Coluna Vitor Vogas
Análise: Pazolini vira totalmente a chave para o segundo tempo do mandato
Neste terceiro e decisivo ano da gestão – sobretudo tendo em vista a reeleição –, prefeito entrou em campo empenhado em sair do noticiário negativo gerado por controvérsias políticas. Tem se mostrado 100% focado em entregas e pautas positivas. E pôs em prática uma operação, mais explícita a cada dia, de reaproximação institucional com o governo Casagrande
Na meteórica carreira política do delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos), 2020 foi com certeza o seu melhor ano: após menos de um biênio na Assembleia, o então deputado venceu a eleição municipal e chegou à Prefeitura de Vitória. Em compensação, o ano passado foi sem muita discussão o pior: enrolado em uma teia de conflitos políticos – alguns criados ou alimentados por ele mesmo –, o prefeito não conseguiu fazer sua administração deslanchar nem brilhar como gestor à frente da principal vitrine política entre os municípios capixabas.
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A virada do ano marcou também o intervalo do jogo. E, no vestiário, o treinador deve ter dito algo bem assimilado por Pazolini. Fato é que o prefeito, visivelmente, virou a página e a chave política: neste terceiro e decisivo ano da gestão – sobretudo tendo em vista a reeleição –, entrou em campo empenhado em sair do noticiário negativo gerado por controvérsias políticas. Tem se mostrado determinado a se concentrar em pautas positivas.
Com “paz” no início do sobrenome, o chefe do Executivo de Vitória entrou no modo “Pazolini Paz e Amor”. É nítido o esforço do prefeito em sair da “zona de conflito”, da “faixa de combate” com adversários externos (o governador) e até internos na Prefeitura de Vitória (a sua vice-prefeita). A ampulheta não pode ser virada, a areia escorrida já não volta… e Pazolini sabe não ter tempo a perder se quiser deixar para trás a fase negativa e melhorar a própria imagem como prefeito.
Essa virada de chave aparece nas entregas da gestão e nas pautas positivas em que ele parece bem mais focado desde o início deste ano. Também desponta dos movimentos que ele mesmo e agentes de sua equipe têm feito gradualmente no sentido de melhorar o relacionamento institucional com o governo Casagrande.
No caso da bateria de pautas positivas, não é preciso ir muito longe no tempo. Só de sábado para cá – ou seja, em cinco dias –, temos uma sucessão de exemplos.
No sábado (11), no Parque Tancredão, o prefeito lançou pessoalmente o Vix + Cidadania, programa que se propõe erradicar a miséria em Vitória no prazo de dois anos, com transferência direta de renda para cerca de 5,5 mil famílias hoje abaixo da linha da extrema pobreza.
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No domingo (12), além da Corrida das Mulheres, o prefeito inaugurou pessoalmente a tão aguardada ciclovia da Avenida Rio Branco, Praia do Canto, com um quilômetro de extensão entre a Ponte Ayrton Senna e a Reta da Penha, obra que tinha uma cabeça de burro enterrada. Após longos anos e um imbróglio na Justiça, a intervenção enfim saiu do papel.
Na manhã de terça, a bateria de pautas favoráveis prosseguiu com a visita técnica do prefeito às obras de restauro do tradicional Mercado da Capixaba, no Centro.
Os exemplos em série seguirão no próximo fim de semana, com a assinatura da ordem de serviço da nova cobertura da quadra poliesportiva da praça de Itararé.
Detalhe: em nenhuma dessas solenidades, houve esboço de menção a adversários, climão em público, tretas políticas ou acusações impulsivas.
A virada de chave com Casagrande
E aí, falando em “acusações impulsivas”, dou-me a deixa para entrar no que é o principal aspecto dessa virada de chave: a reaproximação institucional com o governo Casagrande. Pode até ser lenta, mas é explícita.
Em menos de um mês, prefeito e governador já apareceram juntos três vezes em situações festivas e institucionais. Após ter sido convidado pessoalmente por Pazolini durante a posse dos deputados na Assembleia em 1º de fevereiro, Casagrande marcou presença no Sambão do Povo durante o desfile das escolas de samba. E não é que, deixando as diferenças de lado, os dois posaram juntos e sorridentes para fotos?
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Já no último dia 6, o prefeito sentou-se à mesa com outras autoridades no gabinete do governador, na cerimônia para a assinatura do ingresso do governo estadual numa força-tarefa reunindo várias instituições e órgãos de segurança pública, como a Polícia Federal e a Guarda Municipal de Vitória.
