Coluna Vitor Vogas
O futuro político de Leandro Piquet e sua relação com Pazolini
É patente o distanciamento político entre os dois delegados. E podemos afirmar aqui: Piquet hoje não está mais no mesmo projeto político que Pazolini
Em 2020, o carioca Leandro Piquet, delegado de carreira da Polícia Civil do Espírito Santo como Lorenzo Pazolini, chegou à Câmara de Vitória para o exercício do seu primeiro mandato. Elegeu-se pelo mesmo partido, o Republicanos, e pelo mesmo grupo político pelo qual Pazolini chegou, no mesmo pleito, à Prefeitura de Vitória.
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No começo do mandato, além de correligionário, Piquet chegou a ser líder de Pazolini na Câmara. Em janeiro de 2023, após prisão e afastamento de Armandinho Fontoura, chegou, pelos votos dos colegas, à presidência da Casa. Durante todo o mandato, notadamente como presidente, o colega de profissão se comportou como membro da base e aliado do prefeito. Pautou todos os projetos mais importantes que vinham da prefeitura, presidindo as votações mais importantes.
Isso não quer dizer que não tenha havido rusgas, sobretudo por conta da articulação política de Pazolini e dos seus procuradores políticos – sempre muito criticada nos bastidores pelos vereadores, Piquet incluso –, notadamente durante o período em que Aridelmo Teixeira (Novo) foi secretário municipal de Governo. Os atritos vieram à tona, por exemplo, no episódio do veto de Pazolini ao projeto que aumentava o salários dos vereadores na próxima legislatura (2025-2028). Na ocasião, o próprio Piquet rasgou o verbo contra Aridelmo em plenário. O veto acabou derrubado, com voto decisivo de Piquet.
De todo modo, Pazolini sempre teve em Piquet um porto seguro e pôde dormir sossegado com ele à frente da Mesa Diretora.
Em março deste ano, num movimento combinado no grupo, Piquet trocou o Republicanos pelo Progressistas (PP), o principal partido aliado de Pazolini no projeto reeleição – assim como faria logo depois Cris Samorini. Àquela altura, o presidente da Câmara já declarava que não seria candidato à reeleição. Mas, após ingressar no PP, ele nutriu de verdade a esperança de ser escalado por Pazolini para compor sua chapa à reeleição, como candidato a vice-prefeito. Não rolou. A escolhida foi Cris Samorini.
Mantendo a palavra, Piquet realmente não disputou a reeleição e, sendo assim, nenhum cargo. Durante o período eleitoral, apoiou Pazolini e fez campanha para ele.
Mas, passada a campanha e cumprida a “missão reeleição”, a conjuntura é outra. Cada um passa a olhar para a frente, pensar no próprio futuro, priorizar o que é melhor para si. Nesse novo cotexto, é patente o distanciamento político entre ambos os delegados. E podemos afirmá-lo aqui: Piquet, hoje, não está mais no mesmo projeto político que Lorenzo Pazolini.
Não houve desentendimento nem necessariamente um afastamento entre eles na esfera pessoal. Politicamente, sim.
Piquet não foi nem será aproveitado na futura equipe de Pazolini em seu segundo governo em Vitória.
Nas últimas semanas do ano legislativo e do mandato, salta aos olhos como o presidente tem buscado conduzir a Câmara “à distância”, evitando ao máximo se envolver ou se comprometer pessoalmente com medidas polêmicas que a prefeitura, por intermédio de vereadores aliados, tem buscado fazer passar em plenário.
Em tais situações, ele tem lavado as mãos e cedido o lugar ao 1º vice-presidente da Mesa Diretora, Duda Brasil (PRD) – este, sim, envolvido até o pescoço, por ser também o atual líder do prefeito. Piquet não tem feito nada para atrapalhar, mas também não tem feito nada para ajudar o governo. Não quer deixar suas impressões digitais em qualquer projeto de fim de feira que seja bom para a prefeitura e desgastante para a própria Casa.
Dois exemplos gritantes se deram no início do mês. No dia 5 de dezembro, em sessão extraordinária marcada às pressas a pedido de Duda e outros vereadores da base numa quinta-feira, dia bastante incomum na Câmara de Vitória, os vereadores aprovaram um projeto apresentado pelo mesmo Duda e outros vereadores governistas permitindo que quase todas as matérias sejam votadas em plenário em regime de urgência, ou até em “regime urgentíssimo”. O interesse é todo da prefeitura.
Piquet até passou pelo plenário, mas preferiu ficar bem longe daquilo. Deixou a presidência da sessão a cargo de Duda e se retirou, sem tomar parte na votação.
No dia seguinte (6), em plena sexta-feira, Duda e companhia foram além: pouco depois das 14h30, convocaram uma extraordinária para as 15 horas, com a intenção de aprovarem apressadamente um pacote de mudanças no Regimento Interno da Câmara e na Lei Orgânica Municipal que, em síntese, reduziria prerrogativas dos próprios vereadores para cobrar e fiscalizar o prefeito, criando algumas “facilidades” para o chefe do Executivo. Piquet novamente passou longe. A sessão dessa vez foi derrubada.
Em 1º de janeiro, dia seguinte ao encerramento do mandato parlamentar e do biênio à frente da Câmara, Piquet se reapresentará ao comando da Polícia Civil, comandada por José Darcy Arruda. Deverá ser designado para dar expediente em alguma delegacia. A princípio, é esse o plano. Mas talvez haja algo mais.
Prestes a retornar às suas funções originais, Piquet esteve reunido recentemente com seus dois chefes (acima de Arruda) a partir do dia 1º: o governador Renato Casagrande (PSB) e o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) – este, considerado hoje o mais provável candidato à sucessão de Casagrande pelo grupo do governador e com o apoio dele. A aproximação política do ainda presidente da Câmara com a dupla que comanda o Estado é um fato.
Dentro do PP, Piquet é muito mais próximo do deputado federal Josias da Vitória, presidente estadual da legenda – diferentemente, por exemplo, de Cris Samorini, cuja proximidade é maior com o deputado federal Evair de Melo. Ao contrário de Evair – um crítico ruidoso, não raro histriônico, de Casagrande –, Da Vitória mantém bom relacionamento político com o governador, assim como o próprio Piquet. E não custa lembrar que o PP, muito embora no palanque e no novo governo Pazolini, faz parte do governo Casagrande, com lugar até no 1º escalão.
Em fevereiro, resolvida a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa – prioridade do governo na arena política em janeiro –, o governador tende a fazer algumas mudanças pontuais em sua equipe. Um dos objetivos será absorver aliados, ou potenciais aliados, com comprovada capacidade técnica, que tenham acabado de ficar sem mandato, a fim de “trazê-los para dentro” do time Casagrande (antes que alguém o faça), em vez de deixá-los soltos por aí no mercado.
Piquet pode até entrar nessa. Até porque, vale reiterar, seu projeto político, ao encerrar seu mandato solo, é diferente do projeto de Pazolini.
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