente de Agricultura.

No início de 2019, logo que chegou à Casa, ele pleiteou, mas perdeu para Janete de Sá (PSB), a presidência da comissão. Foi compreensível, porém: tratava-se de um então novato, medindo forças com uma veterana.

Em fevereiro deste ano, mais uma vez o deputado foi preterido pelo governo Casagrande – que controlou a montagem das comissões – e teve de se contentar com a vice-presidência da Comissão de Agricultura. Dessa vez, contudo, ele perdeu a presidência para um novato, o linharense Lucas Scaramussa (Podemos).

Na conversa comigo, Adilson não admitiu que isso tenha sido um fator de insatisfação, mas confirmou o quanto desejava presidir a comissão:

“Tanto no mandato passado como no atual, faço a defesa em favor da agricultura, do produtor rural, do cooperativismo. E sempre almejei ser o presidente da Comissão de Agricultura. De fato, não consegui. Hoje ocupo a vice-presidência. Mas acredito que, como presidente, eu poderia dar uma colaboração muito maior”, lamentou.

Sobre seus recentes votos contra o governo, ele diz ter votado por convicção em ambos os casos destacados:

“No caso da bolsa estudantil, R$ 400,00 é muito pouco, principalmente na Grande Vitória. Achei muito louvável a emenda do Gandini, tanto que o governador sancionou o projeto com a emenda.”

O projeto enviado pelo governo à Assembleia previa R$ 400,00 mensais para cada estudante, valor dobrado pela emenda de Gandini e sancionado pelo governador.

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“No caso das câmeras nos uniformes, também votei por convicção, porque entendo que temos outras prioridades para a segurança pública do Espírito Santo que não colocar câmeras nas fardas dos nossos policiais, além de isso ter um custo altíssimo”, completou o deputado.

Na tribuna, Adilson citou a construção de uma delegacia própria em Santa Maria de Jetibá (cidade com cerca de 50 mil habitantes), a reabertura da delegacia de Itarana, fechada há anos (“É um clamor do povo região”), e a ativação de um plantão 24 horas na de Santa Teresa.

Por Casagrande, perdeu o PTB

Outra causa da contrariedade de Adilson é que, no mandato passado, ele foi pau para toda obra: votou tudo a favor do governo, inclusive os projetos mais impopulares. E a maior demonstração de lealdade está numa história não muito divulgada:

No início do mandato passado (2019), Adilson era o presidente estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Eis que o cacique nacional da sigla, Roberto Jefferson, radicaliza a favor do então presidente Jair Bolsonaro e exige que Adilson passe a declarar oposição a Casagrande no Espírito Santo.

Adilson recusou-se a fazer isso, até porque a parceria com Casagrande era uma via de mão dupla: como deputado de uma cidade pequena do interior, ele dependia (e segue dependendo) de entregas do governo estadual. Havia uma mistura de lealdade com conveniência.

Pouquíssimo tempo depois, Adilson foi destituído da presidência estadual do PTB. Perdeu o partido para seguir com Casagrande.

Se federação chegar, ele sai

Em março de 2022, também numa articulação do governo Casagrande, Adilson filiou-se ao PDT, partido do campo progressista. Pela sigla, disputou o novo mandato e reelegeu-se. Perguntei-lhe se ele seguirá filiado. Sua resposta: “Por enquanto, sim”.

Se o PDT formalizar a federação com o PSB, o parlamentar com certeza sairá do PDT, pois nesse caso o partido ficará ainda mais na esquerda, enquanto ele mesmo se considera um político de direita.

Planos eleitorais

Isso poderia atrapalhar até possíveis planos eleitorais do deputado. Adilson é fortemente cotado para concorrer à Prefeitura de Santa Maria de Jetibá em 2024, o que ele mesmo ainda não confirma: “Vou falar disso no momento oportuno”.

Ficar num partido de esquerda pode não ser muito conveniente para ele disputar a prefeitura de um município muito conservador, situado em uma região onde Bolsonaro foi muito bem votado na eleição presidencial do ano passado.

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Ofegante

Durante seu raro, se não inédito, discurso contra o governo Casagrande, nesta segunda, Adilson traiu certo nervosismo. Pareceu até um pouco ofegante. Pudera: foi praticamente sua “estreia na oposição”.

RÁPIDAS

Gandini, Vandinho, Ferraço

Para constar, enquanto Adilson já está com um pé fora da base de Casagrande, Gandini (Cidadania), Vandinho Leite (PSDB) e Theodorico Ferraço (PP) já estão com os dois. Os três deputados, mais uma vez, votaram contra o Executivo na apreciação do parecer da CCJ pelo arquivamento do projeto de Callegari. Ou seja, votaram a favor do projeto do deputado da oposição.

Bispo licenciado

Após submeter-se a uma segunda cirurgia para tratar uma insuficiência renal, o deputado Bispo Alves (Republicanos) tirou licença médica no último dia 28. A licença vai até quinta-feira (16). Ele deve voltar a frequentar as sessões na próxima segunda-feira (20).

Hudson cada vez mais off

O deputado Hudson Leal (Republicanos) renunciou ao posto de líder do bloco parlamentar formado por três partidos (PL, PTB e Republicanos) e dez deputados estaduais. O até então vice-líder do bloco, Coronel Weliton (PTB), foi alçado oficialmente ao cargo de líder. Na prática, já era mesmo ele quem vinha encaminhando as votações em nome do bloco.

Mesmo sendo o 1º vice-presidente da Mesa, Hudson nunca está em plenário para conduzir as sessões na ausência do presidente Marcelo Santos (Podemos). Na sessão desta segunda-feira, ele só apareceu em plenário depois que tudo de mais importante já havia sido votado e o projeto de Callegari já havia sido arquivado.

Beca…

Esta segunda-feira também foi o dia de Sérgio Meneguelli (Republicanos) enfim debutar na tribuna do plenário. Discursou a favor do uso de câmeras corporais por agentes de segurança pública. Mas o que mais chamou a atenção é que, desta vez, Serginho trocou a jaquetinha jeans por um blazer.

Mas calma, gente, foi só isso mesmo. A evolução é muito lenta e gradual. Ele manteve as calças jeans e os tênis All Star.

De todo modo, foi um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a elegância da humanidade.

… e Muribeca

Durante a sessão, além do chapelão de sempre na cabeça de Pablo Muribeca (Patriota), um segundo chapéu dele circulou pelo plenário. O deputado Denninho (União Brasil) não resistiu e o experimentou. Nesse momento, presidindo a sessão, Marcelo Santos o chamou de “deputado Denninho Muribeca”.

A dúvida é se foi mera alusão ao chapéu que Denninho experimentou ou se o comentário de Marcelo também conteve uma dose de malícia. Afinal, na semana passada, Denninho fez uma ofensiva da tribuna ao prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), e disse a Muribeca que vai se juntar a ele na fiscalização (e na oposição) ao prefeito.


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