Coluna Vitor Vogas
Majeski está de volta como pré-candidato do PDT a prefeito de Vitória
Ex-deputado afirma que partido de Vidigal e o próprio prefeito da Serra lhe asseguraram a legenda para disputar o Executivo da Capital
O ex-deputado estadual Sergio Majeski vai se filiar ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) no próximo dia 22. Ele troca o PSDB pelo PDT para ser candidato a prefeito de Vitória. É literalmente isso: Majeski troca de sigla para ser candidato a prefeito de Vitória, algo que, ficando no PSDB, ele não conseguiria, pois o partido já tem a pré-candidatura do ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas.
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Não fosse por essa razão, Majeski não teria por que trocar de partido agora, como o ex-deputado enfatizou em entrevista ao EStúdio 360 Segunda Edição, telejornal da TV Capixaba, exibida nessa segunda-feira (5). Majeski frisou ter optado pelo PDT porque, em todas as conversas com representantes da sigla no Estado, recebeu deles plenas garantias de que terá mesmo a legenda para ser candidato em Vitória nas eleições municipais de outubro.
Mas é como diz o ditado: “Gato escaldado tem medo de água fria”, recitou o próprio Majeski – cujo pet, aliás, é um felino –, na referida entrevista. E Majeski, ah, está escaldado… escaldado como poucos políticos neste Espírito Santo. A lição não foi aprendida com o seu bicho de estimação. Foi na vivência política mesmo, da maneira mais dura possível. Em mais de uma ocasião, quando estava em seu melhor momento político, no ápice da popularidade, o então deputado estadual não conseguiu botar de pé candidaturas consideradas competitivas porque simplesmente foi barrado pelos dirigentes do seu próprio partido – à época, o PSB do governador Renato Casagrande.
Nas eleições gerais de 2018, já no PSB – após ter exercido o primeiro mandato na Assembleia pelo PSDB –, Majeski manifestou interesse em ser candidato a senador. E olha que havia duas vagas em disputa. Não obteve apoio nem do governador nem dos dirigentes estaduais do PSB. Os socialistas preferiram apoiar Marcos do Val (então no Cidadania) – eleito – e Ricardo Ferraço (então no PSDB) – não reeleito. Prevaleceu o entendimento de que o PSB precisava abrir espaço para aliados, pois já estava lançando uma chapa completa ao Palácio Anchieta, com Casagrande a governador e Jacqueline Moraes, do mesmo partido, a vice-governadora. Majeski não chegou nem perto de concorrer ao Senado. Reelegeu-se deputado em 2018.
Aí, dois anos depois, o professor de Geografia fez um movimento bem mais forte para tentar ser candidato a prefeito de Vitória. Ainda no PSB, não apenas expressou interesse, mas disputou mesmo a vaga internamente. Porém, em prévias realizadas em fevereiro de 2020 pela direção municipal do partido, nas quais já entrou sem chance alguma, perdeu a votação para o então vice-prefeito de Vitória, Sérgio Sá. Este disputou a eleição à Prefeitura de Vitória, sendo timidamente votado. Majeski adiou o projeto por mais quatro anos.
Agora o partido é outro, mas a pergunta é a seguinte: vacinado como está, ele por acaso não receia ver mais uma vez uma pré-candidatura sua frustrada por gestões de caciques partidários? O que lhe garante que, desta vez, a história no PDT será diferente, com um final feliz para ele?
Ora, em primeiro lugar, Majeski não tem o controle do novo partido. Longe disso. Para obter a legenda formalmente, terá de ter a candidatura aprovada pela Executiva Municipal do PDT, em convenção a ser realizada em julho ou no início de agosto. Mas essas coisas já costumam chegar resolvidas à convenção municipal. Na prática, o que ele precisa ter, antes de tudo, é a chancela dos dirigentes estaduais do PDT. Especificamente, precisa ter o aval irrevogável de uma certa autoridade regional.
Há partidos mais democráticos que outros. Alguns, simplesmente, têm “donos”. Embora tenha “democrático” no nome, o PDT, se não chega a ter um “dono”, tem sem dúvida um grande cacique no Espírito Santo: o xará de Majeski, Sergio Vidigal. Oficialmente, o prefeito da Serra não é quem exerce a presidência estadual do PDT. Há alguns anos, transferiu essa responsabilidade para seu braço direito político, Weverson Meireles, que responde formalmente pelo cargo. Há décadas, porém, com ou sem cargo de direção, Vidigal é quem de fato comanda o partido em território capixaba.