A mera presença do prefeito na reunião, com o governador à cabeceira da mesa, pode parecer banal; nada além do cumprimento de uma obrigação institucional, pelo cargo exercido por ele. Mas ganha enorme significado se levado em conta que, há tempos, os dois não dividiam o mesmo recinto nem em eventos institucionais.
Ganha ainda maior relevância se considerado o local da cerimônia: o Palácio Anchieta foi o cenário em que Pazolini alegou, em maio passado, ter recebido uma proposta indecorosa de uma autoridade que dá expediente ali.
O caso foi arquivado pela Procuradoria Geral da República (PGR), e Casagrande chegou a manifestar a intenção de processar o prefeito por danos morais na Justiça comum. Mas isso agora parece ter ficado no passado, pelo menos da parte do prefeito (do lado do governador, restam dúvidas: “quem apanha não esquece”).
Como ápice desse esforço de Pazolini em restaurar minimamente uma relação que chegou ao fundo do poço no ano passado, o prefeito não só atendeu ao convite do Palácio Anchieta para participar do teste da primeira embarcação do sistema aquaviário na manhã dessa quarta-feira (15) como fez a travessia ao lado do governador. Há fotos dos dois lado a lado para todos os gostos: sentados no banco, em pé na proa do barco… A bandeira da embarcação foi a da paz.
Como já registrei aqui no ano passado, com tantos conflitos mantidos por Pazolini ao mesmo tempo, as pautas da polêmica e da disputa política fora de época estavam se sobrepondo às realizações da própria administração.
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As pautas positivas existiam, mas estavam ficando soterradas nos escombros do campo de batalha política com Casagrande, com a Capitã Estéfane, com secretários municipais de Segurança que deixaram a pasta fazendo textões com críticas implícitas ao prefeito no Instagram…
Exemplos gritantes: em maio, no fatídico discurso em que Pazolini acusou Casagrande de lhe ter proposto fraudes em licitações para o governo fazer obras em Vitória, o evento era de inauguração de uma escola municipal em Jardim Camburi. Mas isso ficou totalmente em segundo plano.
De igual modo, na cerimônia em que prefeito e vice-prefeita literalmente disputaram um microfone diante de todo mundo em novembro, a ideia era anunciar o início da construção de um centro de convivência para a terceira idade, também em Jardim Camburi. Mas o destaque foi todo para a inacreditável cena.
Ao adentrar a segunda metade do mandato, Pazolini parece ter se convencido de que viver em estado permanente de guerra tinha mais a prejudicá-lo que a beneficiá-lo. O delegado, então, guardou a arma.
Três metáforas necessárias
As metáforas estão aí, pedindo para serem feitas.
“Quem tem fome tem pressa”, dizia Betinho nos anos 1990. Tendo voltado a se agravar na pandemia, a fome de fato é um flagelo que precisa ser tratado como prioridade pelos gestores públicos. E é isso que Pazolini procura fazer com o programa Vix + Cidadania.
O programa realmente é muito importante e meritoso, não se pode negar isso. Mas também é inegável que o prefeito tem pressa em melhorar a própria imagem e entrar num outro momento. E o programa ajuda nisso, com certeza.
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E o restauro do Mercado Capixaba? Também ótimo e muito importante. A cultura e o povo do Centro agradecem, enquanto a intervenção também ajuda a restaurar a boa imagem do prefeito.
Já a travessia ao lado de Casagrande na viagem inaugural do aquaviário parece ter simbolizado a conclusão da travessia do prefeito de volta àquela outra margem da baía política: a do relacionamento institucional cordial, civilizado e produtivo com o Governo do Estado.
Como eu mesmo já disse, os dois pessoalmente não precisam ser amigos, muito menos aliados políticos e eleitorais. Mas uma relação institucional deteriorada como estava a dos dois agentes, com reflexos na relação entre os dois entes públicos, estava atrapalhando governo, prefeitura e o lado mais fraco da corda, inocente nessa guerra: a população da Capital.
Vale lembrar que, entre o fim de 2021 e março de 2022, a Prefeitura de Vitória demorou meses para permitir que o Governo do Estado construísse as estações do novo aquaviário na ilha de Vitória, exigindo a apresentação de um estudo de impacto.
Agora, vejam só, prefeito e governador estão literalmente navegando juntos e na mesma direção.
Adendo
Também no intuito de fugir de toda e qualquer polêmica, o prefeito mobilizou sua base para derrotar, no plenário da Câmara, os projetos do Escola sem Partido nessa quarta-feira (15). Também é parte dessa nova fase.
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