Ora, o prefeito da Serra é aliado histórico de Renato Casagrande, assim como o PDT é parceiro do PSB (no Espírito Santo e no país). O PDT está no governo Casagrande, ocupando a Secretaria de Estado de Turismo (Setur).
Na Serra, para se reeleger, Vidigal espera poder contar com a ajuda do PSB. Para isso, o partido do governador pode cobrar uma contrapartida em outros municípios vitais, como Vitória.
Na Capital, onde Majeski agora se lança pelo PDT, o PSB de Casagrande já acena com o próprio pré-candidato a prefeito: o deputado estadual Tyago Hoffmann. Em paralelo, outros aliados do Governo Estadual também têm seus pré-candidatos ao mesmo cargo. É o caso do já citado Luiz Paulo – presidente municipal do PSDB – e do deputado estadual João Coser – vice-presidente estadual do PT. Assim como o PDT, PSDB e PT estão no governo Casagrande.
Aqui estamos apenas fazendo conjecturas, mas vai que, lá na frente, os caciques partidários envolvidos nessas tratativas concluem que a candidatura de Majeski tira votos dos outros pré-candidatos aliados do Palácio Anchieta já estabelecidos… Nesse caso, não teria Majeski motivos para temer ser mais uma vez abatido em plena decolagem pelo “fogo amigo”, pelo “jogo bruto” jogado acima de sua cabeça e de sua vontade pelos dirigentes partidários?
Será que, lá nos idos de julho, muito longe do arbítrio do ex-deputado, o PDT não pode vir a compor com um desses partidos dessa miríade de aliados do governo Casagrande, removendo a candidatura de Majeski a prefeito ou quiçá buscando acomodá-lo como vice de algum deles?
A resposta de Majeski na entrevista ao EStúdio 360 exprime um misto de confiança com “escaldamento”. Ele reitera ter conversado pessoalmente com Sergio Vidigal, que este lhe deu a palavra de que o PDT bancará sua candidatura e que só decidiu entrar no partido mediante tal garantia e sob essa condição expressa.
“Na primeira conversa, no primeiro minuto da conversa, eu deixei claro: meu interesse em trocar de partido neste momento é a garantia para ser candidato a prefeito. Neste momento, se não for para isso, eu não tenho motivo nenhum para trocar de partido agora, não tenho essa urgência. Então isso eu deixei muito claro desde aos primeiros minutos da primeira conversa. Quando tivemos as nossas conversas finais, mais uma vez isso ficou estabelecido, e tive a garantia de que eu só não seria candidato caso eu mesmo desistisse. Essas últimas conversas foram na presença dele [Sergio Vidigal] e do Weverson [Meireles], que é o presidente formal do partido.”
Ao mesmo tempo, o ex-deputado parece reservar-se o direito de manter aquele 1% de desconfiança legítima.
“Como falei, gato escaldado tem medo de água fria. Nessas conversas que tive com o PDT, acho que não teve um ponto, e até aqueles mais mirabolantes, que eu não tenha questionado e ponderado junto a eles. E um dos pontos que questionei foi justamente este: ora, o PDT hoje é aliado do governo Casagrande. E se, lá na frente, o Casagrande disser: ‘Meu candidato é fulano, queria que vocês não lançassem candidato a prefeito’? Foi-me dito tanto pelo próprio Sergio [Vidigal] como pelo Weverson que eles não têm esse compromisso com o governo… que eles têm o compromisso de serem aliados do governo e tal, mas não existe nenhum compromisso de que o PDT não lance candidato ou retire candidatura em prol de um possível candidato do governador. Eu estou falando para você o que me foi garantido na ocasião, porque, muito obviamente, essa foi uma das minhas primeiras questões nas conversas com o PDT. Sou de uma época em que a palavra da pessoa vale. Então imagino que essa questão já esteja superada.”
A conferir se está mesmo superada e se desta vez Majeski enfim conseguirá dar o pulo do gato em Vitória. Ou se será abatido pela “água fria amiga” em pleno salto.
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